Igrejas de Beja abraçam «Formas do Som»

3º Festival Terras sem Sombra de Música Sacra do Baixo Alentejo chega ao fim e conta já com público fiel “Terras sem sombra”, o festival que dia 24 encerrou a sua terceira edição aposta em ligar a música e o património, “dois aspectos de grande importância cultural”, regista à Agência ECCLESIA, José António Falcão, director do Departamento Património Histórico e Artístico da Diocese de Beja (DPHA). Ao longo das suas edições, o Festival Terras sem Sombra de Música Sacra do Baixo Alentejo, abriu portas de edifícios históricos com grande interesse artístico mas que habitualmente se encontram fechadas, e que geralmente não têm culto permanente, “dando a possibilidade de abrir e dar a conhecer um património que já não é muito conhecido hoje”, regista o director do DPHA. Não se trata de fazer espectáculos em igrejas. Há o cuidado de escolher “igrejas que ou foram já recuperadas ou se encontram em vias de recuperação com boas condições acústicas”, estabelecendo a ligação entre o património e o festival. Por outro lado o festival confere a possibilidade de descentralizar a cultura. A oferta não se prende ao nível de um ciclo de espectáculos mas obedece a uma programação muito coerente e propôs, nesta terceira edição, “um diálogo entre os instrumentos e a voz humana, onde se foi criando uma história da música”. Diálogo com as formas do som foi a aposta deste ano. Aposta ganha porque se começa a vislumbrar um público fiel que acompanha sistematicamente os espectáculos. “Simultaneamente damos às pessoas referências, bases críticas para que não se limitem a uma audição”. A maioria dos concertos são acompanhados por comentários, introduções e elementos bibliográficos. O fim da terceira edição do Festival Terras sem Sombra foi mesmo assinalado com o lançamento do CD Lachrimae #1. Numa zona que está afastada de uma prática cultural, “estamos a enraizar hábitos culturais” e a ir ao encontro de uma população mais desfavorecida do ponto de vista do acesso à cultura. O festival conta também com a particularidade de ser itinerante, não se concentrando apenas num monumento mas percorrendo vários pontos. A Igreja Matriz de Santiago do Cacém é um palco especial, uma vez que “tudo começou nesta igreja”, explica José António Falcão. O projecto foi pensado tendo em conta a Matriz de Santiago do Cacém porque “foi recuperada e valorizada após um estado excessivo de degradação”. As condições acústicas, acrescidas à carga simbólica, conferem à Igreja Matriz um papel especial no festival. Dois espectáculos importantes a nível musical foram reservados para duas igrejas com características acústicas únicas: a Basílica Real de Castro Verde, onde se realizou o concerto de abertura, e a Igreja Matriz de Santiago do Cacém que encerrou o Festival. Chegar à terceira edição do espectáculo é uma aposta na continuidade. “Fazer concertos é relativamente fácil, o difícil é depois estabilizar”, sobretudo delineando a programação com um fio condutor e com o carácter pedagógico que pretendem. “Queremos que o que se faça possa perduar”, dá conta o director do DPHA. A adesão das pessoas ao festival é “muito significativa”. Tendo em conta que “não falamos de salas de espectáculo”, mas antes de igrejas que conferem uma dimensão diferente ao espectáculo, “mas que contaram sempre com casa cheia”, relembrando, por exemplo, o concerto na Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, em Beja, em que várias pessoas tiveram de se acomodar no altar, de pé, ou à volta dos músicos. O festival tem-se pautado por um nível de qualidade musical. Não basta mudar o local do concerto dos grandes centros urbanos, “temos como principal preocupação a qualidade e a pedagogia”. O povo alentejano tem um enorme fascínio pela música, “sobretudo no Baixo Alentejo” e a organização do festival regista uma enorme adesão e acrescenta que “quando os espectáculos têm qualidade, as pessoas entusiasmam-se e participam”. Prova da mobilização foi um dos concertos programados ter lugar numa igreja que se encontra fechada todo o ano, “onde nem o pároco tinha costume de entrar” – a Igreja Matriz de Santa Cruz, em Almodôvar, precisamente na Serra de Almodôvar. “Foi arriscado porque o local fica longe da própria povoação, encontra-se fechado, logo as pessoas não o conheciam e foi espantoso ver que pessoas a pé, de bicicleta, de camioneta se deslocaram para encher a igreja e ouvir o concerto”, relembra, mostrando o interesse mobilizador das pessoas, “sendo este um caso paradigma de descentralização cultural feita através da colaboração entre a diocese, o Estado e os municípios”. As propostas culturais não estão encerradas. “Estamos muito apostados em alguns projectos”, explica José António falcão. As exposições temporárias prevêem continuidade. “É um momento privilegiado de contacto com o público”. Com o apoio do governo regional da Galiza está agendada para Julho uma exposição “Caminhando sob as estrelas – Santiago e a Peregrinação a Compostela”, a ter lugar na Igreja matriz de Santiago do Cacém. Conta essencialmente com peças da Catedral de Santiago e também de vários museus galegos, completadas com peças de igrejas e museus portugueses. Outros projectos “em desenho”, nomeadamente a possibilidade de abrir as Igrejas da diocese, “pois há muitas que se encontram fechadas”. Com os cerca de 200 voluntários dão corpo e tempo a esta dinamização cultural, pretendem apostar na formação para abrirem as Igrejas que se encontram encerradas, “colmatando a lacuna e dando a possibilidade de conhecer o património religioso”. Porque uma realidade chama. O número de turistas tem aumentado no Baixo Alentejo, “ao contrário de algumas regiões que registam uma crise”. Se os números são animadores “há que dar respostas a essa procura, pois as pessoas sendo crentes ou não querem conhecer as nossas igrejas”, finaliza.

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