Angola: 500 Anos de Evangelização

Os 500 anos do início da evangelização de Angola, no antigo Reino do Congo (1491), são o motivo que levam Bento XVI a este país lusófono pela primeira vez. Uma ocasião para recordar que o Cristianismo chega a Angola através dos Portugueses. A fim de satisfazer os pedidos do Rei do Congo, saiu de Lisboa, em 1490 a primeira missão de cooperação e evangelização, chegando a 29 de Março de 1491 ao Soyo, foz do Rio Zaire. A catequese começou pelo rei e pelos nobres, enquanto os operários portugueses construíram a primeira igreja. Nesta primeira fase destaca-se o rei Dom Afonso I, Mvémba–Nzínga (1506-1543), que foi naquele tempo o maior missionário do seu povo. O Reino do Congo procurou ter relações directas com a Santa Sé em Roma, enviando aí embaixadores. A pedido de D. Afonso, D. Manuel I, de Portugal, enviou ao Congo dois grupos de missionários. O primeiro partiu de Lisboa em 1504 e o segundo, formado por padres toios, em 1508. Era chefiado por frei João de Santa Maria. Em 1517, o Papa Leão X nomeou bispo o Príncipe D. Henrique, que foi o primeiro Bispo da África Negra. Em 1534, foi criada a diocese de São Tomé, desmembrada da do Funchal. O Congo passou a depender da diocese de São Tomé. Mais tarde, pela bula “Super specula militantis Ecclesiae”, de 20 de Maio de 1596, o Papa Clemente VII desmembrava da Diocese de São Tomé a nova Diocese do Congo, com sede em Mbanza Congo, chamada São Salvador do Congo. O Papa Urbano VIII, pede, por intermédio da Congregação da Propaganda fidei, o envio de missionários para o Congo e em 1640 cria-se prefeitura Apostólica do Congo e Frei Boaventura de Alessano é nomeado Prefeito Apostólico. Em 1643 prepara-se nova expedição, sob a direcção do mesmo Frei Boaventura de Alessano. O embarque deu-se a 20 de Janeiro de 1645 e o desembarque na foz do rio Zaire foi em Junho do mesmo ano, após uma viagem acidentada. Angola passou praticamente a constituir um domínio do Brasil, que em África encontrava o mercado de escravos de que precisava para a agricultura e, mais tarde, para o trabalho das minas. O século XVIII foi já de profunda decadência, principalmente com a expulsão dos jesuítas e com a decadência das Ordens Religiosas em quase toda a Europa. Octávio Carmo Renascimento O problema do clero indígena é dos mais graves e delicados nas actividades missionária. As dificuldades tanto vinham dos evangelizados como dos evangelizadores. Os sacerdotes que se encontravam em Angola eram pouco numerosos e geralmente faltava-lhes organização, zelo missionário e métodos apropriados ao apostolado missionário. O encerramento das casas religiosas em Portugal pelo Governo Liberal em 1834 tirou a esperança da recuperação durante muitos anos. Um bispo do século XIX pedia para Portugal que se acudisse à sua “moribunda diocese e a um outro, de meados deste século atribui-se esta frase de desalento: “Das Missões de Angola e Congo só resta a memória”. Na realidade o número de sacerdotes chegou ao índice mais baixo em 1853: 5 angolanos, encontrando-se 4 em Luanda I em Benguela. As antigas paróquias e igrejas tinham desaparecido quase todas, missões propriamente ditas no interior não havia nenhuma.Desde 1885 até 1910 a vida religiosa foi-se desenvolvendo com certa intensidade: o pessoal missionário – padres, irmãos e irmãs – iam aumentando progressivamente e as populações iam-se abrindo à evangelização. Mas algumas guerras de ocupação do território tornaram certos povos impermeáveis por algum tempo, como os cuanhamas. Era de esperança a acção religiosa em 1910, com a chegada anual de vários sacerdotes, irmãos e irmãs. Em 5 de Outubro daquele ano, a revolução que suprimiu a monarquia e instaurou o regime republicano em Portugal mostrou-se logo