Bispo do Porto defende competência e liberdade na Comunicação Social

A necessidade competência e liberdade para um olhar cristão sobre a realidade marcou a conclusão dos trabalhos das Jornadas Nacionais das Comunicações Sociais que decorreram em Fátima, com organização do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais (SNCS) da Igreja. Na conferência conclusiva, D. Manuel Clemente defendeu que a comunicação social católica deve preferir “competência à emoção e o aprofundamento à precipitação”, não vendendo “nada nem ninguém”, mesmo sob a pressão das “audiências”. Falando de “Um olhar de Igreja sobre a realidade”, o Bispo do Porto indicou que, em várias situações, a liberdade religiosa ainda não está completamente assegurada, sendo muitas vezes confinada a um “âmbito individual”. Evitando polémicas directas com o governo, D. Manuel Clemente deixou um desafio aos participantes – “Imaginemos que numa determinada sociedade” – passando a criticar situações em que a transmissão do legado religioso nas escolas é relegada para horários pouco viáveis ou em que ensino não-estatal tenha de ser pago por inteiro pelos pais. Nestas referências indirectas não foi esquecido o caso do acompanhamento religioso e prisional ser reduzido a quem o pede, “excluindo qualquer espécie de proposta ou oferta que suscitasse tal pedido”, ou a secundarização, no campo da ajuda ao próximo, de iniciativas confessionais “A comunicação social que se queira cristã e humanista deve estar atenta, esclarecer e eventualmente denunciar, no sentido de efectivar a liberdade religiosa para todos e cada um, como direito fundamental a ser considerado por práticas sociais e públicas correspondentes”, indicou. O presidente da Comissão Episcopal responsável pelo campo das Comunicações Sociais manifestou-se contra “qualquer teorização puramente formal ou ideológica que encare a sociedade, mesmo a sociedade política, como um aglomerado de entidades individuais abstractas”. A laicidade, defendeu, “não se garante pela abstracção das crenças e motivações dos cidadãos e grupos de cidadãos”, mas “pela potenciação das respectivas partilhas”, no espaço público e garantindo os direitos das minorias. Perante uma sociedade com “muita falta de esperança”, a comunicação social cristã não deve desistir “da política nem da cultura”, evitando “fazer-se eco de pessimismos ou decepções sistemáticas em tal campo”. A Igreja, por isso, tem um olhar sobre a realidade que quer ser “contemplativo, activo e activador”, que “soma muitos olhares e unifica perspectivas” e se refere “à pessoa humana e à sua realização pessoal e social”. O olhar de Jesus Ainda esta manhã, o Pe. Tolentino de Mendonça apresentou uma reflexão sobre o “Olhar de Jesus” e “a via paradoxal de conversão” a ser realizada pelos homens e mulheres, para poderem ver. Falando da “dramática do olhar”, na Bíblia – “a grande indagação sobre a condição humana”, este padre e poeta falou da “aprendizagem do homem sobre si próprio e a sua condição”. Nos Evangelhos, indicou, há menos um comentário à realidade e mais a busca da “potenciação do sujeito”. Neste binómio olhar-realidade, os Evangelhos escolhem estar “do lado do olhar”. Aludindo aos episódios das cura dos cegos, o especialista em Sagrada Escritura indicou que esta “é a imagem do próprio leitor”, que “precisa de ver”. “É importante que o olhar se deixe corrigir”, indicou, frisando que “Quando reconhecemos a nossa cegueira, temos possibilidade de ver e encontrar Jesus”.

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