«Foi uma evangelização silenciosa, a nova evangelização através de sinais, de encontros e convívios», disse D. Filomeno Vieira Dias
(Tiago Azevedo Mendes, enviado especial da Agência Ecclesia a Luanda)
Luanda, 20 ago 2021 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST) afirmou que a peregrinação dos símbolos da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) – a cruz e o ícone de Nossa Senhora – foi “uma introdução forte, uma intervenção com gindungo”.
“Foi uma evangelização silenciosa, a nova evangelização através de sinais, de encontros e convívios. Foi um estimular este caminho que a Igreja em Angola está a fazer preparando as jornadas mundiais 2023. Foi uma introdução forte, uma intervenção com gindungo, piripíri e valeu a pena”, disse D. Filomeno Vieira Dias em declarações à Agência ECCLESIA.
Os símbolos da Jornada Mundial da Juventude peregrinaram pelas dioceses angolanas durante 40 dias, desde 8 de julho até 17 de agosto.
A Cruz Peregrina e o Ícone de Nossa Senhora “Salus Populi Romani” foram recebidos na Arquidiocese de Luanda e passaram pelas dioceses do Sumbe, de Benguela, Huambo, Menongue, no extremo sul do país, Cuito-Bié, Lubango, Viana e Caxito, antes de regressarem à capital angolana para a festa e celebração de despedida.
Para o arcebispo de Luanda e presidente da CEAST, que presidiu à Missa de acolhimento dos símbolos, esta peregrinação foi um momento “esperado com muita ansiedade e muita expectativa”, e o “único senão” foi a pandemia Covid-19 porque não fizeram “uma receção como estava no coração das pessoas, como desejavam”.
D. Filomeno Vieira Dias lembrou o “esforço” que fizeram para as pessoas não tocarem na cruz, “queriam tocar porque a fé é mais do que racional, é muito natural, muito físico, sem negar a naturalidade da razão”, e destaca que viram uma “redescoberta do sentido da cruz”, não como um sinal de abandono, “um instrumento de sofrimento, mas como forte sinal de esperança” e algo que transmite vida.
O presidente da CEAST recorda que quando a cruz quando chegou à Diocese do Sumbe, uma passagem circunstancial que não estava bem prevista a paragem, “para sair foi necessário um pequeno exercício para acalmar as pessoas” e explicar que a cruz também ia para outros lugares, e quando estava no Huambo as pessoas no Lubango disseram “mas está aqui tão perto, porque não chega cá” e fizeram uma viagem de mais de “400 quilómetros, numa estrada não toda asfaltada”.
“Mais espetacular, o arcebispo do Huambo acompanha a cruz até Menongue, antiga Serpa Pinto, ainda hoje essas terras do leste e sudeste de Angola estão muito isoladas pela distância, pelas dificuldades das vias de comunicação, pelo esquecimento por causa da guerra, e a cruz ter chegado lá foi simplesmente maravilho e espetacular”, acrescentou.
Segundo o padre Armando Pinho Alberto, diretor do Secretariado Nacional da Pastoral Juvenil – CEAST, a peregrinação dos símbolos da JMJ ajudou “a revitalizar este dinamismo da pastoral juvenil”, para a preparação da Jornada Mundial da Juventude 2023, e “foi um momento especial”.
“Muitos jovens que participaram das jornadas têm visto de longe estes símbolos e foi uma oportunidade de verem de perto, fazerem parte daquela experiência acumulada de orações de milhares, de milhares de jovens. Sentiram-se mais próximos na espiritualidade ligados à própria Igreja universal, sentiram-se mais envolvidos nesta preparação rumo à JMJ Lisboa 2023”, desenvolveu.
O padre Armando Pinho Alberto explica que os jovens angolanos são uma “juventude que acredita, que tem fé, que batalha e passa por imensas dificuldades sociais, falta de emprego, de oportunidades para formação”, mas “motivada e com muita esperança para vencer”.
“É uma juventude que está envolvida dentro deste grande mistério que quer transformar o seu amanhã e conta com a graça de Deus para que isso aconteça. A Igreja tem tido um papel de vanguarda, um papel de esperança, que aposta na formação, dentro do que lhe é possível, um papel que sedimenta a fé dos jovens para não acreditarem no efémero”, acrescentou.
