Fraternidade

José Aníbal Barreiros, Diocese de Coimbra

Fraternidade é o caminho do amor. É olhar para o próximo com compaixão, acolher sem julgamentos, doar sem interesse e sentir a dor do outro como se fosse a de si mesmo. No fundo, a mensagem é simples: somos todos iguais e devemos amar os nossos irmãos e irmãs assim como Jesus amou. Sem barreiras, distinção de cor, etnia, género, classe social ou qualquer outro motivo. A fraternidade está presente desde os primeiros tempos da Igreja. Usada primeiro para falar do círculo de parentes próximos, a palavra “fraternidade” designava então as relações estreitas que unem aqueles que, sem serem irmãos, se tratam como irmãos, depois o amor universal que une todos os membros da família humana. A fraternidade refere-se ao sentimento de solidariedade e amizade, entre os membros de uma associação, irmandade ou nação, entre o homem e o universo. A noção de fraternidade permite, assim, construir solidariedades a partir da família, até a humanidade como um todo. A fraternidade familiar permite construir, além do bem individual, o bem de “todos nós”, o bem comum. A dimensão relacional que já estava presente em Laudate si, com o conceito de ecologia integral, ganha aqui mais força, onde a caridade é a pedra angular. O Papa Francisco diz, claramente, em Fratelli tutti: “A caridade precisa da luz da verdade que constantemente procuramos e esta luz é ao mesmo tempo a da razão e da fé, sem relativismo”. Assim se compreende a amizade social associada à procura do bem comum. Mais do que a solidariedade, a amizade social é inseparável do reconhecimento de uma “fraternidade universal e radical”. Baseada no amor entre as pessoas, encontra o seu fundamento na fraternidade, porque somos todos filhos do mesmo Pai, que une homens e mulheres na igualdade e no amor.

O Papa Francisco quis dedicar a sua encíclica “à fraternidade e à amizade social”(§2). Ele constatou que esta é uma emergência do nosso tempo. Com efeito, as nossas sociedades perderam a homogeneidade que as caracterizou, e que confirmam que é muito mais fácil viver numa sociedade homogénea, porque assim existem menos razões para haver guerra. Quando todos compartilham os mesmos valores num país, tudo é mais simples. Mas é um facto que vivemos em sociedades cada vez mais heterogéneas em termos dos valores profundos que dão sentido à vida. Isto é uma das maiores razões para divisões, tensões e até guerra. E isso é certo: se não encontrarmos os caminhos da fraternidade e da amizade social, iremos em direção a tensões cada vez mais incontroláveis. O nosso lema é amarmo-nos uns aos outros. É a razão pela qual devemos aceitar a heterogeneidade. Portanto, não temamos a nossa identidade cristã. A fraternidade não se opõe à identidade, já que a fraternidade é a nossa identidade enquanto cristãos. Isso faz os cristãos serem reconhecidos como discípulos de Cristo. Pelo amor fraterno que teremos uns pelos outros, testemunhado todos os dias, onde quer que estejamos, seremos identificados como fraternos.

Fratelli tutti convida-nos a reconhecer a fraternidade e a dignidade humana. Relativamente à dignidade humana devemos destacá-la, em duas perspetivas: como atributo essencial da pessoa e, ligada ao reconhecimento, na relação com o outro. Então exige a união desses dois atributos, levando a uma fraternidade aberta que permita reconhecer, valorizar e amar cada pessoa, independentemente da proximidade física, independentemente do lugar onde nasceu ou vive (FT).

A fraternidade universal requer, então, construir e manter uma comunidade de pertença e solidariedade além dos limites físicos, mentais ou morais. Para o Papa Francisco, a fraternidade baseia-se na amizade social, como fundamento da dignidade humana. Sejamos o eco deste sentimento!

José Aníbal Barreiros
(membro da Comissão Diocesana Justiça e Paz) 

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