Jovens NEET e Millenials – o presente comprometido e o futuro bloqueado?

José Luís Gonçalves

Os sinais de alerta não são recentes, mas o problema parece ter-se agravado entre os anos 2000 e 2016: o número dos jovens NEET – sigla inglesa para designar os jovens dos 15 aos 34 anos que não trabalham, não estudam nem estão em formação – passou de 11% para 20,8% em 16 anos, registando-se, em 2016, mais de 300 mil jovens desocupados. Representam, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), 13,2% do total de 2,279 milhões de jovens do país. A par da taxa de desemprego jovem entre os 15 aos 24 anos – que em 2016 se situou em 28% -, este número constitui motivo de alerta social.

Se somarmos a estes dados aqueles provenientes do relatório Education at the Glance de 2016 (OCDE), verifica-se que mais dos 20% – portanto, um em cada cinco jovens portugueses entre dos 15 e os 29 anos – não trabalhava nem estudava. Uma análise mais fina permite ainda perceber que a percentagem dos jovens com mais de 24 anos que não concluíram o secundário nem está a estudar é de 35%, evidenciando-se uma das mais altas da OCDE (21% em média). O maior número de jovens desocupados situa-se na faixa entre os 24 e os 29 anos.

As explicações para este fenómeno devem ser encontradas num conjunto de fatores interligados, mas sobressaem duas razões principais: por um lado, e apesar dos espetaculares avanços na redução da taxa de insucesso e abandono escolar registada em Portugal nos últimos 30 anos, o número de jovens entre os 18 e os 24 anos que deixa de estudar sem completar o secundário, em 2017, continua a situar-se acima dos 12% – portanto, dezenas de milhares de jovens abandonam anualmente o sistema de ensino; por outro lado, e embora verificando-se melhorias recentes, a taxa do desemprego jovem continua elevada, com quase 151 mil nestas condições na faixa etária dos 25 aos 34 anos de idade.

Os sociólogos denominam os jovens nascidos entre os anos 1980 e 2000 como Millenials (ou Geração Y), ou seja, aquelas e aqueles que carregam, sobre os ombros, a responsabilidade de terem sido a geração mais bem preparada do país tendo sido criada a expectativa de poderem usufruir de um nível de vida mais próspero que o das gerações anteriores. Acontece que, para muitos, tal não se verifica. Sem emprego estável e/ou remuneração compatível com o seu nível da sua formação, esmorecem as possibilidades de poderem traçar projetos de vida a médio prazo, como constituir família ou adquirir habitação, por exemplo. Uma geração inteira amarrada ao presente, a multiplicar “experiências” e a projetar “expectativas” sempre por concretizar. Uma geração nascida na era tecnológica, que vai gerindo a frustração e a ansiedade e que, nas suas características, é diferente da anterior.

Estes dois grupos diferentes de jovens adultos – os NEET e os Millenials – que têm o presente comprometido e o futuro bloqueado, personificam um desafio sério à nossa solidariedade intergeracional como nação e, porque não, como civilização ocidental. Estes dois grupos mereciam maior atenção por parte das políticas públicas e também da pastoral da Igreja. Porque, sem nos darmos conta, estamos a forjar silenciosamente uma outra sociedade…

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