Casar, nem por paixão nem por compaixão!

José Luís Nunes Martins

O casamento é um compromisso de construção de um projeto a dois. Não se trata de uma forma de ser feliz, antes sim de se dispor a lutar pela felicidade de uma forma não individual. Trata-se de uma decisão séria, na qual a razão e a vontade devem ter um papel importante.

Quem casa por paixão arrisca-se a uma tragédia. A paixão é uma forma muito eficaz de vermos as coisas como elas não são. Mais do que fechar os olhos e seguir os sonhos, importa abri-los e ver bem o que se tem diante, sem ilusões. Nem tudo o que agrada à vista satisfaz o coração! Assim como nem todas as paixões significam vontades.

Os sentimentos não são vontades firmes. Passam. A paixão é pouco mais do que momentânea; o que importa é o que se mantém, o que se constrói para resistir aos tempos. O casamento é um compromisso sem fim.

No amor, nada está garantido, muito menos à partida. A paixão exige que nos tornemos escravos cegos dos desejos e de promessas vãs… Será sempre melhor dar a mão a alguém concreto, com virtudes e defeitos, mas real!

Quem casa por compaixão também se arrisca a uma tragédia. A compaixão faz despertar o melhor de nós na ajuda ao próximo, mas há muitos que se aproveitam deste sentimento, até de forma estratégica, fazendo-se de vítimas que precisam de quem os ajude a levantar-se… pois afirmam que nada da sua condição é culpa sua.

O casamento estabelece-se numa base de igualdade. A cooperação supõe equilíbrio e responsabilidade recíproca, a fim de que das duas imperfeições possa resultar algo completo. Buscando com a maior das atenções que nenhuma das vontades individuais se sobreponha ao projeto comum.

O amor conjugal pressupõe a existência de problemas, erros e fracassos, mas também da vontade de cada um de ultrapassar as suas dificuldades.

É um crime para a paz que eu peça, ou obrigue, o outro a ter de resolver algo que eu podia e devia solucionar sem recorrer a ninguém. Em casal, é uma enorme ajuda conseguir poupar o outro ao que posso fazer sozinho!

Além de tudo isso, usar as vulnerabilidades do outro contra ele mesmo e a favor de nós é um egoísmo requintado e maldoso.

O casamento é um caminho a dois, decidido, construído e percorrido pelos dois. Não é o sonho de um para o qual o outro apenas serve como peso que devemos carregar.

Um casamento feliz é, e será sempre, a mais importante viagem de descoberta que o nosso interior pode empreender.

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