Igreja/Cultura: Pavilhão da Santa Sé na Bienal de Veneza instalado em prisão feminina

Exposição vai decorrer de 20 abril a 24 de novembro e tem o cardeal D. José Tolentino de Mendonça como comissário

Foto: Marco Cremascoli

Cidade do Vaticano, 11 mar 2024 (Ecclesia) – A Santa Sé vai participar na 60ª Exposição Internacional de Arte, a Bienal de Veneza, com um pavilhão dedicado aos Direitos Humanos e evocando os últimos da sociedade na prisão feminina da Giudecca.

“Com os meus olhos” é o título da exposição, que tem como comissário o cardeal D. José Tolentino de Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação da Santa Sé, e “encerra em si algo de disruptivo e profético, sugerindo uma viragem para outra direção cultural”.

A participação da Santa Sé na Bienal de Veneza, que foi apresentada hoje em conferência de imprensa, no Vaticano, questiona a realidade do tempo atualmente, onde “a visão humana é cada vez mais diferida e menos direta, prisioneira do artifício dos ecrãs e da explosão dos dispositivos digitais”.

“Será que ainda saberemos o que significa ‘ver com os nossos próprios olhos’?”, questiona o cardeal português.

Em comunicado, a Santa Sé explica que o projeto para a exposição, que vai decorrer entre o dia 20 de abril a 24 de novembro de 2024, se caracteriza “pela coexistência de uma comunidade artística que se estabelece desafiando as convenções, um novo corpo que reflete verdadeiramente a diversidade e a plenitude de vidas separadas”.

O pavilhão abrange workshops, instalações de arte, dança, cinema, performance e pintura e está em consonância com a construção de uma cultura de encontro, eixo central do magistério do Papa Francisco.

“As palavras e as imagens juntam-se através das mulheres reclusas, artistas e poetas que contribuem para a narrativa artística e histórica do lugar. A visita ao pavilhão, disponível apenas mediante reserva, é uma visita guiada pelas reclusas. Este projeto abre perspetivas inéditas sobre as dinâmicas sociais e artísticas, desafiando preconceitos e convenções, refletindo sobre as estruturas de poder na arte e nas instituições”, pode ler-se.

D. José Tolentino de Mendonça nomeou Chiara Parisi e Bruno Racine como os curadores da exposição, na qual vão também colaborar outros artistas como Maurizio Cattelan, Bintou Dembélé, Simone Fattal, Claire Fontaine, Sónia Gomes, Corita Kent, Marco Perego & Zoe Saldana, Claire Tabouret, além da participação especial de Hans Ulrich Obrist.

“’Com os meus olhos’ convida-nos a explorar as histórias e os desejos daqueles que vivem dentro da prisão através de projetos, workshops, obras de arte, poemas e espaços de vida como ginásios e jardins”, explica Chiara Parisi.

Segundo a curadora, esta exposição “é feita de relações entrelaçadas que evoluíram ao longo do tempo, num ambiente onde ser observado ou julgado deve ser mantido no exterior”.

“Este novo ambiente poderoso reflete as coisas que desejamos para nós próprios, onde quer que estejamos. A viagem pelo Pavilhão, sem telefones e sem documentos, permitirá que os reclusos o guiem “com os seus olhos”, revelando como a beleza e a esperança se entrelaçam na vida quotidiana e como a necessidade de liberdade perdura na complexidade e criticidade da vida”, destaca.

Por sua vez, Bruno Racine reflete sobre a questão “como é que o conceito tradicional de ‘pavilhão nacional’ pode ser interpretado atualmente?”.

“A singularidade da Santa Sé, um Estado único sem uma cena artística nacional, levou-nos a experimentar uma nova fórmula. A prisão feminina de Giudecca foi a resposta. A escolha do local é um manifesto, uma afirmação. Artistas de várias origens e sem distinção de fé juntam-se neste local para testemunhar uma mensagem universal de inclusão, trabalhando em estreita colaboração com as reclusas e enriquecendo o projeto com o seu trabalho artístico e relacional”, realçou.

O Departamento de Administração Penitenciária do Ministério da Justiça Italiano é o parceiro institucional do pavilhão e, segundo o chefe de departamento, Giovanni Russo, “a ideia inovadora da Santa Sé” de instalar um pavilhão na prisão feminina “orgulha toda a Administração Penitenciária, que se reconhece plenamente nos valores expressos pela Igreja e no seu compromisso com a salvação de cada pessoa, orientando a sua atenção para a orientação e formação das consciências”.

O Papa Francisco vai visitar o pavilhão da Santa Sé na Bienal numa viagem a Veneza, a 28 de abril.

Francisco será o quarto pontífice a visitar Veneza, que recebeu Paulo VI em 1972, João Paulo II em 1985 e Bento XVI em 2011.

LJ/PR

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Agência ECCLESIA

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