Refugiados: «Políticos europeus estão a dar um mau exemplo»

Secretário-geral da Cáritas Europa disse à Agência ECCLESIA que há uma «uma crise de solidariedade» no continente

Lisboa, 04 mar 2016 (Ecclesia) – O secretário-geral da Cáritas Europa diz que “não há qualquer crise de refugiados” no Velho Continente mas sim “uma crise de solidariedade” e sublinha a urgência dos países colaborarem mais entre si, na resposta a este desafio.

Em entrevista concedida à Agência ECCLESIA, Jorge Nuño Mayer realça que “os políticos europeus estão hoje a dar um mau exemplo à sociedade”, ao “cerrarem fronteiras” e ao deixarem que “o medo” e o “ódio” se sobreponham ao “acolhimento”.

“Poucos são aqueles que abrem com firmeza as suas portas a quem precisa (…) uma Europa de 500 milhões de habitantes é incapaz de receber 1 milhão e 200 mil pessoas que vêm para aqui para escapar à guerra, a uma morte certa”, frisa aquele responsável.

Para Jorge Nuño Mayer, a sociedade europeia tem “uma grande oportunidade” para mostrar o seu valor e a sua matriz “cristã”, mas para isso tem de mudar de paradigma.

“Não se pode abrir as fronteiras para todos mas podemos trabalhar as causas desta questão, como países europeus, e a Cáritas demonstra que isso é possível, estar e colaborar onde as pessoas precisam”, sustenta o secretário-geral da Cáritas Europa, dando como exemplo o panorama atual no Líbano.

“Um terço da população deste país são refugiados, seria como se de repente chegassem à Europa 200 milhões de refugiados, aí sim haveria uma crise, não com um, dois ou três milhões”, reforça Jorge Nuño Mayer, que esteve em Portugal para a apresentação do relatório anual da Cáritas Portuguesa, relativo à situação socioeconómica do país.

A chegada dos refugiados está a acontecer numa altura em que Portugal e muitas outras nações do Velho Continente se debatem com dificuldades financeiras.

“Sim, podemos dizer que a Europa já tem os seus próprios problemas, com a crise económica. Mas esta conjuntura é apenas mais um sintoma desta crise de solidariedade que referi, onde no fim os números económicos, os valores do crescimento, acabam sempre por ser mais importantes do que as pessoas”, aponta Jorge Nuño Mayer.

O responsável espanhol defende que perante esta mentalidade, a Cáritas, a Igreja Católica, os seus bispos, têm de saber dizer basta, que “não pode ser” e reafirmar o valor inestimável de cada pessoa e da dignidade humana. 

“Como cristãos, temos de encontrar a melhor forma de ajudar a Europa a abrir o seu coração aos que sofrem com a crise económica, aos que procuram escapar à guerra”, àqueles que “se sujeitam mais depressa a entrar num bote sem quaisquer condições de segurança, sabendo que podem morrer, do que a ficar no seu país”, complementa.

Sobre a aprovação, por parte da Comissão Europeia, de um plano de emergência para os refugiados que vai permitir para já disponibilizar 300 milhões de euros para a Grécia, Jorge Nuño Mayer diz que esta medida só poderá ser eficaz se os problemas não forem encarados “de forma isolada”.

“A ideia é transformar a Grécia no campo de refugiados da Europa? E de onde saiu este dinheiro? Se foi das verbas que estavam reservadas aos campos de refugiados do Líbano e da Jordânia, aqui as pessoas já nem têm o que comer. Tudo o que seja para ajudar é bom, desde que isso não signifique cortar num lado para dar a outro”, conclui o secretário-geral da Cáritas Europa.

JCP 

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Agência ECCLESIA

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