Idosos: Uma enfermaria onde há um «desassossego positivo»

Padre António Santana, responsável pelos sacerdotes jesuítas doentes, fala da realidade de cuidar dos “avós da comunidade”

Foto: Padre António Santana – AE/SN

Lisboa, 06 dez 2019 (Ecclesia) – A enfermaria dos sacerdotes jesuítas do centro inaciano do Lumiar, em Lisboa, acolhe os padres doentes e está situada no último andar de um colégio, dando um “desassossego positivo”.

Na enfermaria dos  jesuítas estão atualmente cinco sacerdotes, em situação de doença.

“Nesta comunidade de jesuítas existe uma ala adaptada à enfermaria, os padres que estão numa fase delicada de saúde, sejam mais idosos ou mais novos, mas que necessitem de cuidados médicos por algum motivo”, explica o responsável, padre António Santana, à Agência ECCLESIA. 

A enfermaria  tem acompanhamento médico, curiosamente um antigo aluno do colégio, e de enfermagem permanente, ali vivem “todos juntos”, uma vez que ao lado, seguindo o mesmo corredor, vive a “comunidade dos jesuítas com vida mais ativa”.

O padre António Santana é, há dois anos, o superior do centro inaciano do Lumiar, em Lisboa, e coube-lhe a responsabilidade da enfermaria, sendo uma realidade com que estava sensibilizado.

“Tirei o curso de engenharia agrícola, em Évora, e vivi numa casa de uma senhora velhinha e aquele ambiente acho que me formou sem saber que um dia Deus me iria pedir para tomar conta deles; além disso fiz muitas vezes voluntariado, enquanto jovem em lares de idosos”, conta.

O responsável acompanha os padres doentes a consultas e exames, cuida e faz-se presentes, tenta ainda, na fase final da vida de cada um, “fazer a diferença”, dando a perceber que está presente e reza.

“Cuido daqueles que estão no fim da vida, que eu sinto como que são os nossos avós aqui em casa, que já viveram a sua experiência apostólica e que têm uma grande memória da Companhia de Jesus de outros tempos”, afirma.

O silêncio pauta aquele corredor longo e aquecido percorrido na companhia deste sacerdote e ouve-se a campainha do colégio seguido do barulhos dos alunos.

Foto: AE/SN

“Este é um desassossego positivo porque cria dinamismo, o mundo continua a correr, os padres lá em baixo continuam a trabalhar no colégio e estes padres mais velhinhos participam aqui de cima, vão sentido e ouvindo falar do colégio”, justifica.

A meio do corredor encontramos o padre Afonso que regressava de uma consulta e dá conta do seu estado de doença ao sacerdote responsável pela enfermaria, à Ecclesia mostra como se sente feliz ali. 

“Nunca estive tão bem instalado na Companhia de Jesus como agora; em todas as casas se descansa bem, não há balbúrdia nem zaragatas, mas aqui é diferente, tenho uma varanda e isso facilita estar sentado com conforto, isso é bom!”, disse.

Neste tempo de advento os sacerdotes vão fazendo o seu “processo interior até ao Natal” e em comunidade são proporcionados momentos de oração comunitária e na noite e dia de Natal os momentos são de união. 

“É uma noite de desassossego também pelos ritmos diferentes da casa, a nossa celebração tem sempre desassossego neste aspecto, há um padre mais velhinho que tem Alzheimer e que se quer levantar a meio da celebração porque perde a noção de onde está, naquela noite o Menino vai nascer nisto tudo, nasce em todos nós na condição em que estamos e assim há um desassossego que nos destabiliza a todos”, conta o padre António Santana.

O responsável referiu ainda que “não há um liturgia certinha”, todos cantam apesar de haver desafinanços, mas naquele desassossego estão “todos a rezar juntos sossegados porque é uma noite especial”.

Os cuidados necessários aos sacerdotes de idade avançada e o sossego em que vivem são mote para os programas Ecclesia desta semana de advento, na Antena 1 da rádio pública, pelas 22h45.

SN

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