«Fratelli Tutti»: D. José Tolentino Mendonça destaca que o «mundo precisa de uma nova visão»

Cardeal português participou num diálogo online sobre encíclica do Papa, promovido pela Universidade Católica

Lisboa, 09 dez 2020 (Ecclesia) – O cardeal D. José Tolentino Mendonça, bibliotecário e arquivista do Vaticano, afirmou hoje que o “mundo precisa de uma nova visão”, falando num debate online sobre a nova encíclica do Papa, ‘Fratelli Tutti’, promovido pela Universidade Católica Portuguesa.

“Esta encíclica é nova por que nós vivemos também tempos novos. Não é por acaso que o Papa situa a gestação desta encíclica no contexto desta pandemia. A pandemia não é só um acidente de percurso, é uma aceleração do futuro e vem de encontro àquilo que o Papa tem referido que é, nós não vivemos apenas num tempo com mudanças, nós vivemos numa mudança de tempo, vivemos numa mudança de época”, disse.

D. José Tolentino Mendonça assinalou que se está a entrar numa época nova, “como se a modernidade precisasse de fazer contas consigo própria”.

Segundo o cardeal madeirense, o Papa Francisco considera “insustentável” viver em sociedades livres e igualitárias se não se aceitar “viver em sociedade fraternas”.

“Um mundo onde o sonho de liberdade e de igualdade é feito em pedaços. Um mundo onde nos sentimos a voltar para trás, onde alguns fantasmas, algumas ameaças à liberdade, à dignidade da pessoa humana, ao reconhecimento da igualdade fundamental, coisas que julgávamos adquiridas nas nossas sociedades, hoje voltam a ser postas em questão”, advertiu.

Neste contexto, o colaborador do Papaobservou ainda que as sociedades, “em grande medida liberais”, de certa forma, “desistiram de construir um projeto social para todos” e aceitam-se “desigualdades, assimetrias, que há nações de primeira e nações de segunda, que há países descartáveis”.

D. José Tolentino considerou a encíclica ‘Fratelli Tutti’ como uma “carta de cidadania aos habitantes da terra, aos moradores, aos locatários do planeta,” que são todas as pessoas e que precisam “de uma nova visão”.

O Papa em alguns momentos diz que precisamos de um sonho. Há na nossa geração deficit de sonho, de capacidade de sonhar, e precisamos juntos de forma polifónica, universal, construir a visão de um mundo mais justo, mais fraterno, onde a amizade social e vontade de entrar em diálogo seja uma realidade”.

A Universidade Católica Portuguesa convidou para este diálogo sobre a ‘Fratelli Tutti’ a reitora do ISCTE, Maria de Lourdes Rodrigues, que começou por afirmar que o Papa se “arrisca a ser o principal líder político desta geração, destes tempos modernos”, destacando algumas frases da encíclica “eminentemente políticas”, que a “impressionaram”.

Para a ex-ministra da Educação (2005-2009), Francisco tem uma “voz de liderança política” que não se ouve nas Nações Unidas, na União Europeia e nos principais países do mundo ocidental, “uma voz que ultrapassa todos estes patamares”.

Maria de Lourdes Rodrigues destacou, por exemplo, a “clareza moral absolutamente invulgar” de Francisco, a “denúncia corajosa, sem medo de designar os problemas pelos seus males”, propondo “orientação programática para a fraternidade”.

Numa nota final, a reitora do ISCTE destacou a “importância dos discursos e da intervenção” e que Francisco “percebe muito bem a importância da palavra e dos discursos, revela consciência da importância dos discursos políticos mas também a responsabilidade de quem usa a palavra”.

“O Papa tem muita consciência do poder da palavra nesta mobilização para induzir uma mudança; É apelo a todos que não descartemos das nossas responsabilidades”, observou.

A sessão foi realizada pela aplicação Zoom, e transmitida na página da UCP na rede social Facebook, e os intervenientes foram questionados sobre como aplicar a encíclica no dia-a-dia.

No início da sessão, a reitora da UCP salientou que o novo documento “interpela de forma muito acutilante a pensar, a dialogar, e a tomar posição sobre as grandes questões com que se debate a humanidade”.

“Um tema central para a proposta cristã que é a relação com o outro, que é também o nosso próximo”, disse Isabel Capeloa Gil.

Este foi o segundo debate que a Universidade Católica Portuguesa promoveu, através dos meios digitais, sobre a encíclica do Papa ‘Fratelli Tutti’; no primeiro foram convidados a professora Joana Silva, da Católica Lisbon School of Business and Economics, e o provincial dos Jesuítas em Portugal, padre Miguel Almeida, a 11 de novembro.

CB/OC

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