Acabou em Roma, continua no Mundo!

Pe. Diamantino Alvaíde, Diocese de Lamego

O dia 27 de outubro, como estava previsto, pôs termo à segunda e última sessão da XVI Assembleia Sinodal sobre a Sinodalidade.

Dos vários temas denominados ‘polémicos’, o que se prolongou mais tempo no debate e teve maior sonoridade nesta sessão do sínodo foi mesmo o do papel da mulher na vida da Igreja. Sempre alimentado pela vontade de muitos de que o diaconado feminino se tornasse uma possibilidade próxima, o assunto é remetido para uma comissão que vai ser reativada para continuar a aprofundar os estudos e fazer amadurecer esta questão, que é delicada e pouco consensual. Para já, o que fica assumido e relevado é que o papel a da mulher tem sido bastante valorizado nos últimos anos, com mulheres assumirem cargos de significativa importância nas estruturas e lugares de decisão dentro da Igreja, o que deve continuar a acontecer.

Por outro lado, fica a ressalva de que, mesmo o diaconado masculino não tem tido, em muitas geografias mundiais uma expressão muito significativa. O que coloca algumas reservas acerca da necessidade prática da ordenação diaconal das mulheres.

Este desfecho, entre outros, comprovam a chamada de atenção que o Cardeal Robert Francis faz poucos dias antes do termo da assembleia sinodal: “Não devemos esperar soluções instantâneas”.

A meio da última semana de Sínodo o Papa Francisco brinda a Igreja com a quarta encíclica do seu pontificado, sobre o amor humano e divino do coração de Jesus, intitulada: “Amou-nos”. Um documento com 220 números, distribuídos por cinco capítulos. Nela o Santo Padre alerta para o “forte avanço da secularização”, que desliga o mundo de Deus e onde acabam por surgir “várias formas de religiosidade sem referência a uma relação pessoal com um Deus de amor”. O Papa Francisco volta a alertar para autorreferencialidade, de que tantas vezes tem falado, e para o narcisismo que conduzem a uma “sociedade anticoração”. Assim, propõe a revitalização da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, como forma de reparação, e cuja espiritualidade daí resultante se traduza em gestos concretos no quotidiano de cada vida, e não apenas em propósitos meramente intencionais e inconsequentes.

Na celebração da Eucaristia que encerrou oficialmente a segunda sessão deste sínodo, no dia 27 de outubro, na Basílica de São Pedro, o Sumo Pontífice volta a reiterar a urgência de uma Igreja que se quer em perpétuo movimento. A partir do Evangelho proposto para este domingo, da cura do cego Bartimeu, o Papa reivindica um olhar sempre atento da Igreja às necessidades dos mais pobres, fragilizados e marginalizados à beira de tantos caminhos, onde uma parte da humanidade esquecida clama piedade. Diante destes clamores a Igreja não pode ficar indiferente e cega. O Papa afirma mesmo que “uma Igreja sentada, que quase sem se aperceber se afasta da vida e se confina a si mesma à margem da realidade, é uma Igreja que corre o risco de continuar na cegueira e de se acomodar no seu próprio desconforto”. Repescando a sua já tão conhecida ideia de que a Igreja se pretende, se necessário for, acidentada e enlameada, afirma novamente: “Não precisamos duma Igreja sentada e desistente, mas duma Igreja que acolhe o grito do mundo e – quero dizê-lo e talvez alguém se escandalize – uma Igreja que suja as mãos para servir o Senhor”. E fazendo a relação com o Sínodo que atinge o fim da sua segunda sessão atesta: “Esta é uma imagem da Igreja sinodal: o Senhor chama-nos, levanta-nos quando estamos sentados ou caídos, faz-nos recuperar uma nova visão, para que, à luz do Evangelho, possamos ver as inquietações e os sofrimentos do mundo”.

O Sínodo que começou com uma consulta alargada a todo o mundo, e que agora termina os seus trabalhos em Roma, continuará a realizar-se, a estender-se e acontecer pelo mundo.

 

 

Pe. Diamantino Alvaíde, coordenador diocesano da pastoral

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Agência ECCLESIA

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