Luiza Andaluz (1877-1973): uma educadora que merece ser revisitada

Dina Mª Batalha Henriques, SNSF

“Entre o passado que se afasta e o futuro que nos aguarda,  está o presente onde temos deveres a cumprir”
(Luiza Andaluz, 1966)

No dizer de Luiza Andaluz, fundadora da congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, a educação torna mais completos os dons de Deus. De facto, foi o sentido de perfectibilidade do ser humano, compreendido por referência a Jesus Cristo, que a levou a empenhar-se na causa educativa e transmitir às novas gerações o que de melhor recebeu e tinha.

A sua vida demonstra que é do ser educado que surge o ser educador. Usufruiu dos seus próprios pais e de diferentes preceptoras (a primeira inglesa e as outras duas alemãs) uma educação esmerada. A sua mãe, americana, influenciada por correntes pedagógicas inovadoras ensinou as filhas a ocuparem de forma útil o tempo, a valorizarem a expressão artística e motora e a estarem atentas aos problemas sociais. O seu pai, português, governador civil, ensinou-lhes a retidão moral também na liderança. Pode-se dizer que usufruíram de uma educação integral em que se entrecruzavam as dimensões literária, religiosa e moral e onde o convívio e lazer se enlaçava com o necessário esforço e a dedicação.

Em 1891, com apenas 14 anos, colaborou numa escola para crianças pobres no Convento das Capuchas, em Santarém. Pacientemente vai introduzindo novos métodos, como é exemplo a cartilha maternal João de Deus. Viu este projecto ser destruído em 1910 ao serem expulsas as religiosas. Não desistiu e voltou a reabri-la, em 1914, num outro local perante o olhar crítico dos republicanos. A partir de 1915 a sua atividade educativa se expandirá a Lisboa coadjuvando a diretora da Obra da Escola da Igreja de S. Luís dos Franceses. Sob a orientação discreta dos padres e irmãs Vicentinas, integrou a associação filhas de Maria, onde mulheres leigas se empenharam em fundar escolas que facultavam uma educação cristã quando a legislação era marcadamente anticlerical e exigia o ensino neutro. A elas se deve a existência, em plena primeira república, de mais de uma dezena de escolas católicas situadas no centro da cidade de Lisboa e nos arredores.

Após a fundação da congregação em 1923, Luiza continua a fundar e a colaborar no surgimento de mais de duas dezenas de novas instituições socioeducativas, localizadas não só em Santarém e em Lisboa, mas também em Évora, Redondo, Viana do Alentejo, Portalegre, Extremoz, Coimbra, Almeirim, Muge, Caldas da Rainha. Nos finais da década de 1930, priorizando a possibilidade de formação à vida religiosa de quem lá trabalhava, muitas destas instituições serão entregues a outras congregações religiosas ou a leigos. Na década de 1940 Luiza foi pioneira na fundação dos Centros Sociais: Golegã, Porto, Ericeira, Benedita, Valado dos Frades, assumindo também o do Entroncamento.

Nessas instituições o seu pensamento educativo se evidencia: educar com as famílias, independente das suas ideologias ou religião, tendo em vista a educação integral dos seus filhos, que inclui não só a vertente do ensino propriamente dito, mas também o treino de habilidades (por exemplo a formação feminina) e principalmente o desenvolvimento moral que era orientado por princípios cristãos. Tinha como horizonte o empenhamento na sociedade. Educava para formar pioneiras/os do bem que imitassem o mestre divino no seu bem fazer e que interviessem na família, na sociedade e no mundo. Fazia-o pelo seu testemunho de firmeza e coerência na vivência dos valores onde se destaca a caridade e a fé, a humildade e a simplicidade, a alegria, a determinação e a verdade. Não se omitia de orientar, ensinar e amparar, mantendo uma presença educadora extremamente atenta mas que promovia a autonomia e respeitava a privacidade.

A educação possibilita o encetar um caminho de aperfeiçoamento de cada ser humano e, consequentemente da humanidade. Tal só é possível pelo amor. Luiza Andaluz, percebeu que não há educação sem amor, entendido como doação de si e viveu-o na intimidade e identificação com Jesus Cristo, como o expressa em finais de

1932 ao terminar o seu noviciado: “quero ser como trigo moído que os Sacerdotes consagram, e assim cristificada dar-me às almas em alimento forte que é Cristo”.

Reconhecia que os dons que tinha eram de Deus e a Ele os desejava entregar:

“tantos dons repartiste comigo numa generosidade incomparável (…). Tudo quero restituir –Te para que tudo disponhas como melhor te aprouver, e só quisera ter mais para mais depor a Teus pés” (Luiza Andaluz, oração de Consagração, 1930). A fé impeliu-a, num mundo que sofria profundas mudanças, a assumir a responsabilidade de educar, pondo ao serviço do bem comum os seus dons.

Também o nosso mundo está envolvido por constantes mudanças. Revisitar a missão educativa de Luiza Andaluz desafia-nos a que não nos omitamos da responsabilidade de educar. Isto é, que transmitamos às gerações futuras o que de melhor temos e que fomos elaborando a partir do que recebemos das gerações que nos precederam.

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