de início contra a Igreja Católica e suas instituições: supressão dos Institutos religiosos, dos seminários e do ensino religioso nas escolas, nacionalização dos bens eclesiásticos – seminários, residências episcopais e paroquiais e das comunidades religiosas – imposição do casamento civil, admissão do divórcio, etc. Ao mesmo tempo, na imprensa intensificou-se a propaganda, que já vinha detrás, contra a Igreja e a vida católica. Em Angola, os reflexos destas leis e da campanha anti-religiosa encontravam numerosos adeptos, mesmo em algumas autoridades. Vários missionários, sobretudo estrangeiros, foram perseguidos, foram expulsas as religiosas que trabalhavam em Luanda e Moçâmedes, e suprimidos os subsídios que o Estado vinha concedendo a várias missões e outras instituições católicas. Mas a supressão dos Institutos Religiosos e dos seminários em Portugal tinha consequências mais desastrosas em Angola e nas outras colónias portuguesas. Quanto às Religiosas sucedia o mesmo: as Franciscanas Hospitaleiras retiraram-se para Portugal e não voltaram mais. Em 1940 a Santa Sé e o Governo Português estabeleceram dois acordos: A Concordata e o Acordo Missionário, aos quais o Governo Português acrescentou o Estatuto Missionário. Estes documentos condicionaram o funcionamento das missões. Tais documentos consagraram o nacionalismo missionário, como afirmaram alguns responsáveis do tempo. O Cardeal Manuel Gonçalves Cerejeira, referindo-se ao Acordo Missionário, declara a 10 de Dezembro de 1940: “Pelo Acordo Missionário continua no Ultramar a nossa vocação de dilatar a Fé e o Império”. ” A constituição da hierarquia nas nossas mais importantes Colónias é um acto simbólico da sua ocupação, para Cristo e para Portugal”. A 25 de Maio do mesmo ano, Salazar acrescenta: “Não pode pôr-se, entre nós, o problema de qualquer incompatibilidade entre a política da Nação e a liberdade da evangelização; pelo contrário, uma faz parte da outra. O governo condiciona a evangelização à formação patriótica do clero”. Monsenhor Alves da Cunha concluiu: “Com o Acordo Missionário a Santa Sé favorece os altos interesses nacionais de Portugal. A Organização Missionária Católica será essencialmente portuguesa”. Entre 1926 e 1940, a expansão da Igreja Católica foi visivelmente impulsionada com a fundação de 29 novas missões. De 1930 a 1960, mais de 20 Congregações missionárias enviaram pessoal para Angola: Beneditinos, Beneditinas, Doroteias, Irmãs do SS. Salvador, Irmãs de la Salette, Capuchinhos, Franciscanas Missionárias de Maria, Reparadoras, Teresianas, Redentoristas, Ordem Trapista, Irmãozinhos de Jesus, Irmãos Maristas, Irmãs do Amor de Deus, Dominicanas de Se. Catarina, Espiritanas, Missionárias Médicas de Maria, Dominicanas do Rosário, Irmãs da Misericórdia. Em 28 anos (1940-1968), o número de Padres angolanos passou de 8 a 71. Durante a 2.” Guerra Mundial (1939-1945), não foi possível a entrada de pessoal missionário estrangeiro; mas, finda a Guerra, muitas Congregações acorreram ao apelo e dedicaram-se ao apostolado missionário em Angola. Em 1954, Ano Santo Mariano, a revista “O Apostolado” deu início à campanha para a fundação de uma Emissora Católica de Angola (E.C.A.). No dia 8 de Dezembro de 1954 (encerramento das comemorações marianas) realizou-se a primeira emissão da Rádio Ecclesia, Emissora Católica de Angola. Na cidade de Luanda, em 15 anos (1960-1975), as paróquias passaram de 5 a 14. A expansão missionária prosseguia com novas dioceses e novos seminários diocesanos, com frequência muito animadora. A evangelização foi feita com mais profundidade e, em muitos lugares, era uma autêntica pré-evangelização. A Igreja e a questão Social A população, que os missionário evangelizavam, estava estratificada. Os