II Concílio do Vaticano: Entre as expectativas criadas e as mudanças ocorridas

O II Concílio do Vaticano inaugurou uma nova forma de estar em Igreja, na qual a intervenção do laicado se torna muito mais ativa e decisiva. Este acontecimento convocado pelo Papa João XXIII e continuado pelo Papa Paulo VI teve uma importância extrema no catolicismo contemporâneo nas áreas do social, político e cultural.

O II Concílio do Vaticano inaugurou uma nova forma de estar em Igreja, na qual a intervenção do laicado se torna muito mais ativa e decisiva. Este acontecimento convocado pelo Papa João XXIII e continuado pelo Papa Paulo VI teve uma importância extrema no catolicismo contemporâneo nas áreas do social, político e cultural.

A cooperativa «Pragma» que foi fundada por um grupo de católicos a 11 de abril de 1964, um ano depois da publicação da encíclica de João XXIII, «Pacem in Terris» é um exemplo desse impacto. No livro «Entre as Brumas da Memória – Os católicos e a ditadura» da autoria de Joana Lopes (uma das associadas da cooperativa), na sua recensão José Pedro Castanheira (Jornal «Expresso»; de 03 de março de 2007) escreve que a obra começa com o II Concílio Vaticano e a encíclica «Pacem in Terris». Mas para Joana Lopes, o concílio foi “um dos grandes motores de tudo” quanto se relata.

Datada de 1963, a encíclica de João XXIII encorajou um grupo de «católicos progressistas» (como ficaram conhecidos) a passar à ação na sociedade em que viviam. Assim nasceu o boletim clandestino «Direito à Informação» e a cooperativa «Pragma», “ambos liderados por Nuno Teotónio Pereira – um nome presente em quase todo o livro, juntamente com o de João Bénard da Costa e José Manuel Galvão Teles.

Tendo sido anunciado no final da década de 50 e decorrido, com algumas interrupções, entre 1962 e 1965 – convocado e liderado por João XXIII e depois por Paulo VI – o concílio constituiu uma “marcante novidade, pela sua raridade na história do catolicismo e pela sua pertinência para um campo católico que se confrontava com a rápida mutação das sociedades ocidentais”. (In: Jorge Revez “«Os vencidos do Catolicismo» – Militância e Atitudes Críticas (1958-1974)”; Lisboa; Centro de Estudos de História Religiosa).

Do Vaticano vinham “gestos anunciadores duma profunda mudança na mentalidade eclesiológica”. Entre estes, avultavam os relacionados com a problemática da “pobreza da Igreja, na linha das Bem-Aventuranças” e a “viagem de Paulo VI a Jerusalém” (In: Nuno Estêvão; «O Tempo e o Modo. Revista de Pensamento e Ação (1963-1967)»; Separata de Lusitânia Sacra, 2ª série (6), 1964).

O II Concílio do Vaticano representou, para alguns setores católicos, “a esperança de um rejuvenescimento, de uma forma quase urgente de diálogo entre a Igreja e o mundo, agora entendido, na sua formulação moderna, com expectativas de mudança e de uma clara procura da adaptação das velhas estruturas religiosas, nas quais a Igreja Católica, no Ocidente, poderia ser apresentada como exemplo mais nítido”. (In: Jorge Revez “«Os vencidos do Catolicismo» – Militância e Atitudes Críticas (1958-1974)”; Lisboa; Centro de Estudos de História Religiosa).

A receção do concílio, que ainda hoje se apresenta como um amplo espaço de debate e problematização histórica, “foi marcada por uma certa desilusão, um desajuste sentido por alguns, entre as expectativas criadas e as mudanças ocorridas”, lê-se na obra de Jorge Revez. E acrescenta. “Não pelo discurso conciliar em si, (…) mas sobretudo pelas consequências reais do desejado aggiornamento da Igreja”.

LFS

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