Bíblia no coração da Igreja

40 anos depois da «Dei Verbum», o biblista Armindo Vaz fala à Agência ECCLESIA da necessidade de deixar entrar a Sagrada Escritura na vida para se ser verdadeiramente católico. Bastam 30 segundo para começar… Agência ECCLESIA – A exposição “Bíblia em Festa” (presente em Lisboa durante o ICNE da última semana) foi uma festa da Bíblia? Pe. Armindo Vaz – Penso que foi uma festa da Bíblia porque as pessoas vieram ver a exposição e ficaram atraídas pela riqueza de conteúdos expostos, de várias formas. Por outro lado é a festa da Bíblia, que coloca o homem em festa, para além de falar muitas vezes das festas de Israel e da comunidade apostólica. A Bíblia é uma forma de tocar o coração das pessoas: nasceu da vida e para a vida, para iluminar e fecundar a vida. Ela é, do ponto de vista literário, resultado de pedaços de vidas que se transformaram em literatura, para movimentar os corações humanos AE – Apesar de ser o “Livro dos Livros”, a Bíblia ainda é desconhecida… AV – Infelizmente ainda é desconhecida, mas já o foi mais entre nós, católicos. Antes do Concílio Vaticano II, era um livro que não constava nas prateleiras das casas de famílias, mas após o apelo dos padres conciliares para a leitura assídua da Escritura, podemos dizer que a Bíblia faz parte do “mobiliário” das famílias católicas. Penso que já era hora de a Bíblia entrar nas casas das pessoas, mas agora faz falta que ela seja lida. Sabemos das dificuldades que as pessoas têm em encontrar tempo e espaço para lerem assiduamente a Escritura. As pessoas têm lá em casa um caixote que toma conta da vida das pessoas, toma conta das conversas e não as deixa sossegadas para pegarem na Bíblia. Nesse sentido, ou os católicos dão atenção à Bíblia ou então não seremos capazes de crescer em profundidade e interioridade. Não faz sentido que os católicos vivam sem olhar atentamente para a Bíblia… AE – A recente iniciativa “Bíblia Manuscrita” ajudou a divulgar a Escritura? AV – Essa iniciativa foi muito interessante e pelo menos deu visibilidade à Bíblia. Sabemos que em Portugal ela movimentou muitas pessoas, mas agora faz falta que a Bíblia entre sempre na vida, iluminando-a. As pessoas pensam que teriam de renunciar a muito tempo para ler a Bíblia, mas isso não é verdade, bastaria dedicar-lhe meio minuto: a partir daí, ao longo de 2/3 anos, a pessoa tem a Bíblia lida. AE – A Bíblia faz parte dos livros que mudaram o mundo? AV – Sem dúvida. Para mim, foi mesmo o livro que mudou o mundo, sobretudo no Ocidente, influenciando de forma determinante a sua cultura e, claro, a mentalidade religiosa. Aí a Bíblia teve um papel absolutamente único, pela positiva. Sabemos que aqueles que imigravam para a América do Norte levavam consigo a Bíblia como um “viático”, literalmente a companhia de viagem. Liam um versículo, dois versículos no início da refeição, e isso marcava a vida das pessoas.

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