Bento XVI em Angola

Papa lembra milhões na miséria e as vítimas das cheias, pedindo sociedade justa, pacífica e solidária num país em reconstrução Bento XVI chegou esta Sexta-feira a Angola para cumprir a segunda etapa da sua viagem a África, depois de três dias no Camarões. O Papa estará em Luanda de 20 a 23 de Março. Milhares de católicos concentram-se na rua que dá acesso ao Aeroporto 4 de Fevereiro, em Luanda, fortemente guardado pela Polícia Nacional, Forças Armadas e Guarda Presidencial para a visita. Ecrãs gigantes foram colocados ao longo do percurso. Escuteiros, jovens e membros dos movimentos femininos da Igreja Católica encontram-se ao longo da via do Aeroporto 4 de Fevereiro até às imediações da Nunciatura Apostólica, onde Bento XVI fica hospedado. A Polícia Nacional mobilizou mais de dez mil efectivos. Pouco antes das 12h45 (hora local, menos uma em Lisboa), o Papa aterrou no Aeroporto internacional de Luanda, onde foi acolhido pelo presidente José Eduardo dos Santos. O Chefe de Estado angolano faz-se acompanhar de sua esposa, Ana Paula dos Santos, dos presidentes da Assembleia Nacional e do Tribunal Supremo, do primeiro-ministro e outros membros do governo. No seu discurso inaugural, Bento XVI começou por oferecer um “encorajamento” ao povo angolano no seu trabalho de reconstrução do país. “Com um profundo sentimento de respeito e simpatia, piso o solo desta nobre e jovem Nação no âmbito duma visita pastoral, que, no meu espírito, tem por horizonte o continente africano, mas os passos tive de os limitar a Yaoundé e Luanda. Saibam porém que, no meu coração e oração, tenho presentes a África em geral e o povo de Angola em particular, a quem desejo oferecer o meu cordial encorajamento a prosseguir no caminho da pacificação e da reconstrução do país e das instituições”, disse o Papa. Após saudar “toda a Igreja Católica” em Angola e agradecer o “acolhimento caloroso”, o Papa pediu uma sociedade de “justiça, paz e solidariedade, na caridade e no perdão recíproco” e um país que seja “uma casa de paz e fraternidade”. “Queridos amigos angolanos, o vosso território é rico; a vossa nação é forte. Usai, porém, estes vossos créditos para favorecer a paz e o entendimento entre os povos, numa base de lealdade e igualdade que promova na África aquele futuro pacífico e solidário a que todos aspiram e têm direito. Para isso, vos peço: Não vos rendais à lei do mais forte”, apontou. O Papa lembrou as vítimas das recentes cheias no Cunene, deixando um “particular encorajamento” às populações que têm agora o desafio de recomeçar as suas vidas. Bento XVI lembrou os “pobres que reclamam o respeito dos seus direitos” e a “multidão de angolanos que vive abaixo da linha de pobreza absoluta”, pedindo uma “maior participação cívica de todos”. “Para dar vida a uma sociedade verdadeiramente atenta ao bem comum, são necessários valores compartilhados por todos. Estou convencido de que Angola poderá encontrá-los também hoje no Evangelho de Jesus Cristo, como sucedeu tempos atrás com um vosso ilustre antepassado, Dom Afonso I Mbemba-a-Nzinga; há 500 anos deu início em Mbanza Congo a um reino cristão que sobreviveu até ao século XVIII”, indicou. Bento XVI falou então do “motivo imediato” que o levou a Angola: “Encontrar-me com uma das mais antigas comunidades católicas da África subequatorial, para a confirmar na sua fé em Jesus ressuscitado e unir-me às preces de seus filhos e filhas para que o tempo da paz, na justiça e na fraternidade, não conheça ocaso em Angola, permitindo-lhe cumprir a missão que Deus lhe confiou em favor do seu povo”. “Deus abençoe Angola”, concluiu. Eduardo dos Santos, por seu lado, confessou que a visita papal tem sido aguardada com “grande expectativa”, revelando que milhares de voluntários ajudaram as autoridades políticas e religiosas na prepração da recepção ao Papa. Os angolanos, assinalou, “farão tudo o que estiver ao seu alcance” para dar a esta visita “a dimensão, a projecção e a elevação que ela merece”. “É com grande alegria que acolhemos Sua Santidade. No fundo, concorremos todos para a realização do mesmo ideal, consolidar uma nação espiritualmente harmónica e tolerante, capaz de assumir as suas responsabilidades em defesa da honra e da dignidade humanas”, apontou. O Chefe de Estado angolano falou no “papel relevante” da Igreja na construção da paz