Três linguagens ecuménicas, a mesma vivência da espiritualidade cristã no nosso país O ecumenismo sempre esteve presente na vida de Alexandra Figueiredo, ou não tivesse crescido no meio de uma família católica. Enquanto Alexandra e a sua irmã são protestantes, os seus pais são católicos. “Estar envolvida noutras actividades de uma Igreja que não a dos meus pais, tem-me feito crescer, não apenas na fé, mas como pessoa”, explica Alexandra Figueiredo à Agência ECCLESIA. Ter exemplos católicos “ensinou-me a melhor forma de trabalhar na minha Igreja”. Alexandra Figueiredo afirma não lhe fazer “confusão nenhuma”, participar em celebrações diferentes da igreja que participa habitualmente, “ e sinto-me muito bem em igrejas católicas”. O inverso também acontece. “Quando convido os meus pais para os cultos, não se sentem à parte”, pois, concretiza Alexandra, “os momentos de celebração que nos separam não são tão visíveis”. Aos cinco anos, Alexandra Figueiredo começou a frequentar a Escola Dominical da Igreja do Montijo, distrito de Setúbal. O seu compromisso ditou o seu envolvimento com o Departamento de Juventude. Recentemente casou com um pastor da Igreja Presbiteriana e actualmente integra a Pastoral da Juventude e o grupo que prepara o Fórum Ecuménico Jovem assim como alguns momentos de oração ecuménicos ao longo do ano. O movimento ecuménico compreende membros da sua Igreja, mas também da Católica, a Lusitana e a Metodista, mantendo encontros ao longo de todo o ano. Alexandra Figueiredo relembra, quando ainda pequena de participar igualmente em celebrações no natal ou na Páscoa. “No Natal, os protestante não têm missa do galo, mas temos um culto no Dia de Natal”. Os ritos são muito semelhantes, aponta, recordando o presépio e a árvore de Natal. O que separa um católico de um protestante “são questões burocráticas”, afirma Alexandra Figueiredo. Em celebrações de Natal ou da Páscoa “não se notam as diferenças”. “A Palavra que nos foi deixada é a mesma, e é essa Palavra que é usada em todos os momentos”. A vivência familiar ecuménica pode ter sido determinante para assumir a unidade dos cristãos como fundamental na sua vida. “Mas há pessoas muito empenhadas no ecumenismo que não passaram pelo mesmo”, evidencia. É uma tarefa complicada, mas um desafio que agarro com muita vontade”, assume Alexandra, pois “faz-me sentir que vale a pena”. O caminho do ecumenismo deve ser feito “com todos”, mas Alexandra Figueiredo admite que se os jovens estando mobilizados “se mais fácil congregar as restantes pessoas”. Os entraves do caminho “não põem em causa o dever do ecumenismo”. Mas “há que mudar muito nas Igrejas, com vista à união que Deus nos fala”. De qualquer forma os passos já dados “são uma mostra clara do que pode ser feito”. Sérgio Alves, da Igreja Lusitana, ramo da Comunhão Anglicana em Portugal, pertence também ao movimento ecuménico. Por tradição familiar Sérgio Alves começou a participar da Igreja Lusitana, mas também porque frequentou a escola primária, ligada à Igreja na paróquia de Salvador do Mundo, em Vila Nova de Gaia. Na Igreja fez todo o percurso desde o baptismo, frequentou a catequese, os grupos de jovens, os campos de férias, e acampamentos, e participou de peregrinações a Taizé. Os compromissos levaram-no à liderança do Departamento da Juventude e à participação na estrutura organizacional da Igreja Lusitana. Sérgio assume que a abertura às outras Igrejas “é uma vocação intrínseca da Igreja Lusitana”, que entende a caminhada ecuménica como “parte da sua missão, não apenas uma área de trabalho”. Com base nesse mandato a Igreja Lusitana mantém caminhos de aproximação, de conhecimento e reconciliação com as outras confissões cristãs. Um caminho nem sempre fácil, pois “a diversidade é uma riqueza”. Mas a confrontação que põe em causa a tradição e a identidade faz parte do caminho ecuménico. Deve, por isso, ser percorrido na busca da “unidade na diversidade, mas também no aprofundamento da identidade de cada Igreja”, explica o Sérgio Alves. A experiência do membro da Igreja Lusitana na equipa de preparação dos Fóruns Ecuménico Jovem “tem sido um caminho muito positivo”. O conhecimento que aprofunda a partir da diversidade, o caminho que é feito a partir dos jovens “e na base”, vai envolvendo depois “as hierarquias”, são pontos positivos que destaca. O movimento ecuménico tem sido “fundamental no meu próprio discernimento de fé”, explica. Este caminho que confronta Sérgio Alves com a diferença, “sendo da própria natureza humana rejeitarmos a diferença”, dá uma perspectiva multi religiosa da sociedade e marca “tanto o meu dia a dia como a minha fé”. Irene Moreira, católica, recorda o primeiro contacto que, em 1993, teve com pessoas de outras igrejas cristãs. Passado cinco anos, através do Secretariado Diocesano Porto da Pastoral Juvenil, “tive o meu primeiro contacto tangível com outras igrejas cristãs em Portugal”. Desse contacto recorda como estranhas lhe pareceram “as diferenças: uma Pastora, um Bispo casado, não cantarmos cânticos marianos, a oração do «Pai Nosso» deles”. A partir daí, quer a curiosidade quer a busca de uma resposta para a justificação das divisões, criaram a vontade de participar na construção de uma nova história, “numa história de comunhão e partilha na identidade cristã”. Uma construção onde Irene tem participado, através da representação do Secretariado Diocesano da Pastoral Juvenil da Igreja Católica no Grupo Ecuménico Jovem do Porto. Estes encontros têm proporcionado “um diálogo”, convidando os participantes “para o enriquecimento na alteridade”. Irene Moreira tem apostado neste caminho, e foi neste espírito que integrou a comitiva de portugueses que participou no 3º Encontro Ecuménico Europeu, em Sibiu, na Roménia, no passado mês de Setembro de 2007. Da Roménia trouxe o desafio de dar a conhecer a Carta Ecuménica e integrar esta dimensão ecuménica na catequese, na comunidade, na formação de todos os cristãos. Irene assume a sua participação quer nos Encontros Europeus quer na visita à Comunidade em Taizé, como “uma fonte para a minha caminhada ecuménica”.