A febre da vitória

Octávio Carmo, Agência ECCLESIA

O episódio já aconteceu há algum tempo: Donald Trump, que deve disputar as eleições presidenciais norte-americanas como o nomeado pelos Republicanos, queixava-se de um sistema “manipulado” que o prejudicava. “Mas eu não me importo, porque ganhei”. Portanto, preocupação zero com a mudança do sistema para o futuro.

A questão é recorrente, e não apenas na política: as mudanças são pedidas por quem perde e quando perde. Se ganhar, está tudo bem. Pior ainda: quem ganha parece esquecer-se de tudo o que antes criticou e das mudanças que pedia, de uma forma tão insistente.

Num momento em que o país festeja o desempenho (mais com os resultados) da sua seleção de futebol no Euro 2016, importa manter o olhar sobre a importância do fenómeno desportivo como ferramenta para cultivar a ética, a inclusão, um ambiente mais amigo dos Direitos Humanos.

Fiquei particularmente sensibilizado pela experiência vivida pelos jogadores da seleção da Islândia que, como li algures, foram capazes de nos devolver a dimensão mais pura, quase de “criança” que o jogo consegue despertar. Ou as lágrimas do jogador italiano que, após uma derrota, chorava a lamentar-se, porque tudo o que os ‘azzuri’ tinham feito de bom iria cair no esquecimento. Duas maneiras paradoxalmente diferentes de viver a derrota que questionam a forma de viver o desporto por parte de quem procura apenas o resultado.

Porque a ética, o jogo limpo, não podem apenas aparecer nos discursos públicos como desculpa de mau perdedor nem ficar esquecidos na “febre da vitória”.

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