Europa: Igreja Católica critica desigualdade económica que «ameaça coesão social e ordem democrática»

Responsáveis das comissões Justiça e Paz estiveram reunidos em Lisboa

Bruxelas, 10 fev 2016 (Ecclesia) – As comissões da Conferência Justiça e Paz Europa publicaram hoje um texto sobre a realidade económica e tributária no Velho Continente, onde criticam a desigualdade visível entre ricos e pobres.

No documento, enviado à Agência ECCLESIA, os organismos denunciam “o estilo de vida excessivo e insustentável” que atualmente é levado a cabo “por uma minoria” de pessoas e que “contrasta” de forma “absoluta” com “as necessidades dos mais carenciados”.

“O aumento da pobreza, a par desta concentração excessiva de riqueza, é eticamente injusto e representa uma ameaça não só para a coesão social mas também para a ordem democrática”, escrevem os membros da Conferência Justiça e Paz Europa, na qual Portugal também está representado.

Aliás, o texto intitulado “Crescimento da desigualdade económica e tributária – Um desafio para a Europa e para o mundo” foi divulgado depois da última reunião geral da Conferência Justiça e Paz Europa, que decorreu entre 5 e 7 de fevereiro em Lisboa.

Na ocasião, os secretários-gerais de todas as CNJP da Europa tiveram ocasião de falar com o cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, sobre os desafios da Igreja Católica e da sociedade em Portugal.

Sobre a economia e a distribuição de riqueza, os signatários da publicação sublinham a provação que vai constituir “a integração do número considerável de migrantes” que estão a chegar ao Velho Continente.

“Mudar de rumo implicará a definição de regras e leis assentes na generosidade e numa solidariedade universal”, bem como de instrumentos que promovam “um contributo fiscal mais ajustado por parte do setor financeiro, das grandes empresas multinacionais e das pessoas mais abastadas”.

No decurso da sua reflexão, os responsáveis pelas comissões da Conferência Justiça e Paz Europa citam a encíclica do Papa Francisco, “Laudato Si”, para recordar que “o problema da desigualdade não está a colocar apenas em causa as sociedades europeias mas é uma questão grave a nível global”.

“Atualmente um porcento da população mundial detém 50 por cento de toda a riqueza do globo, e oitenta pessoas congregam tanto poder económico como os 50 por cento mais pobres, ou seja, 3,6 biliões de pessoas”, pode ler-se.

Quanto à realidade na Europa, hoje “sete milhões de cidadãos” conseguem rivalizar economicamente com os restantes “662 milhões” do Velho Continente.

“Uma economia que não cuida dos mais vulneráveis mas os exclui tem como base a indiferença e a falta de misericórdia. Será também insustentável a longo prazo”, apontam os responsáveis católicos, que pedem “medidas políticas” para alterar o panorama.

Da sua parte, os membros das 31 comissões Justiça e Paz da Europa comprometem-se a “monitorizar” os respetivos governos no sentido de assegurarem a efetiva aplicação de medidas que visem combater a desigualdade e a evasão ou fraude fiscal.

Soluções como o projeto BEPS, adotado pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) em 2015 e que visa acabar por exemplo com a transferência de lucros, por parte das empresas multinacionais, para jurisdições com regimes fiscais mais favoráveis.

JCP

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