Covid-19: Pandemia mudou a vida dos capelães hospitalares

«Sentimos que estamos bastantes distantes dos doentes», lamentou o padre Fernando Sampaio, do Hospital de Santa Maria

Foto: Lusa

Lisboa, 26 mar 2020 (Ecclesia) – O coordenador nacional dos Capelães Hospitalares e Assistentes Espirituais afirmou que todos estão disponíveis para estar com os doentes e os profissionais de saúde, adaptando-se a cada “realidade hospitalar”.

“São necessários muitos cuidados e estarmos atentos às chamadas que nos fazem, estarmos solidários com todos que estão na linha da frente que são uns heróis e com risco de ficarem doentes”, disse o padre Fernando Sampaio à Agência ECCLESIA

O sacerdote realçou que “não é fácil fazer assistência espiritual agora”, neste contexto da pandemia da Covid-19, assinalando que estes agentes pastorais “não podem tornar-se um problema” a acrescentar a todos os outros problemas, “sobretudo com doentes infetados”.

O padre Fernando Sampaio é capelão no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e adianta que permanecem a capela continua aberta e as pessoas “podem ir rezar quando querem”.

“Nesse sentido, atendemos as pessoas que nos interpelam ou podemos ir ter com elas a outro sítio, procuramos esta atentos e responder às chamadas que nos fazem mas o que sentimos é que estamos bastantes distantes dos doentes”, lamentou, observando que estão “todos a aprender a lidar com estas situações e no futuro poder lidar melhor”.

Capelão hospitalar há 33 anos, o sacerdote revelou que “o lado dos doentes e da solicitude dos doentes e da angústia que eles sentem” é um problema que também o “angustia muito”.

Sentimo-nos afastados dos doentes que estão sós de uma outra solicitude mais atenta à alma e às coisas, muitos nem estão visitados pelos familiares, não estão sós têm o pessoal, os profissionais”.

O coordenador nacional dos Capelães Hospitalares e Assistentes Espirituais assegura que quem precisa está “disponível para ir aos doentes, naturalmente adotando as medidas necessárias de proteção”, e para os profissionais de saúde também.

“Sentimo-nos impotentes em relação aos doentes”, sublinhou o padre Fernando Sampaio, assinalando que têm de “encontrar outras formas” de estar as pessoas, como “o atendimento pelo telefone” que é um recurso.

Em Barcelos, o capelão do Hospital Santa Maria Maior explicou que o plano de contingência obrigou “a mudar alguns hábitos e ritmos” mas tem estado com doentes e profissionais de saúde todos os dias, num serviço que faz sozinho desde o dia 6 de março, quando o “voluntariado teve de ser suprimido” e as duas enfermeiras que o integram o Serviço de Assistência Espiritual e Religiosa deixaram de ir.

“Continuei a visitar os doentes na zona do internamento todos os dias. Neste momento os serviços estão divididos em zona quente, onde há maior risco de eventual contágio mesmo ainda não havendo nenhuma confirmação, por uma questão de precaução, e estou condicionado a circular nas zonas frias. Ainda é possível ir a alguns serviços dessas zonas quentes, como aconteceu hoje de manhã a chamada à urgência”, disse frei Hermano Filipe.

O religioso capuchinho adiantou também que reduziu o número de visitas aos doentes, “foram canceladas algumas cirurgias menos urgentes e o número de pessoas que ficam internadas também é menor”, estando mais “nos corredores em oração” e “num pequeno gabinete, para atender alguns profissionais de saúde”.

Segundo o frei Hermano Filipe, os doentes internados “mais do que preocupados” com a pandemia do Covid-19 querem “regressar às suas casas em estar com aqueles que amam” e a visita do assistente espiritual é “para rezar com eles, dar a comunhão quando possível, de forma que os deixe felizes”, enquanto nos profissionais de saúde “nota-se uma grande diferença de há umas semanas”, “mais agitação mas também muita tranquilidade”, e nos corredores há quem peça ao capelão que reze por eles.

“No geral todos têm tentado fazer o que podem para que o ambiente também seja de esperança, sem otimismo exagerado, para tentarmos ultrapassar esta fase, naturalmente nos que são cristãos, que são católicos, nota-se esse dado da fé que tem ajudado; Os profissionais de saúde têm feito um trabalho extraordinário e multidisciplinar para ajudar na recuperação clinica e a compreender que é uma fase que vai passar e em breve vão regressar às suas famílias”, realçou o capelão do Serviço de Assistência Espiritual e Religiosa do Hospital Santa Maria Maior, em Barcelos.

Frei Hermano Filipe conta que tem vivido estes dias com “muita tranquilidade” e “em isolamento profilático há 12 dias” para proteger aos irmãos Capuchinhos da sua fraternidade que “são, na sua maioria, bastante idosos e com algumas complicações de saúde”.

“A minha vida tem sido hospital, quarto, quarto, hospital. Celebro a Missa sozinho às 23h00 na capela, como sozinho, geralmente almoço no hospital. Fora do hospital não tive contacto com ninguém, não conversei com ninguém”, explicou.

“A mim cabe-me estar no hospital de forma tranquila, orante e estar disponível para os profissionais de saúde e atendendo os doentes. E dedicado mais tempo à oração, concluiu o frade Capuchinho que “gostaria também de puder visitar os pais no Porto” e está “esperançado que, com o esforço coletivo de Portugal, que juntos”, se vai “ultrapassar esta fase”.

Entre os sacerdotes e nomeadamente os capelães hospitalares também são conhecidos casos de infeção pela Covid-19.

CB/OC

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