João Paulo II: Cardeal português no Vaticano traça perfil de um homem bem-humorado, sensível e de profunda espiritualidade

José Saraiva Martins, que iniciou o processo de beatificação do Papa polaco, recorda as anedotas, o «afeto extraordinário» e as orações fora de horas

Lisboa, 27 abr 2011 (Ecclesia): João Paulo II era bem-humorado, afável, sensível e de profunda espiritualidade, considera o cardeal português José Saraiva Martins, que durante sete anos manteve um relacionamento próximo com o Papa nascido em 1920 na cidade polaca de Wadowice.

Em entrevista a ser transmitida sexta-feira às 22h45, no programa da ECCLESIA na Antena 1, o prelado de 79 anos recorda com uma gargalhada o “bom humor” e as “anedotas” de Karol Wojtyla, especialmente nas viagens de avião.

A par da boa disposição, João Paulo II era uma pessoa próxima: “Considerava o seu interlocutor como uma pessoa igual a ele”, refere o cardeal que entre 1998 e 2008 dirigiu o departamento do Vaticano encarregue dos processos que investigam a vida dos fiéis propostos para serem beatos e santos.

O religioso pertencente à Congregação dos Missionários Claretianos traz à memória “fotografias comovedoras” das deslocações apostólicas do Papa, nas quais se revela o “afeto extraordinário” com que “abraçava os mais pobres e as crianças”.

Wojtyla esteve “sempre ao lado do homem porque era um santo”, assinala o prelado, que acrescenta: “Muitas vezes concebemos a santidade como uma realidade que se contrapõe à humanidade. É um erro terrível porque entre ambas não há nenhuma oposição. Ao contrário: é a plenitude”.

O Papa polaco “parecia só ter uma preocupação: defender a dignidade do homem e os seus direitos fundamentais”, salienta o prefeito emérito da Congregação para a Causa dos Santos, que nesta qualidade assinou o documento de abertura do processo de beatificação de João Paulo II.

A celebração realiza-se no Vaticano este domingo, 1.º de maio, dia do trabalhador e data em que a Igreja Católica assinala a memória de São José Operário, o pai adotivo de Jesus que, segundo a Bíblia, foi carpinteiro.

Saraiva Martins considera que o calendário é “providencial”: Wojtyla foi operário “antes de abraçar a carreira sacerdotal”, pelo que “será um trabalhador a subir aos altares”.

Para o prelado, João Paulo II era “um grande místico” que “vivia de uma fé profunda, autêntica genuína e não abstrata”: “Sempre admirei nele o espírito de oração contagioso”, diz.

“Acontecia muitas vezes que, nas viagens a um país, enquanto os membros da comitiva papal iam para os seus quartos descansar, ele ia para a capela rezar”, o mesmo acontecendo pela noite e ao amanhecer.

O prelado português lembra também a ligação de João Paulo II a Portugal: “era um Papa mariano” e “devotíssimo de Fátima”, onde se deslocou três vezes durante o pontificado exercido entre 1978 e 2005, ano da sua morte.

Maio marcou a história de Wojtyla: em 1981, no dia 13, o turco Ali Agca disparou contra o Papa quando se deslocava numa viatura aberta que percorria a Praça de São Pedro, no Vaticano.

O cardeal português realça que João Paulo II “atribuiu sempre a sua salvação a Nossa Senhora de Fátima”, dado que a 13 de maio de 1917 ocorreu a primeira aparição mariana na Cova da Iria.

No primeiro aniversário do atentado, o Papa polaco fez a primeira de três visitas ao santuário, tendo oferecido a bala alojada no seu corpo, que foi incrustada na coroa da imagem da Virgem Maria.

A beatificação é a liturgia que propõe uma pessoa como modelo de vida e intercessor junto de Deus e autoriza o seu culto público na Igreja Católica.

RM

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