e reconciliação em Angola, bem como na manutenção entre os angolanos de “um sentimento de esperança”. “Hoje já são visíveis sinais de reconstrução de Angola e podemos dizer que os benefícios da paz já se fazem sentir, em maior ou menor grau, na vida de cada cidadão”, afirmou, antes de acrescentar que “felizmente sempre houve entre nós um sentimento de esperança e a isso não é alheio o papel da Igreja e dos seus pastores e a compreensão do Estado do Vaticano, com quem mantemos as melhores relações”. Bento XVI, que recebeu honras protocolares reservadas a um Chefe de Estado, seguiu depois, a bordo do seu “Papamóvel”, num cortejo que percorreu várias artérias da cidade de Luanda, antes de chegar à sua residência oficial, na Nunciatura Apostólica. O lema da visita papal será “Bento XVI abençoa a Nossa Terra”. Ainda hoje, Bento XVI encontra-se com o presidente José Eduardo dos Santos, com autoridades civis e políticas, com o corpo diplomático e com os Bispos da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé. No Sábado, 21, o programa do Papa inclui uma Missa na Igreja de São Paulo e um encontro com os jovens, mais tare, no Estádio dos Coqueiros. No Domingo tem lugar uma Missa na esplanada de Cimangola e à tarde um encontro com os movimentos católicos responsáveis pela promoção da mulher. A viagem, que em Angola assinala os 500 anos de evangelização deste país lusófono, conclui-se Segunda-feira, 23 de Março, com uma cerimónia de despedida no aeroporto de Luanda. A última visita de um Papa aconteceu em Junho de 1992, por João Paulo II, celebrando os começos da evangelização do país, há cinco séculos atrás. Em finais de Outubro de 2008, na conclusão do Sínodo dos Bispos, Bento XVI anunciou que iria visitar Angola “para homenagear a uma das Igrejas subsaarianas mais antigas”. Actualmente os católicos em Angola são 8,6 milhões (55,6% da população), distribuídos por 18 Dioceses e 307 paróquias, com 27 Bispos e 794 sacerdotes, para além de 2178 religiosas e 30.394 catequistas. Dividida em 18 províncias, Angola tem como capital a cidade de Luanda. Com uma extensão de 4837 quilómetros quadrados, faz fronteira com o Congo-Brazzaville, a República Democrática do Congo, a Zâmbia e a Namíbia. Angola tem uma costa de 1650 quilómetros banhada pelo Atlântico. A língua oficial é o Português, mas há várias línguas nacionais – o umbundo, kimbundo, kikongo, chokwe, mbunda, luvale, nhanheca, gangela e o xikuanyama. Programa em Angola Sexta-feira, 20 de Março Luanda 12.45 – Chegada ao Aeroporto Internacional “4 de Fevereiro” de Luanda. Cerimónia de boas-vindas Discurso do Papa 17.00 – Visita de cortesia ao Presidente da República no Palácio Presidencial de Luanda 17.45 – Encontro com as Autoridades políticas e civis e com o Corpo Diplomático no Palácio Presidencial de Luanda Discurso do Papa 19.00 – Encontro com os Bispos de Angola e São Tomé na Capela da Nunciatura Apostólica de Luanda Discurso do Papa 19.45 – Jantar com os Bispos de Angola e São Tomé e com os membros da Comitiva Papal na Nunciatura Apostólica Sábado, 21 de Março de 2009 10.00 – Missa na igreja de São Paulo em Luanda. Homilia do Papa 16.30 – Encontro com os jovens no Estádio dos Coqueiros de Luanda. Discurso do Papa Domingo, 22 de Março 10.00 – Missa com os Bispos da I.M.B.I.S.A. (Interregional Meeting of Bishops of Southern Africa) na Esplanada de Cimangola em Luanda Homilia do Papa 12.00 – Oração do Angelus na Esplanada de Cimangola Palavras do Papa 16.45 – Encontro com os Movimentos Católicos para a Promoção da Mulher na Paróquia de Santo António de Luanda Discurso do Papa Segunda-feira, 23 de Março 07.30 – Missa privada na Capela da Nunciatura Apostólica. 10.00 – Cerimónia de despedida no Aeroporto Internacional “4 de Fevereiro” de Luanda Discurso do Papa 10.30 Partida do Aeroporto Internacional “4 de Fevereiro” de Luanda para o Aeroporto Ciampino (Roma).
Itália Roma 18.00 Chegada ao Aeroporto de Ciampino ——————————————————————————– Fuso horário: Roma e Luanda – + 1 do que em Lisboa Dossier AE •Condição da mulher na agenda de Bento XVI • Uma visita inesperada • Entrevista a D. Joaquim Lopes • Entrevista a D. António Couto • A Igreja em Angola, entre o passado e o amanhã • Missionários portugueses com alma angolana • Angola: 500 Anos de Evangelização FOTO: Lusa

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