Algarve: Louvor e prece do mar ao campo

O verão é a estação em que muitos pensam no Algarve e nas suas riquezas naturais: o azul profundo do mar, o calor intenso do sol, a água cálida e um universo por descobrir no Barrocal e na Serra, que continuam a ser os segredos mais bem guardados desta região ao Sul.

Mas é também a época de outro segredo bem guardado, que muitos ainda desconhecem: o da riqueza espiritual algarvia. Muitas romarias e festas pontuam a época de “ir a banhos” e recordam que, ainda que ocupados, existe sempre Alguém a Quem devemos agradecer.

Sendo uma região com especial devoção à Mãe de Deus, como em tantas partes do nosso país, é apenas normal que Maria tenha um especial lugar no coração algarvio, sem nunca esquecer o seu Filho. Assim, das muitas romarias algarvias, apresentamos três em que se celebra Maria, na pluralidade das suas invocações.

No primeiro domingo de agosto, o lugar para estar é nas tranquilas águas da Ria Formosa, para a Festa de Nossa Senhora dos Navegantes da Ilha da Culatra. Além da parte profana, em que se celebra a vida de uma comunidade que ainda vive totalmente do mar, é bastante pitoresca a procissão pela Ria em que Nossa Senhora dos Navegantes deixa a sua alva capela, na Ilha, a bordo de uma traineira, rumo a Olhão. O momento do encontro entre as Senhoras dos Navegantes e do Rosário, padroeira da Cidade, no cais de embarque dos transportes fluviais é imperdível e ficar-lhe-á gravado na memória. Se conseguir lugar numa das pequenas embarcações locais, o momento da procissão de ambas as imagens para a Ilha é uma excelente representação viva da fé simples, mas arreigada, daqueles que, noite após noite e dia após dia, enfrentam os perigos do mar de onde tiram o sustento.

Mas porque nem só de mar vive o Algarve, voltemo-nos para o Barrocal, para uns poucos quilómetros a norte de Tavira, onde a cidade que mais igrejas tem na região se reúne junto à ermida da Senhora da Saúde. Local de celebração da fé de raízes muito antigas, ainda hoje atrai fiéis do Barrocal e da Cidade para agradecer a Nossa Senhora a sua proteção num tempo em que as pestes grassavam na insalubre Tavira da era pré-industrial. As multisseculares Festas de Nossa Senhora da Saúde, também elas com carácter profano e sagrado, ocorrem no segundo domingo de setembro.

Finalmente, regressamos ao litoral e à muito turística vila de Monte Gordo, com a sua Festa de Nossa Senhora das Dores. Esta festa, onde a tradição ainda impera e que também conta com uma dupla componente profana e sagrada, realiza-se no domingo seguinte ao dia da Padroeira (15 de setembro). Tendo como ponto de partida a fé dos pescadores da praia, tem a peculiaridade de surpreender o veraneante desprevenido: muitos já se encontraram a banhos nas águas quentes da Baía quando, subitamente, veem aproximar-se do areal todo o tipo de embarcações de pesca engalanadas que soam as suas buzinas, enquanto a imagem percorre o areal branco e macio da praia aos ombros dos homens do mar, por entre as toalhas de quem descansa.

Como apresentei estas, muito estimado leitor, poderia ter falado de tantas outras. Mas, caro leitor, são segredos para apresentar numa próxima oportunidade. Ou para descobrir por si mesmo, visitando o Algarve, pelas suas belezas naturais e, também, espirituais.

Fica o convite. Sentir-se-á, como sempre, em sua casa.

Bruno Filipe da Cruz Alexandre

Foto: Junta de Freguesia de Monte Gordo

 

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Este artigo faz parte da Edição especial da Agência ECCLESIA “Festas da nossa Terra” publicada em agosto 2022

 

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Agência ECCLESIA

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