O presidente da Comissão Episcopal para a Juventude, Escutismo, Pastoral Vocacional e Universitária, da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), destacou que foi uma “grande responsabilidade criar um itinerário” para a peregrinação dos símbolos.
“Gostaríamos que abrangesse todas as dioceses mas não foi possível, por causa da pandemia e pelo cuidado com os símbolos, as estradas não estão boas em todas as localidades, e não quisemos entrar no mapa global com aqueles que os danificaram. E assim passaram em metade das dioceses durante 40 dias e 40 noites”, explicou D. Belmiro Chissengueti.
O bispo de Cabinda, que participou na JMJ de Paris, em 1997, recorda que “é quase impossível” estar com os símbolos, por isso, “tê-los na própria casa é um prazer enorme”.
“Foi bom termos tido essa oportunidade e entrarmos no mapa mundial dos mais de 90 países onde passaram os símbolos da jornada mundial, com a esperança de sermos um grande número em Lisboa, em 2023”, acrescentou.
Neste âmbito, o coordenador dos Escuteiros Católicos de Angola afirmou que foi “uma oportunidade única” e “um privilégio” servir o grupo que organizou a peregrinação da cruz e do ícone de Nossa Senhora no país lusófono.
“Uma renovação de esperança” foi a forma como o escutismo católico em Angola viveu esta ligação com os símbolos, assinala Gilberto Gil Lopes, lembrando que estão a recomeçar as atividades agora, por causa da pandemia Covid-19, e “veio dar outro ânimo aos jovens”, que “começaram a falar dos símbolos, das jornadas, todos recordaram o Papa João Paulo II e a sua presença em Angola”.
“Hoje nos sentimos um grupo unificado, jovens escuteiros e outros jovens, e penso que vamos traçar outros caminhos juntos: A próxima jornada nacional e a preparação da JMJ Lisboa 2023, foi importante trabalharmos juntos nesse processo e criar sinergias para os próximos encontros”, realçou.
Desta peregrinação, Gilberto Gil Lopes destaca a passagem dos símbolos pela Diocese do Sumbe e o “ato voluntário de fé que marcou muito, nos cânticos, na adoração, nas atividades de entrega”.
“Senti uma juventude católica viva, Não tinha noção da força da nossa juventude e sobretudo da crença que tem perante uma cruz, uma imagem de Nossa Senhora e quando se fala do Papa João Paulo II”, acrescentou o coordenador dos Escuteiros Católicos de Angola.
Em declarações à Agência ECCLESIA, D. Belmiro Chissengueti assinalou que Angola tem tido “a maior delegação africana” nas Jornadas Mundiais da Juventude e terminaram no dia 31 de julho umas pré-inscrições para contabilizarem o número de interessados em participar.
“Temos mais de 600 e serão muitos mais. Esperamos que a situação pandémica se torne endémica, que o acesso aos meios de cura e proteção estejam ao alcance de todos e possamos estar em Lisboa em grande número, queremos ter Lisboa como um lugar a dois passos de nós”, disse o responsável católico.
O presidente da Comissão Episcopal para a Juventude, Escutismo, Pastoral Vocacional e Universitária da CEAST explicou que a pandemia Covid-19, para além das limitações, permitiu criarem “novos espaços de evangelização da juventude” e, em Angola, as pessoas “acreditam e têm esperança na Igreja, que continue a ser a mola impulsionadora da transformação social, uma educação da consciência, da fé, na edificação do homem na sua plenitude”.
O padre Armando Pinho Alberto adiantou que a próxima etapa em Angola é passaram à fase das catequeses, “para dar o sentido desta peregrinação”, depois as reuniões específicas para preparar a viagem para Lisboa, no verão de 2023, entre outros encontros nacionais, a nível diocesano e paroquial.
Depois de Angola, os símbolos estão em viagem para a Polónia (21 de agosto a 1 de setembro) e regressam a Portugal no início de setembro, para começarem a peregrinar em Espanha (entre 5 de setembro e 29 de outubro), e o périplo pelas dioceses portuguesas realiza-se entre novembro e julho de 2023.
TAM/CB/PR