brancos, naturais de Portugal, tinham mais privilégios do que os naturais de Angola. Os mestiços (assimilados por natureza) tinham direito ao ensino oficial, mas não ao serviço militar. Os pretos que sabiam ler e escrever eram assimilados por promoção e tinham os mesmos direitos que os mestiços. Para prestar serviço religioso aos três grupos estavam os padres Diocesanos (europeus, euroafricanos e assimilados). Tinham estruturas paroquiais, à maneira de Portugal, diria Monsenhor Alves da Cunha. Os indígenas (pretos que viviam segundo os usos tradicionais) estavam entregues aos missionários religiosos, salvo raras excepções. As relações entre os diversos grupos sociais eram, teoricamente, abertas. Mas, na prática, cada um procurava conviver com pessoas da sua condição social. A condição do assimilado era a mais dramática. Não convivia nem com o europeu nem com o indígena. O ensino indígena Todos os governos coloniais tiveram sempre medo da promoção intelectual dos indígenas. Portugal Confiou a instrução dos indígenas às Missões Católicas, mas sem lhes atribuir verbas para isso. Os missionários alfabetizaram Angola à sua custa. A situação mudou um pouco depois de 1961, mas estava longe de corresponder às necessidades da população indígena. O ensino indígena começou por se chamar Ensino Rudimentar e durava três anos. Depois passou-se a chamar Ensino de Adaptação com duração também de três anos. Em ambos os casos, no terceiro ano, a criança podia fazer o exame oficial. Mas, na prática, não o fazia, por os pais não poderem apresentar Bilhete de Identidade, por serem indígenas. O indígena, que queria aprender mais, tinha de ir para o seminário ou jogar futebol. Os missionários sofriam com os entraves que encontravam na promoção dos indígenas. Para o povo português, as Missões eram um meio, não só de difundir o catolicismo (religião oficial do país), mas de promover as populações. A escola, a oficina e o trabalho rural, eram actividades que não faltavam na grande maioria das Missões. A Missão era frequentemente o único centro de ensino intelectual e profissional para a grande maioria das populações rurais. A guerra da independência, que durou.13 anos, trouxe grandes sofrimentos e muitos benefícios. Foi extinta a Lei do Indigenato. As escolas oficiais foram abertas a todos. Os contratados começaram a ser tratados condignamente. Construíram-se estradas e aeroportos. Na década de 60, a fuga das populações rurais para as cidades motivou especial atenção por parte da Igreja. Neste trabalho de evangelização, foi notório e imprescindível o papel desempenhado pelos catequistas. Começou a elaborar-se para eles uma formação cultural, pedagógica e religiosa, em cursos de dois anos, já segundo as orientações do Vaticano II. Em 1961, foi fundado o Instituto de Educação e Serviço Social Pio XII, em Luanda, com orientação católica. Este Instituto formou, durante anos, assistentes sociais, educadoras de família e da infância. Os Serviços de Saúde solicitavam Irmãs para os hospitais, centros de saúde e dispensários A construção de igrejas, nas cidades e sedes de Missão, revela florescimento religioso. Proliferaram igualmente os Movimentos católicos: Apostolado da Oração, Legião de Maria, Cursos de Cristandande, Conferências Vicentinas, Escuteiros. Novas Dioceses em Angola Para que o trabalho da Igreja possa render, são necessárias estruturas. No Acordo Missionário de 1940 foi criada a Arquidiocese de Luanda, e as Dioceses de Nova Lisboa (Huambo) de Silva Porto (Kwito-Bié). D. Moisés Alves de Pinho foi nomeado Arcebispo de Luanda; D. Daniel Gomes Junqueira, Bispo de Nova Lisboa e D. Ildefonso dos Santos, Bispo de Silva Porto. Em 1955 foi criada a Diocese de Sã da Bandeira (Lubango) e, em 1957, a Diocese