Celebrar o padroeiro, São Teotónio… não apenas para cumprir o calendário…

Maria de Fátima Eusébio, Diocese de Viseu

Foto: Agência ECCLESIA/MC

No dia 18 de fevereiro a Diocese e a cidade de Viseu celebraram o seu padroeiro, São Teotónio, o primeiro Santo de Portugal, cuja ação se revestiu de reconhecida influência enquanto prior da Catedral e administrador apostólico de Viseu, como peregrino à Terra Santa em tempos de instabilidade e avultados perigos, no contexto fundacional e primeiro administrador do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, bem como no processo de fundação do Reino de Portugal, assumindo considerável ascendente sobre D. Afonso Henriques, de quem foi orientador espiritual e conselheiro na tomada de decisões. Em todos estes contornos se evidenciaram o seu ideal de espiritualidade, os seus valores e virtudes, a sua ação evangelizadora e formativa, a sua capacidade de lutar e intervir por uma sociedade mais justa e humana.

O reconhecimento coevo da sua santidade determinou a sua canonização em 1163, apenas volvido um ano após a sua morte, perpetuando-se ao longo dos séculos o seu testemunho de fidelidade e de amor a Deus, os seus valores humanos e cristãos, pelo que em 1602 foi o escolhido para padroeiro da cidade e da diocese de Viseu. Assumiu, assim, o estatuto de especial protetor ou intercessor junto de Deus da comunidade de Viseu.

Contudo, apesar da relevância deste homem de Deus para a Igreja de Viseu, nunca assumiu significativa representatividade entre as devoções das comunidades paroquiais da Diocese, nem especial reconhecimento entre os habitantes de Viseu. Não obstante as comemorações realizadas a propósito dos 850 anos da sua morte, em 2012, continua pouco conhecido, perpetuando-se para muitos a identificação de São Mateus como padroeiro da cidade, por correlação com o feriado municipal, que tem lugar a 21 de Setembro, dia em que a Igreja celebra o Evangelista, e pela relevância da Feira de que é patrono.

É particularmente identificado com o Hospital de Viseu, que tem o seu nome, mas sem que se questione essa atribuição, a que não terá sido alheio o reconhecimento da atuação de São Teotónio de visitar e dar apoio constante aos doentes, lembrando-os nas suas orações.

Celebrar o padroeiro da cidade e da diocese não se circunscreve ao simples cumprir do calendário, tem de ser muito mais do que a expressão de uma efeméride litúrgica. Deve ser um convite à participação de todos os que se identificam com a sua ação inspiradora, com os seus valores intemporais de humildade, caridade, fraternidade e humanidade e dos que estão empenhados na construção da Igreja de Viseu: sacerdotes, religiosos e leigos.

É uma oportunidade para revisitar as alusões mais significativas da sua biografia, da sua forma de ser e de estar no mundo, da sua ação no cuidar das pessoas, indo ao encontro das pessoas, abrindo a sua casa a todos, da sua missão evangelizadora, deixando sementes do amor de Deus no coração de todos, dos mais ricos aos mais pobres. Trazer à memória estas virtudes de São Teotónio é um convite à reflexão e ao acolhimento das mesmas, servindo de inspiração para o caminho de cada um por si e na relação com os outros.

Fazer a festa ao padroeiro é vivermos e participarmos do Seu caminho de santidade com alegria, em comunhão, no presente da Igreja.

Para além da celebração solene da Eucaristia na Catedral de Viseu, as comemorações do São Teotónio compreenderam este ano a apresentação de um livro na Igreja do Coração de Jesus, um concerto com o Coro Diocesano de São Teotónio e a Banda Filarmónica de Ribafeita, uma visita orientada tendo como referência as presenças iconográficas do Santo na Sé e a inauguração de uma obra de arte efémera, com as 14 Estações da Via-Sacra. Um programa diversificado, onde à oração se associou a cultura e a arte. Uma festa que podia ser vivida com mais alegria com uma participação mais alargada da comunidade.

Como fazer chegar esta força inspiradora às comunidades, aos mais jovens? Como comunicar o enquadramento e a actualidade dos seus ensinamentos, valores e virtudes na realidade presente? Como promover com maior assertividade o conhecimento e a estima da cidade e da diocese para com o seu padroeiro?

Maria de Fátima Eusébio
Diocese de Viseu

 

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Agência ECCLESIA

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