Igreja/Açores: D. Armando Esteves convida a superar cultura individualista, seguindo espiritualidade «nascida do Senhor Santo Cristo»

Bispo de Angra elogia religiosidade dos açorianos, em todas as ilhas do arquipélago e na diáspora

Ponta Delgada, Açores, 14 mai 2023 (Ecclesia) – O bispo de Angra convidou hoje os peregrinos das celebrações do Senhor Santo Cristo dos Milagres, na ilha açoriana de São Miguel, a superar uma cultura individualista, elogiando a religiosidade dos que vivem no arquipélago e na diáspora.

“A coesão social depende muito dos bons ou maus vizinhos, dos olhares atentos ou alheios. Mais ainda, no essencial trata-se de amadurecer uma diversa visão antropológica já inscrita na humanidade de Cristo: passar de um eu individual e egoísta, tendencialmente fratricida ou pronto a dizer mal, a um eu inclusivo e hospitaleiro; sair de um modo de viver concentrado sobre si mesmo, para criar espaço dentro de si para o outro”, declarou D. Armando Esteves, na homilia da Missa a que presidiu no campo de São Francisco.

As Festas do Senhor Santo Cristo mobilizam milhares de pessoas, entre micaelenses, emigrantes e devotos do resto da região autónoma e do país.

“O seu primeiro milagre, do Senhor Jesus aqui representado, a quem chamamos com tanto carinho o nosso Santo Cristo, é precisamente esta comunhão planetária proporcionada pelos meios de comunicação social – digitais ou mesmo nas redes – que fazem de nós uma sinfonia de irmãos, todos ligados a este nosso belo arquipélago dos Açores”, indicou o bispo de Angra, que presidiu a estas celebrações pela primeira vez.

A reflexão partiu do tema das celebrações em 2023, ‘Jovem, eu te ordeno: levanta-te!’, sublinhando que Jesus “pode tirar esperança do desespero e vida da morte”.

“Há na espiritualidade nascida aqui, das dores e cruz do Senhor Santo Cristo, um fio de ouro que une todos os seres e todas as coisas criadas”, assinalou o responsável católico.

O bispo de Angra disse que esta espiritualidade abre “um coração novo e olhos novos”, que contraria a “filosofia do sucesso e da eficiência, que obriga à competição permanente, a uma lógica que exclui e mata, mata todo o diferente e não produtivo”.

“A cultura que manda ir além do limite esquece que, aí não há perfeição, mas antes desumanização”, advertiu.

O povo açoriano deixou que desta imagem irradiasse um amor contagiante, uma esperança de vida feliz, mesmo nos sacrifícios, uma luz que leva a ver o sofrimento como graça e não castigo. E isto contempla-se no rosto do Senhor, vê-se espelhado no olhar, atitude, respeito de quantos silenciosamente o olham e se deixam olhar”.

D. Armando Esteves saudou, em particular, os açorianos da diáspora, que “levam consigo a sua fé e fazem nascer as mesmas tradições, onde vivem, levam uma boa notícia”.

No final da Eucaristia, o bispo de Angra voltou a dirigir-se à multidão: “Convoco-vos, nesta bênção final, a continuarmos a ser testemunhas desta bela Igreja de Jesus Cristo”.

O responsável católico assinalou o primeiro dia da Semana da Vida, repetindo o lamento com a aprovação da lei da eutanásia, que o Papa deixou este sábado, antes de afirmar que “só quer morrer aquele a quem não se dá a alegria de viver”.

No coração, não deixo de levar o desafio à defesa e construção da vida, em cada pessoa, não abstrata, em cada vizinho, em cada amigou ou inimigo, em cada um onde a vida parece menos. Não podemos permitir que um comprimido nos substitua”.

Este sábado, os peregrinos celebraram a mudança da imagem do Convento da Esperança para o Santuário, no Campo de São Francisco; a procissão começou com o toque do provedor da Irmandade do Senhor Santo Cristo dos Milagres na ‘porta regral’ do Convento da Esperança, na qual recebeu a Imagem das mãos das irmãs zeladoras, comunidade contemplativa das Irmãs do Bom Pastor.

A Missa campal desta manhã é um dos pontos altos da festa do Senhor Santo Cristo, cuja imagem vai percorrer esta tarde as ruas da cidade de Ponta Delgada, ao longo de várias horas, uma tradição secular na região.

O percurso passa pelos antigos conventos da cidade e algumas igrejas paroquiais, percorrendo ruas cobertas de tapetes de flores; em 2023, a imagem sai à rua com uma capa oferecida pela Irmandade do Senhor Santo Cristo de Brampton, no Canadá.

A imagem foi oferecida por Paulo III (Papa entre 1534 e 1549) ao primeiro grupo de religiosas Clarissas que quis fundar um convento em São Miguel, tendo-se deslocado a Roma para pedir a respetiva autorização.

OC

Foto: Lusa

A celebração deste ano presta atenção particular às novas gerações, apontando à Jornada Mundial da Juventude que Portugal recebe em agosto.

“Jovens, ensinem-nos a correr e a desinstalar as nossas comunidades, mas, lembrai-vos, isto só se faz por dentro, não ficando fora, a ver e a criticar. Já estamos a olhar para os tempos que se seguirão à Jornada Mundial da Juventude”, apontou.

“Peço, peçamos todos os Senhor Santo Cristo, que vos faça jovens generosos e cheios de projetos. Cristo precisa de vós! A Igreja e a sociedade precisam de vós!”, apontou D. Armando Esteves.

O bispo de Angra presidiu, na última madrugada, a uma Missa dedicada à Juventude, na igreja de São José, com a presença da Imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres.

“Centrai a vida em Jesus, tenham a Sua palavra no coração, façam da caridade um ideal de vida e não fujam às provações”, referiu, numa intervenção citada pelo portal ‘Igreja Açores’.

O responsável encorajou os jovens a participarem na Jornada Mundial da Juventude e anunciou que no dia 24 de julho presidirá a uma Eucaristia de envio dos jovens açorianos, no topo da Montanha do Pico.

 

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