Igreja/Turismo: Santos Populares são «face visível» de valores cristãos nas ruas do país

Padre Miguel Neto destaca importância de valorizar atividade turística na vida da Igreja e da sociedade, com contributo dos migrantes

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 07 jun 2024 (Ecclesia) – O diretor da Pastoral do Turismo-Portugal (PTP), da Igreja Católica, considerou que as celebrações dos Santos Populares, ao longo do mês de junho, são uma “face visível” dos valores cristãos, nas ruas do país.

“É o cristianismo cultural e a celebração dos valores judaico-cristãos na nossa cultura”, disse o padre Miguel Neto, convidado da entrevista conjunta Ecclesia/Renascença, publicada e emitida aos domingos.

O sacerdote da Diocese do Algarve considera que a fé “pode e deve cheira a manjerico”, junto das pessoas que se reúnem para estas celebrações.

“Isso é algo que é muito importante valorizar cada vez mais: os valores cristãos não são para estar fechados dentro da igreja, não são para só alguns intelectuais cristãos ou teólogos os valorizarem”, aponta.

O responsável católico assinalou que estas celebrações populares ajudam a valorizar “zonas não tão exploradas do turismo de massa”, pela sua “capacidade de ser genuínas”.

Para o diretor nacional da PTP, é possível ver o turismo como “porta de entrada na fé cristã, como parte do anúncio da primeira evangelização”.

“É muito importante usar estes campos, onde há uma mescla entre fé e convívio, identidade local, para fazer o seu anúncio e demonstrar que a Igreja não é uma Igreja fechada, mas é uma Igreja aberta a todos e que faz parte da nossa identidade”, acrescentou.

O padre Miguel Neto considerou que é preciso “alterar mentalidades”, no terreno, para assegurar essa abertura de portas e o acompanhamento de quem chega, nas paróquias, valorizando o seu património.

O sacerdote fala do turismo como “indústria da paz”, que ajuda a “compreender as outras culturas”.

Apontando ao futuro, o entrevistado anuncia um trabalho em conjunto com o Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja e com o Turismo de Portugal, para “fornecer alguns subsídios para as pessoas que vão fazer as peregrinações”, adaptando o material existente em “suporte informático”.

A entrevista aborda a preocupação com a sustentabilidade ecológica da atividade turística, registado uma “preocupação genuína”, em Portugal, para a preservação dos vários espaços, na lógica proposta pela encíclica ‘Laudato Si’, do Papa Francisco.

Questionado sobre casos de “turismofobia”, em várias cidades europeias, o padre Miguel Neto entende que o caso português tem caraterísticas próprias, dada a dependência económica do setor.

“A diferença de números da parte económica da indústria do turismo para a indústria mais seguinte é muito flagrante e se não for a indústria do turismo, temos aqui um dilema”, assume.

O sacerdote convida a valorizar o contributo dos que procuram Portugal para uma vida nova, destacando que, no Algarve, “se não fossem os imigrantes não havia trabalhadores para o turismo”.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

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