Cultura: Evangelização é inseparável da beleza, diz Zita Seabra

Igreja deve insurgir-se contra cultura onde «inquirição acerca do homem é uma forma de entretenimento tão insignificante como todas as outras»

Lisboa, 22 nov 2011 (Ecclesia) – O anúncio da mensagem cristã é inseparável da expressão da beleza, considera Zita Seabra, responsável pela editora Alêtheia, em depoimento publicado na edição de novembro do ‘Observatório da Cultura’.

“Não faz sentido falar de cultura sem falar da Igreja e não faz sentido que esta pense em evangelizar sem simultaneamente procurar a representação da beleza”, refere a antiga deputada no boletim semestral do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC).

Respondendo à pergunta “O que é mais importante (criar, manter, repensar) na relação da Igreja com a Cultura?”, Zita Seabra sublinha que “abandonar a ideia do Belo e da sua busca, transformando a arte apenas num espaço vazio de sentimentos, faz perder a noção de Belo e afasta a Igreja daquilo que em muitos casos ela foi no encontro com as pessoas”.

“A Igreja teve sempre uma relação privilegiada com a cultura”, assinala, acrescentando que “muitas das mais belas obras de arte têm a ver com o cristianismo e com a forma como se representa Deus e a Bíblia através da música, da pintura, da literatura e de todas as formas de expressão de arte”.

Depois de recordar que o Papa Bento XVI tem incentivado a Igreja a não esquecer “a procura do Belo”, a responsável salienta que essa busca “não se reduz ao património mas também se exerce nos dias de hoje”.

A editora alerta para a necessidade de impedir que “algum mau gosto e incultura, que por vezes parecem sobrepor-se aos valores culturais inseparáveis dos valores espirituais, deixem abafar esse encontro constante entre Deus e a noção de cultura”.

Para o estudante universitário Simão Lucas Pires, a “Igreja não pode ficar satisfeita com um cenário onde o lugar da verdade é o canto a que ninguém liga e a inquirição acerca do homem é uma forma de entretenimento tão insignificante como todas as outras”.

“A primeira coisa importante é não compactuar com este esvaziamento, com esta desistência em relação à única coisa urgente”, e não alimentar “a cultura morna na qual, apesar dos tons de voz, dos prémios e da gravidade cuidadosamente encenada, nada está em causa”.

A cultura “é só uma área respeitável e inconsequente”, pelo que o “problema” a que a Igreja “nem sempre” têm sabido responder é o da “integração do discurso católico num campo amorfo e não dominado pela fé”, adianta o filho de Francisco Lucas Pires, deputado, advogado e académico falecido em 1998.

“O desafio da Igreja” prende-se também com a “forma de apresentação do seu discurso”: “Não se trata de adequar o produto ao público” mas de espalhar a sua mensagem “como o que de facto é: uma resposta aos problemas do ser humano”, o que “implica uma mudança de linguagem”, explica.

O SNPC concluiu esta segunda-feira a publicação no seu site de mais de 25 depoimentos sobre a relação da Igreja com a cultura, reunidos para a mais recente edição do seu boletim.

RJM/OC

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