Francisco/2.º aniversário: Pontificado tem sido «concílio permanente», diz cardeal-patriarca

D. Manuel Clemente fala em trabalho «providencial»

Lisboa, 11 mar 2015 (Ecclesia) – O cardeal-patriarca de Lisboa elogiou o espírito de diálogo que tem marcado os primeiros anos do pontificado de Francisco, eleito a 13 de março de 2013, e o estilo de liderança do Papa argentino.

“Isso é muito próprio desta ‘governance’ do Papa Francisco, que tem como objetivo levar e ir com a Igreja no sentido da proposta evangélica, da exigência que isso implica para quem tem responsabilidades, mas não o que fazer sozinho”, referiu D. Manuel Clemente, num balanço destes dois anos.

Segundo o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, criado cardeal a 14 de fevereiro, o Papa tem promovido vários momentos de reflexão, como os sínodos dos bispos ou os consistórios, em que procura “ouvir” e, assim, comprometer também quem fala.

Francisco criou um Conselho de Cardeais, com membros dos cinco continentes, para o aconselharem no Governo da Igreja e na reforma da ‘Constituição’ do Vaticano, e aprovou legislação para regular a atividade financeira do pequeno Estado e da Santa Sé, com uma nova Secretaria para a Economia.

“Isso é muito típico, é o que está a ressaltar destes dois anos de trabalho providencial do Papa Francisco. Ele quase que faz um concílio permanente”, sublinha.

Aquando da estadia em Roma, para o consistório em que foi criado cardeal, D. Manuel Clemente ouviu um dos participantes dizer que “nunca na história da Igreja nenhum Papa foi tão aconselhado como este”.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, antes desta reunião de cardeais, o patriarca de Lisboa sublinhava que o atual pontífice tem escolhido como novos cardeais “bispos dos vários continentes que se aproximam muito do Papa Francisco, num estilo pastoral simples, direto, muito próximo das suas populações, muito evangélico”.

“À sua maneira, sul-americana, com o que tem de imediatismo, de simplicidade e até espontaneidade, provocando perplexidades, o Papa Francisco tem sido muito refrescante”, acrescentou.

D. Manuel Clemente explica que quando o Papa foi eleito e apareceu na varanda da Basílica de S. Pedro, dizendo que os cardeais o tinham ido buscar “ao fim do mundo”, essa era uma referência relativa à Europa.

“Na América Latina está uma grandíssima percentagem do catolicismo mundial. Assim, o que é hoje periférico em relação ao catolicismo, a Europa ou a América Latina? Com esta eleição colocou-se a periferia no centro”, explica o cardeal-patriarca.

Antes da eleição de Francisco, natural da Argentina, o último Papa não-europeu tinha sido São Gregório III, da Síria, que liderou a Igreja Católica entre 731 e 741.

Jorge Mario Bergoglio foi eleito a 13 de março de 2013 como sucessor de Bento XVI, que renunciou ao pontificado, escolhendo o inédito nome de Francisco; é também o primeiro Papa jesuíta na história da Igreja e o primeiro pontífice sul-americano.

Em 24 meses de pontificado, o Papa Francisco visitou o Brasil, a Terra Santa, a Coreia do Sul, a Albânia, a Turquia, o Sri Lanka, as Filipinas e a cidade francesa de Estrasburgo, onde passou pelo Parlamento Europeu e o Conselho da Europa; realizou também sete viagens em Itália, incluindo uma passagem pela ilha de Lampedusa e uma homenagem no centenário no início da I Guerra Mundial.

Entre os principais documentos do atual pontificado estão a encíclica ‘Lumen Fidei’ (A luz da Fé), que recolhe reflexões de Bento XVI, e a exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’ (A alegria do Evangelho), tendo ainda iniciado um Sínodo sobre a Família, em duas sessões, com consultadas alargadas às comunidades católicas: uma extraordinária realizada em outubro deste ano, e outra ordinária, que vai decorrer este ano, de 4 a 25 de outubro.

OC

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