Igreja/Media: Mundo da comunicação precisa de mais «humanismo» – D. Nuno Brás

Presidente da Comissão Episcopal responsável pelas Comunicações Sociais destaca importância de dar espaço à realidade local e assume preocupação com a guerra na Ucrânia

Foto Agência ECCLESIA / MC

Funchal, Madeira, 21 mai 2023 (Ecclesia) – O presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, D. Nuno Brás, considera que falta “humanismo” ao mundo mediático, muitas vezes refém de polémicas e das audiências.

“Precisamos de colocar muito mais de humanismo e muito mais de humanidade frente àquilo, por exemplo, que são os domínios das audiências”, refere o bispo do Funchal, convidado da entrevista semanal Ecclesia/Renascença, emitida e publicada semanalmente aos domingos.

O responsável católico faz eco dos alertas lançados pelo Papa na sua mensagem para o 57.º Dia Mundial das Comunicações Sociais, que se celebra hoje, contra uma “retórica belicista”.

“Esta questão belicista, que aparece agora de uma forma muito clara em relação à guerra na Ucrânia, é uma linguagem que está presente constantemente na Comunicação Social”, adverte D. Nuno Brás, para quem esta linha de pensamento “reduz a realidade ao preto e branco, a um contraste, reduz a realidade a uma luta entre pessoas”.

O bispo do Funchal mostra ainda uma particular preocupação com o mundo das redes sociais, “onde toda a gente diz tudo quanto lhe apetece, sem qualquer responsabilidade”.

O presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais admite que, da parte de muitos jornalistas, “falta conhecer a linguagem” específica da Igreja Católica.

“Todos acham que podem fazer uma peça sobre a vida da Igreja ou sobre a vida da fé, sem terem estudado minimamente, sem estarem por dentro da linguagem, porque tudo é igual a tudo”, indica.

O responsável entende que existe uma “limitação confrangedora” de linhas editorais e “um seguidismo entre escolas de comunicação”, vendo nisso uma ameaça à “liberdade de imprensa”.

Assumindo-se como “adepto da regionalização”, por causa da experiência que encontro na Madeira, o bispo do Funchal explica que “o facto de haver meios de comunicação regionais leva a que haja um conjunto maior de sujeitos e de objetos noticiosos”.

D. Nuno Brás sublinha, nesse sentido, a importância da imprensa regional, para que as várias realidades locais, centrais para a vida de muitas pessoas, possam “aparecer neste ambiente mediático”.

O responsável, vice-presidente da COMECE – Comissão dos Episcopados Católicos da União Europeia -, assume a preocupação com o impacto da guerra na Ucrânia e diz que entre os bispos deste organismo há “pessimismo” quanto a uma solução, a curto prazo.

“Há a preocupação de ninguém estar a fazer tentativas de paz. Esta é uma preocupação muito grande, porque não se percebiam, nem se percebem propriamente ainda, caminhos de paz, caminhos possíveis de paz”, precisa.

Francisco, acrescenta, parece ser “o único que que está a fazer esta tentativa de pacificar, de fazer parar as armas que já soam há demasiado”.

‘Falar com o coração: Testemunhando a verdade no amor’, inspirado numa passagem da carta de São Paulo aos Efésios (Ef 4,15), é o tema escolhido pelo Papa Francisco para a mensagem do 57.º Dia Mundial das Comunicações Sociais, em ligação ao de 2022 – ‘Escutar com o ouvido do coração’ – e insere-se no processo sinodal 2021-2024.

“Aquilo que me parece ser já uma realidade adquirida, pelo menos para a grande maioria, é esta dimensão sinodal da vida da Igreja, que é a dimensão do próprio povo de Deus e que nos aparece sempre no Concílio Vaticano II”, declara D. Nuno Brás.

Para o novo presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, a mensagem do Papa “vai muito para além daquilo que é uma comunicação limitada à técnica, ao saber dominar, para ir para uma noção de comunicação que podemos dizer mais humana”.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

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