Louvor e memória no final de um ano

Homilia de D. António Marto no Santuário de Fátima Chegados ao termo de um ano e prestes a começar um novo, deixemo-nos inspirar pela página evangélica que acabámos de ouvir. Fala-nos dos pastores que “foram sem demora a Belém e encontraram Maria, José e o Menino deitado numa manjedoira” e partiram como mensageiros da novidade de Cristo, glorificando e louvando a Deus. Fala-nos também de Maria, a Mãe, que “guardava todas estes acontecimentos, meditando-os no seu coração”. É um texto vivo e actual para nós hoje e nesta hora. Os pastores e Maria precedem-nos, interpretam-nos, envolvem-nos e convidam-nos a partilhar os sentimentos do seu coração. O Evangelho dá-nos a graça de fazer nossos o louvor dos pastores e a memória com que Maria guarda e medita os acontecimentos. 1. Louvor e memória no final de um ano São precisamente estes sentimentos que devem caracterizar a conclusão deste ano que passa: – o louvor, que é a expressão mais natural da gratidão ao Senhor por todos os dons que, na Sua grande bondade e na sua incansável misericórdia, concedeu a cada um de nós, às nossas famílias, aos outros, à Igreja e à humanidade; – a memória, que consiste em guardar, na nossa mente e no nosso coração, todos esses dons para que eles possam desenvolver todo o potencial que encerram de bem e de fecundidade, não só para hoje mas também para amanhã. No recolhimento e no silêncio da oração pessoal, cada um de nós poderá encontrar os motivos particulares para dar graças a Deus e para recordar as ressonâncias em nós suscitadas pelas maravilhas que o Senhor realizou em nosso favor. O cântico do Te Deum, que entoaremos, quer dar voz comunitária e alegre a este louvor e memória de toda a Igreja e de todos nós. 2. Com a bênção de Deus iniciamos um novo ano Contudo, ao terminar o ano, queremos suscitar e alimentar no nosso coração outros sentimentos. Não basta reviver o louvor grato dos pastores e a memória meditativa de Maria. É preciso, na consciência da nossa fragilidade, exprimir o nosso arrependimento, implorar a misericórdia de Deus. O Te Deum leva-nos a alimentar estes sentimentos quando nos faz cantar: “Tem piedade de nós, Senhor, tem piedade”, “A tua misericórdia esteja sempre connosco”. Imploramos, pois, o dom da Misericórdia para nós, para a Igreja e para toda a humanidade. Daqui nasce a confiança e o abandono filial em Deus, a esperança na sua ajuda, a certeza do seu Amor terno e fiel, para hoje e para o tempo que há-de vir. É este amor que nos é revelado e comunicado pelo Filho eterno de Deus que se fez homem como nós e para nós, no seio da Virgem Maria. É este amor que faz palpitar o pequeno – e imenso – coração do Menino de Belém, ícone da condescendência de Deus para com a fragilidade e a fraqueza do homem, ícone da misericórdia salvífica de Deus para com o homem pecador. No rosto deste Menino resplandece a glória do Pai – o esplendor do Amor do Pai – que quer ilumina o rosto de cada homem e entrar no seu coração. É com esta bênção que o Senhor nos introduz no novo ano, assegurando-nos a sua protecção, a sua paz e a sua alegria. Retomando as palavras de bênção da primeira leitura, desejo dirigir-me a cada um de vós com estes votos de bênção, graça e paz para o novo ano: “O Senhor te abençoe e te proteja; o Senhor faça brilhar sobre ti o Seu rosto sorridente e te dê a Sua graça; o Senhor dirija para ti o olhar do Seu rosto e te dê a paz”. Ámen! Aleluia! Santuário de Fátima, 31 de Dezembro de 2006 + António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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