de Malanje. Cada bispo esforçou-se por mandar vir mais missionários e o raio da acção aumentou. O primeiro Bispo de Sã da Bandeira, D. Altino Ribeiro Santa na, era do clero diocesano de Goa. O primeiro de Malanje é um antigo missionário de Angola, Reitor do Seminário de Luanda durante 25 anos, D. Manuel Nunes Gabriel. Paulo VI, em 1975, criou quatro novas dioceses: Saurimo, Sumbe, Menongue e Onjiva. Da população, 52% era católica; 12% protestante. [1] Novas circunscrições eclesiástica Em 1 de Junho de 1963 foi criada a Diocese de Luso, sendo nomeado para Bispo D. Francisco Esteves Dias, da Ordem Beneditina. A 14 de Março de 1967 foi criada a Diocese de Carmona e S. Salvador, à frente da qual foi colocada o Capuchinho D. Francisco da Mata Mourisca. Os Portugueses conseguiram controlar a guerrilha, confinando-a aos distritos de Cabinda, Zaire, Uije e Moxico. Com o aparecimento de estradas asfaltadas, a evangelização tornou-se mais fácil. Nas zonas de guerra a luta é feroz, são frequentes as operações de limpeza, como a Operação Robusta que despovoou Kikulungo, e o assassinato de 220 angolanos no Ana (Camabatela)no dia 7 de Abril de 1971. Novas Dioceses e novos Bispos A 11 de Agosto de 1975 foram criadas as Dioceses de: Novo Redondo (Sumbe) Henrique de Carvalho (Saurimo) Serpa Pinto (Menongue) Pereira d’Eça (Ondjiva). Ao som de metralhadoras, eram ordenados bispos: Padre Alexandre do Nascimento, Bispo de Malanje, Padre Francisco Viti, Bispo de Serpa Pinto, Cónego Manuel Franklin da Costa, Bispo de Henrique de Carvalho, Padre Oscar Lopes Fernandes Braga, Bispo de Benguela, Padre Paulino do Livramento Évora, Bispo de Carbo Verde. D.Eduardo André Muaca foi tranferido de Malanje para Luanda; D.Zacarias Kamwenho, de Luanda para Novo Redondo. Os padres diocesanos portugueses partiram quase todos para Portugal. Os Religiosos e Irmãs, uns’ partiram e regressaram, outros mudaram de campo de acção. A maioria dos Organismos Católicos, (Cursos de Cristandade, por exemplo) desapareceram. Os serviços das cúrias diocesanas estavam desorganizados. Os seminários estavam vazios. Um ou outro noviciado feminino abandonado. Várias dioceses tinham o clero reduzido a 3 ou 4 unidades. No Saurimo não havia padre algum. Foram as Irmãs que receberam o Bispo. Esta era a situação da Igreja no 11 de Novembro de 1975. Praticamente foi necessário recomeçar. Reestruturação da Igreja em Angola Em 2 de Março de 1977 a Santa Sé, por proposta da Delegação Apostólica de Angola, fez uma reestruturação da Igreja em Angola. Criaram-se mais duas Províncias Eclesiásticas com sede no Huambo e Lubango. Nomearam-se mais Bispos e transferiram-se outros. Chamaram-se novos missionários. Vieram, sobretudo, da América Latina. O trabalho missionário retomou o seu antigo ritmo. A Igreja desenvolveu-se. Aumenta o número de crianças da catequese. As jovens descobrem o valor da vida consagrada. O número de seminaristas maiores duplicou. Nascem Congregações Religiosas Femininas de origem angolana. Os noviciados femininos passam de 5 para 25. Apesar da guerra, a Igreja cresce e desenvolve-se [2]. NOTAS: [1] Cfr. e., a. muaca, Breve História da Evangelização de Angola 1491-1991;Biblioteca Evangelização e Culturas, Cucujães, 1991; id., História sobre a Evangelização de Angola 1491-1991, Luanda, Oficinas Gráficas São José-CEAST- 1990; m. n. Gabriel, Angola Cinco séculos de Cristianismo, Braga, LITERAL, 1978. [2]Cfr. e., a. muaca, Breve História da Evangelização de Angola 1491-1991;Biblioteca Evangelizaçõo e Culturas, Cucujães, 1991; id., História sobre a Evangelização de Angola 1491-1991, Luanda, Oficinas Gráficas São José-CEAST- 1990. Conferência Episcopal de Angola e São Tomé: CEAST

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top