Missionários portugueses com alma angolana

É Português, mas está em Angola há mais de 25 anos. Foi para este país lusófono – “lá para o interior, no meio da guerra” – com mais dois dominicanos. Posteriormente, Frei João Domingos foi chamado pelos bispos para Luanda. Em declarações à Agência ECCLESIA, este dominicano relata a sua experiência no país que receberá Bento XVI neste mês de Março. Deixou o interior angolano para conduzir a Paróquia do Carmo e “fiquei encarregado do ICRA (Instituto de Ciências Religiosas de Angola)” que forma professores de Educação Moral e Cívica e Educadores Sociais. O seu dinamismo é notório. Em 2005, criou o Instituto João Paulo II que dá cursos superiores na mesma área do ICRA. Com bastante experiência neste país africano, Frei João Domingos reconhece que a Igreja angolana “passou mal no tempo do marxismo” visto que “foi pior para nós do que a guerra”. Ao recordar o passado, este dominicano afirma que a guerra “matou muita gente, raptou missionários e destruiu casas”, mas o que “foi mais duro para nós foram as ofensas contra a Igreja Católica, como sendo aquela que foi colaboradora do colonialismo e anti-Angola e anti-independência”. O jesuíta Estêvão Jardim está em Angola há cerca de 28 anos. Vive nos arrabaldes de Luanda porque “esta cidade não se pode chamar cidade”. Corresponde a cerca de 7 milhões de habitantes, “numa área sem limites e incomensurável ” – frisou. Apesar das suas especificidades, “o catolicismo em Angola tem muito fundamento”. Este sacerdote jesuíta e natural da Ilha da Madeira conhece Angola de Norte a Sul. Desde Cabinda, ao Cunene. “Pessoalmente, já estive em quase todos os lugares” A implantação do Apostolado da Oração e a devoção a Cristo na primeira Sexta-Feira do mês é “uma coisa indescritível” – disse o sacerdote jesuíta. E exemplifica: “no Cunene, lá no fim do mundo, estive numa reunião que onde uma senhora me mostrou uma fita do Apostolado de Oração, de 1968”. As fitas vermelhas do Apostolado da Oração são “como um fogo que percorre o país”. Este jesuíta também é Secretário Nacional do Apostolado da Oração em Angola. As “pessoas percorrem dezenas de quilómetros para puderem confessar-se e receberem a comunhão reparadora do Coração de Jesus”. O que “segurou este povo durante a guerra” foi o Apostolado da Oração. Também é portuguesa, mas exerce o seu múnus pastoral em Kakuaco. “Nesta zona, os jovens, as crianças e o povo em geral procura muito a Palavra de Deus” – disse à Agência ECCLESIA a Irmã Maria Isabel Mira. Perante esta busca, a salesiana realça que se nota uma “grande proliferação de muitas igrejas e muitos movimentos religiosos”. Só na casa de D. Bosco daquela localidade, a Irmã Isabel Mira sublinha que existem mais de oito centenas de crianças e 600 jovens na catequese. “É uma grande procura” – exclamou. Os portugueses “passaram mal” porque “ouvimos tanta coisa” – lamenta o Frei João Domingos. No entanto – realça o dominicano – os missionários da Igreja Católica “não abandonaram as suas missões”. E acrescenta: “os missionários ficaram com o povo”. Com a sua capacidade, as religiosas salvaram “a vida a muita gente” e, através da angariação de medicamentos, “salvaram a vida a muita gente”. Muitas vezes, a igreja serviu de “intermediária para tentar mostrar que não tinha nada a ver com a guerra e os partidos” – frisou o sacerdote dominicano. Ao olhar para o panorama religioso deste país, a Irmã Maria Isabel Mira salienta algumas pessoas “trocam de religião”, mas “não andam em duas confissões religiosas”. Esta religiosa das salesianas é a única portuguesa naquela comunidade, mas “o povo aceita-nos muito bem”. E adianta: “não é o facto de ser portuguesa mas de ser religiosa”. Tudo o que é da Igreja tem “uma respeito muito grande”. Para além da acção social, as cinco irmãs salesianas daquela comunidade apostaram na vertente educativa. “É uma das respostas mais necessárias” – aponta. Frei João Domingos recorda que, em 1986, tinham naquela missão cerca de 5 mil catecúmenos a pedir o baptismo e a preparar-se para aquele sacramento. “Tínhamos por anos cerca de mil casamentos” – disse. Para além do aumento do número de católicos, este sacerdote realça também o aumento de vocações. “Temos muitas vocações angolanas” tanto naquele país como noutros continentes. Actualmente, este crescimento não é tão notório. “Com a paz apareceram muitas oportunidades de vida” – frisa o dominicano, natural do Sabugal. Kakuaco fica situada a 30 quilómetros de Luanda. É periferia. “Muita gente daqui vai trabalhar a Luanda” – disse. Com a ida de Bento XVI a este país, a Irmã Maria Mira refere que já se sente “o rebuliço na cidade: seja na parte logística, seja na parte sensibilização e preparação das celebrações”. A comissão da evangelização e catequese elaborou quatro desdobráveis “muito bem feitos” que está a distribuir por todo o país. O sacerdote madeirense, Estêvão Jardim sublinha que os angolanos gostam muito de festa. “A visita do irmão mais velho (Bento XVI) é motivo de festa grande”. E adianta: “sente-se uma grande alegria vinda do coração”. Nos preparativos desta visita, Frei João Domingos realça que o “Estado está a colaborar com a igreja”. E avança: “está a fazer obras nas estradas onde Bento XVI irá passar”. Nestes momentos, a solidariedade africana é “muito forte”.

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