Bispo da Guarda insurge-se contra desequilíbrios na distribuição da riqueza

D. Manuel Felício dedicou primeira catequese quaresmal à oração

O bispo da Guarda considera que a corrupção, o crescimento da desigualdade entre pobres e ricos, a ruptura da segurança social e o desequilíbrio das contas públicas resultam da falta de coragem para vencer as seduções da riqueza, do poder e da facilidade.

Na catequese do primeiro Domingo da Quaresma, intitulada “A oração num mundo secularizado e materialista”, D. Manuel Felício recordou que as tentações de Jesus no deserto continuam “a colocar-se às pessoas do nosso tempo, a começar por aquelas que exercem maiores responsabilidades na condução da vida social”.

“Temos de reconhecer que se, em geral, houvesse mais coragem para vencer as tentações, sobretudo as que se colocam a quem conduz a vida social, todos sairíamos beneficiados”, assinalou o prelado, que evocou a relação de causalidade entre a “degradação pessoal” e os seus “efeitos perversos” na sociedade.

O prelado recordou que continua a haver “pessoas colocadas em empresas públicas do nosso país a ganhar num só ano quantias que muitos portugueses, talvez a maior parte, não conseguem ganhar em toda a sua vida de trabalho”. “Casos deste género bradam aos céus e reclamam outra justiça diferente daquela que as nossas instituições estão a aplicar”, ajuizou o presidente da Comissão Episcopal da Doutrina da Fé e Ecumenismo.

Por outro lado, “é difícil de entender que, estando o sistema de segurança social no nosso país em risco de ruptura, estejam a tardar os sinais claros de contenção nas reformas exageradamente elevadas que estão a ser pagas a alguns portugueses”, acrescentou D. Manuel Felício.

“Também não percebemos a falta de coragem para impor tectos salariais a quem mais ganha neste país e que não se lhes peçam os sacrifícios que lhes deviam ser pedidos para caminharmos em direcção ao equilíbrio das nossas contas públicas externas, um dos problemas que mais está a afectar a imagem do nosso país para o exterior e com evidentes repercussões negativas na vida dos cidadãos portugueses”, assinalou o prelado.

A falta de resistência às tentações e a insensibilidade às necessidades dos mais pobres derivam da “expulsão de Deus” das relações sociais e da vida pública, fenómeno que “está a abrir caminho à progressiva imposição da lei do mais forte”.

Se a Igreja aceitasse que Deus fosse relegado “para o reduto intimista das consciências”, estaria “a roubar às pessoas e à rede das suas relações o factor mais determinante da verdadeira vida com qualidade”.

Para D. Manuel Felício, a vida social em Portugal está a precisar de “corajosas correcções”. A contribuição das comunidades cristãs para essa transformação começa pelo envolvimento numa “relação viva e vital com Cristo Ressuscitado”. “Isto é verdade, mesmo quando alguns nos querem fazer crer que numa sociedade laica não há lugar para Deus e consequentemente para a relação com Ele”.

“Ao fazermos a experiência de Deus na relação viva e vital com Cristo Ressuscitado, para além de cumprirmos a nossa vocação no que ela tem de mais verdadeiro, temos consciência de estar a prestar o melhor dos serviços à própria sociedade”, escreveu o prelado.

Neste sentido, a oração não se reduz à esfera pessoal e eclesial. Ela é, segundo o bispo da Guarda, “o nosso grande contributo para uma vida social cada vez mais humanizada”. Os seus efeitos, que se concretizam na denúncia das injustiças e na acção concreta para as erradicar, permitem que os cristãos sejam mais capazes de descobrir os sinais de Deus no mundo, nos quais Ele aponta “caminhos de justiça e de bem.”

Em pleno Ano Sacerdotal, D. Manuel Felício referiu que o padre “tem de ser homem de Deus e portanto homem de oração”. O prelado pediu às comunidades cristãs para rezarem de maneira “intensa” pelos seus pastores, de modo que eles possam cumprir uma missão que “é absolutamente necessária para a vida da Igreja e para a autêntica humanização do mundo”.

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