II Concílio do Vaticano: As sombras negras da ignorância religiosa em Portugal

No ano que começou o II Concílio do Vaticano, D. Abílio Augusto Vaz das Neves, Bispo de Bragança e Miranda, escreveu uma nota pastoral onde coloca a nu o panorama do ensino religioso e a formação cristã em Portugal.

No ano que começou o II Concílio do Vaticano, D. Abílio Augusto Vaz das Neves, Bispo de Bragança e Miranda, escreveu uma nota pastoral onde coloca a nu o panorama do ensino religioso e a formação cristã em Portugal.

Datada de 06 de março de 1962, o documento do prelado começa logo por caracterizar a sociedade de então. “O mundo dos nossos tempos, como o do tempo de Jesus Cristo, é um mundo que vive afastado de Deus, que não O reconhece como seu princípio e fim e se orienta apenas pela inteligência humana, pela técnica e pelos interesses puramente materiais e temporais”.

D. Abílio Augusto Vaz das Neves – foi também um dos participantes na magna assembleia realizada no Vaticano de 1962 a 1965 – reconhece que apesar dos esforços da Igreja por elevar o nível religioso do país, “a ignorância religiosa” é um dos “mais tristes sintomas e ao mesmo tempo um dos principais fatores de descristianização” (Cf. Neves, D. Abílio Augusto Vaz das – «Ecos de Amor e Apostolado»; Edição Particular, 1969)

Na nota intitulada «O Ensino Religioso e a Formação Cristã», o prelado de Bragança-Miranda lamenta que a ignorância religiosa atinja “todas as idades e todas as classes” e que as mais elementares verdades do catecismo “são desconhecidas da maioria dos católicos confessos e quiçá praticantes, e tal desconhecimento é tanto mais lamentável quanto mais contrasta com a subida do nível da instrução geral da população portuguesa” (Cf. op. cit. Página 380).

Ao traçar o estado do catolicismo português na década de 60 do século XX, D. Abílio Vaz das Neves revela que das 500 mil crianças existentes em Portugal naquela altura, “50% não frequentam a catequese”, portanto – acrescenta o prelado – “cerca de 100 mil entram todos os anos na adolescência, sem qualquer formação religiosa, pelo menos com deficiente formação”.

Depois d fazer um estudo e leitura do mapa de ensino religioso e formação cristã na diocese de Bragança-Miranda, o prelado escreve que “não pode deixar de envergonhar e entristecer a todos, especialmente aos responsáveis pela formação da infância e da juventude, que são as esperanças” da diocese transmontana. (cf. op. Cit. Página 392).

D. Abílio Vaz das Neves (Ifanes, Miranda do Douro, 8 de junho de 1894 – Macedo de Cavaleiros, 1974) mostra-se preocupado com a falta de formação religiosa na juventude e escreve na nota pastoral: “Tememos e trememos pelo futuro espiritual do torrão brigantino que se orgulha de ser cristianíssimo”.

Neste contexto e com o II Concílio do Vaticano à porta, o bispo de Bragança-Miranda convida todos os responsáveis e as forças vivas da diocese a “uma campanha ativa, apostólica, zelosa, para remover, a todo o custo, as sombras negras de ignorância religiosa que cobrem a maior parte da infância, da juventude e adultos” daquele território eclesial.

LFS

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