Legislativas 2019: Cardeal D. António Marto lamenta elevada abstenção e pede aposta na área social

«Solidariedade é um dos pontos fulcrais da política de um país», disse bispo de Leiria-Fátima

Foto: Santuário de Fátima

Fátima, 12 out 2019 (Ecclesia) – O bispo de Leiria-Fátima disse hoje esperar que a nova legislatura “traga paz social”, com estabilidade e maior atenção à solidariedade “com os mais pobres, os mais frágeis”, alertando para a abstenção e a “onda de populismo”.

“A solidariedade social é um dos pontos fulcrais da política de um país e, pelos ecos que chegam das instituições, estão a sentir-se em dificuldades para poder prestar assistência a todos aqueles que as procuram e têm de responder”, afirmou D. António Marto, esta tarde em Fátima.

Na conferência de imprensa de abertura da peregrinação internacional de outubro ao santuário mariano, o bispo de Leiria-Fátima explicou que algumas instituições de solidariedade se “sentem asfixiadas” e exemplificou com o “reduzido subsídio que dão para as pensões”, “carências económicas para os filhos” que originam “desigualdades sociais” e “algumas são gritantes, escandalosas, sobretudo as pensões mínimas”.

O cardeal português sublinhou que o problema da abstenção “denota um défice democrático” e “desinteresse pela coisa pública”.

“É a própria democracia que está em jogo. A democracia não é um dado adquirido, vai-se construindo com o contributo de todos e todos os dias temos de trabalhar para a manter diante das ameaças que chegam diariamente através das ondas de choque populistas”, desenvolveu.

D. António Marto declarou que “votar é o exercício de um direito” mas também uma “obrigação moral” e destacou a necessidade de “elevação da qualidade da atividade politica para não se contentar com slogans superficiais”.

O vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa elogiou ainda a “maneira cívica” como correram as eleições legislativas de 6 de outubro.

Fazemos votos de que esta nova etapa nos traga paz social, estabilidade, maior atenção à solidariedade social para com os mais pobres, os mais frágeis, vulneráveis, e para com as instituições de solidariedade, que a eles mais se dedicam”.

O bispo de Leiria-Fátima defendeu que a “classe política deve mostrar que tem classe”, uma frase que já tinha usado, mas acrescentou que a sociedade civil também deve “mostrar o seu empenho na construção quotidiana de mais e melhor democracia”.

“Nota-se no povo um desinteresse”, lamentou, considerando que a atividade política precisa de “dar um salto na atenção aos problemas”, que ponha o bem comum acima do “bem particular ou partidário, que sejam fieis às promessas, e não usem “demagogias e sejam próximos daqueles que os elegem”.

D. António Marto optou por não se referir especificamente a “este ou aquele partido” eleito para a Assembleia da República, mas alertou para os populismos que se estão “a espalhar pela Europa e merecem atenção particular”.

“Não basta responder com slogans, análises superficiais, mas procurar fazer reflexão profunda, objetiva, científica, sobre as situações que provocam estes populismos, também ação de formação e iluminação das consciências”, dinâmica na qual as Igrejas também devem participar.

Foto: Agência ECCLESIA/HM

A Peregrinação Internacional Aniversária de 12 e 13 de outubro a Fátima evoca a última aparição de Nossa Senhora aos Pastorinhos em 1917.

D. António Marto falou aos jornalistas sobre a nova frente de guerra contra os curdos, na Síria, numa ofensiva militar da Turquia.

“Abre-se uma feridade que já se jugava curada e criou uma situação de crise humanitária”, lamentou.

O cardeal saudou ainda a canonização da Irmã “Dulce dos pobres”, religiosa brasileira, e do cardeal Newman, este domingo, no Vaticano.

Já o reitor do santuário lembrou que o acolhimento dos peregrinos e as peregrinações são a principal atividade pastoral que vive um “tempo de estabilização” depois do centenário das aparições em 2017; nos últimos nove meses, a Cova da Iria recebeu “cerca de 4 milhões e meio de peregrinos”, que participaram em 7658 celebrações.

O padre Carlos Cabecinhas realçou que o “momento marcante” deste ano pastoral foi a participação da imagem de Nossa Senhora de Fátima na Jornada Mundial da Juventude no Panamá, em janeiro, onde também teve um programa próprio.

Este domingo, o arcebispo do Panamá vai anunciar a “construção de um santuário dedicado a Nossa Senhora de Fátima na capital do país centro-americano, cujo núcleo será “uma replica da Capelinha das Aparições”.

A peregrinação internacional aniversária ao Santuário de Fátima é presidida pelo arcebispo de Seul, o cardeal Andrew Yeom Soo-jung, este sábado e domingo.

CB/OC

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Agência ECCLESIA

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