Covid-19: Cáritas assinala «situação preocupante» no acesso à habitação, em relatório sobre resposta à pandemia

Organização católica apoiou mais de 10 mil pessoas, com cerca de 250 mil euros, registando «procura crescente» de ajuda

Foto: Agência ECCLESIA/LS

Lisboa, 16 dez 2021 (Ecclesia) – A Cáritas Portuguesa apresentou hoje em Lisboa um estudo sobre a resposta da instituição à crise da Covid-19, alertando para a situação “preocupante” que a população vive, quanto ao acesso à habitação.

“A maioria dos apoios pontuais concedidos (63%) destinou-se ao pagamento de rendas, confirmando a situação preocupante que se vive ao nível da habitação, consequência de vários fatores, entre os quais o elevado aumento do valor das rendas em cidades como Lisboa, Porto e Braga nos últimos cinco anos”, refere o documento, divulgado esta tarde, em conferência de imprensa.

“Em todas as dioceses analisadas, os baixos rendimentos, o apoio insuficiente e excessivamente burocrático da Segurança Social, além dos preços elevados praticados no mercado habitacional, evidentemente desajustados do nível de rendimento, são uma constante”, acrescenta.

O estudo intitula-se ‘A Rede Cáritas em Portugal e a resposta à COVID-19’, tendo sido realizado entre abril e agosto de 2021 por Ana Luísa Silva, Luís Pais Bernardo, Luís Mah e Renata Vieira de Assis, investigadores da Oficina Global, uma “iniciativa académica que procura aliar a investigação à ação em parceria com as organizações da sociedade civil portuguesa”.

Foto: Cáritas

A Oficina Global é apoiada pelo CEsA – Centro de Estudos sobre África e Desenvolvimento e pelo ISEG – Lisbon School of Economics and Management da Universidade de Lisboa.

Segundo os dados recolhidos, o programa nacional de resposta da Cáritas – que decorreu, em três fases, entre março de 2020 e fevereiro de 2021 – chegou a 10 444 pessoas (3205 famílias), distribuindo cerca de 250 mil euros entre vales alimentares (82 510 euros) e ajudas pontuais (167 230 euros).

O estudo identifica uma “procura crescente” de ajuda, após o primeiro confinamento provocado pela pandemia – 60% dos beneficiários deste programa recorreram pela primeira vez ao apoio da Cáritas.

“O diagnóstico sugere que os novos beneficiários da Cáritas trabalhavam em alguns dos sectores económicos (já caraterizados por salários baixos e precaridade laboral) que mais sofreram durante este período como o turismo, restauração, comércio e serviços de apoio”, pode ler-se.

Além da habitação, com quase dois terços dos apoios concedidos, as áreas de maior necessidade foram as despesas com saúde (14% dos pedidos) e as despesas de eletricidade (12%).

A nível diocesano, a resposta das Cáritas passou pelo “apoio alimentar”, “apoios financeiros pontuais” e a promoção de “redes locais e parcerias”.

Os autores da investigação destacam “a rapidez com a Rede Cáritas conseguiu responder a necessidades materiais imediatas”, admitindo que o final das moratórias a créditos bancários “pode voltar a pôr esta capacidade de resposta”.

O estudo defende melhorias consideráveis em três dimensões: rendimento disponível, proteção social e habitação.

A Cáritas é elogiada pela capacidade de prestar atenção às “dimensões socioafetivas da vulnerabilidade”, que precisam de “respostas coletivas”.

O documento deixa ainda referência a “projetos inovadores”, que visam “responder a necessidades de bem-estar individual e social de grupos vulneráveis.

O relatório encerra-se com um conjunto de alertas sobre “potenciais respostas coletivas” aos efeitos a médio e longo prazo da pandemia, que enfrentem questões como as vulnerabilidades múltiplas (privação alimentar, pobreza energética, precaridade laboral), a “intensificação das privações”, a falta de informação, o direito à habitação, o “desencontro entre rendimento e custo de vida”, a precariedade laboral, problemas de saúde mental e a “articulação das múltiplas respostas e capacidades”.

OC

 

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