Ecumenismo: Fazer do «amor recíproco» a medida de relação entre as Igrejas cristãs é uma prática sinodal – Luís Parente Martins

Médico cardiologista participa há 40 anos em grupo comunitário que desenvolve ações sociais entre pessoas com diferentes percursos religiosos

Foto Paulo Lopes/CNAL, Luís Parente Martins

Lisboa, 17 jan 2022 (Ecclesia) – O médico cardiologista Luís Parente Martins disse que o processo de sinodalidade convocado pelo Papa Francisco apela a um regresso ao princípio do “amor recíproco” que Chiara Lubich preconizou no Movimento dos Focolares, convidando à unidade entre cristãos.

“O que o Papa Francisco está a fazer connosco é profético: pôr-nos a pensar sobre isto, a tentar mudar e a voltar à Igreja genuína, dos princípios, onde tudo era mais simples, onde os apóstolos eram o «tu» de Jesus e Jesus era o «tu» dos apóstolos. Neste «tu» não demagógico ou depreciativo, mas de fraternidade, encontramos a presença de Deus”, refere o médico cardiologista à Agência ECCLESIA.

Com uma ligação de 40 anos ao Movimento dos Focolares, Luís Parente Martins assume na sua vida profissional e pessoal a construção de “um mundo unido” e o amor recíproco como medida de relação, identificando estes modos de construção descobertos na juventude.

“Percebi que amar ou a (prática) religiosa não eram uma teoria: amar é dar a vida em gestos concretos, e percebi nas tardes de domingo que passei com os doentes em saúde mental, no Telhal, ou junto de outros que necessitavam de ajuda e atenção, numa preocupação diária e constante. Isto é algo que me deu satisfação, que me preenchia era algo que eu queria cuidar e ver crescer”, reconhece.

O médico lamenta que as “reuniões nas igrejas” que hoje acontecem, se limitem a “tratar de assuntos diversos” e sejam poucos “encontros, de facto”, afirmando que a essência do encontro cristão “está desvalorizada”.

“No meu grupo de preparação do encontro cristão participa uma pessoa evangélica americana que pergunta sempre «estamos a fazer isto para quê?», e isto põe-nos na linha. Percebemos que as pessoas têm missões diferentes mas não um estatuto diferente. Quando conseguirmos viver isto fazemos uma inversão e entramos na sinodalidade. Para mim o modelo é o Trinitário, onde o Pai tem as funções de pai mas não é mais do que o Espírito ou o filho”, indica.

Luís Parente Martins participa há cerca de 40 anos de um grupo comunitário que congrega diversos caminhos, juntando pais e filhos na pertença à Igreja, tendo desenvolvido, a partir daqui, projetos sociais construídos através da IPSS «Ponte», criada há 27 anos, e mais recentemente o projeto Pólo Social Manto, que junta a dimensão caritativa com a corresponsabilidade, a gratuidade e a integração na promoção social de pessoas com “diversas referências religiosas, outras sem nenhuma e algumas que se identificam como ateias”.

O grupo, localizado na paróquia de Algueirão-Mem Martins, desenvolve, este ano pela 12ª vez, o Encontro Cristão de Sintra, que na sua última edição juntou 50 Igrejas e comunidades cristãs, e este ano está agendado para 21 de maio, no centro Olga Cadaval.

“O encontro cristão é uma festa porque é uma festa de encontro de irmãos, que estão ali profundamente unidos para louvar a Deus, onde juntamos comunidades cristãs, protestantes, ortodoxos, evangélicos que agregam jovens adultos que na igreja católica encontramos menos”, explica.

“O que para nós é mais bonito são os encontros de preparação porque nos levam a ter um cuidado de escolher cada palavra que propomos; se alguma das Igrejas entende que uma palavra não traduz inteiramente a realidade que quer traduzir no encontro, então perdemos tempo a encontrar palavra semelhante para estarmos todos de acordo. Isto cria um clima de grande confiança e fraternidade”, acrescenta.

Luís Parente Martins entende estar na hora de uma “evangelização conjunta” entre as Igrejas cristãs.

“Até agora o ecumenismo fica pela oração e caridade conjunta. Penso que o passo seguinte é a evangelização em conjunto. É uma falta de sensibilidade, por exemplo, não entender que as Igrejas evangélicas através do canto têm a possibilidade de aproximar as pessoas de Deus com beleza. Na nossa experiência, na preparação do encontro cristão que mantemos há 12 anos, esta complementaridade é muito visível”, evidencia.

Na relação estabelecida entre as Igrejas cristãs, o médico cardiologista indica a desconstrução de “preconceitos” e barreiras porque significa que encontraram “o foco em Jesus”.

“Chiara Lubich (fundadora do Movimento dos Focolares) fala num ecumenismo do povo, ou seja, não discutimos sobre Teologia, mas temos por base a lógica do amor recíproco e isso significa que quando não estamos de acordo não estamos a afrontar, mas a acrescentar algo de diferente à nossa visão e ai surgem complementaridades”, assegura.

O percurso do médico cardiologista Luís Parente Martins vai estar em destaque esra semana no programa de rádio ECCLESIA, na Antena 1, pelas 22h45, ficando depois disponível online.

LS

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