«Zoom in»: Santarém, «obra de arte total» (c/vídeo)

https://youtu.be/kHAqlCQmap8

“Capela dourada” de Santarém

A Capela dos Terceiros de São Francisco, vulgarmente designada por Capela Dourada, é um pequeno edifício anexo à Igreja do Convento de Nossa Senhora de Jesus do Sítio (Monumento Nacional), sede da Venerável Ordem Terceira de Franciscanos Seculares, fundada em 1666.

Nas mesmas décadas em que a Vila de Santarém via edificar o grande Colégio da Companhia de Jesus (atual Sé) e a Igreja de Nossa Senhora da Piedade (por reconhecimento da intercessão milagrosa que permitiu a vitória portuguesa na batalha do Ameixial, em 1663), esta pequena capela franciscana ousou destacar-se no panorama artístico, provavelmente para afirmar a nova fraternidade de Irmãos da Penitência que nascera em rutura com uma outra que existia na Vila, sob jurisdição dos religiosos do Convento de São Francisco.

Fruto do significativo número de irmãos professos – entre os quais: Tristão Nunes Infante, D. Rodrigo Telles de Menezes (Conde de Unhão), Manuel de Saldanha Sande e D. Diogo Fernandes de Almeida (Alcaide-mor da Vila de Santarém) – e de consideráveis esmolas por estes concedidas, o interior desta capela reuniu um notável programa decorativo, composto por azulejos, pinturas sobre tela, talha e escultura dourada e policromada, tornando-se o único sobrevivente e mais emblemático exemplo de “obra de arte total” em Santarém.

Para além da composição artística do interior, que contrasta com a simplicidade arquitetónica do exterior, o conjunto de obras de arte em presença funciona como uma perfeita catequese franciscana, que se constrói a partir de duas linhas de apresentação. No primeiro nível, um belíssimo silhar de azulejos, produzido em 1717, da autoria do lisboeta Manuel de Oliveira Bernardes. Nele se apresentam, como não podia deixar de ser, vários episódios da vida do Poverello de Assis, com particular destaque para a Estigmatização no Monte Alverne, momentos de provação vividos por São Francisco e ainda a entrega da Regra à Família Franciscana. Em painéis de menores dimensões observam-se alegorias à caridade, obediência, paciência e oração.

No nível superior encontra-se um ciclo pictórico constituído por catorze pinturas sobre tela do final do século XVII emolduradas por largas estruturas de madeira entalhada, dourada e policromada. Aqui se apresenta o incontornável testemunho de vários Terceiros Franciscanos, recordando que as suas virtudes e caminhos de santidade estão acessíveis a todos os que vivam o Evangelho ao exemplo do fundador. São eles: Beato Amadeu e Beato Leão, Santa Isabel de Portugal, Santa Isabel da Hungria, Beato Jácome de Laud, Santo Elziro e Santa Delfina, Beato Gualtero, Bispo de Treviso; São Fernando, Rei de Castela; Santa Ângela de Fulgino; Beata Michelina; São Luís IX, Rei de França; Beato Bartholo de São Geminiano; Santa Clara de Monte Falco. Completa o ciclo a representação de São Francisco de Assis entregando a Regra ao casal Luquésio e Bonadona (os Bem Casados), primeiros irmãos terceiros.

Rasgam a composição dos dois ciclos, azulejar e pictórico, cinco portas e cinco arcos de volta perfeita, e nestes se inscrevem 3 retábulos em talha Estilo Nacional, destacando-se no principal uma escultura de Cristo crucificado enquadrada por painel representando a cidade de Jerusalém. Nos dois retábulos laterais, também em talha dourada e policromada, podem ser observadas: a escultura de São Francisco da Assis, do lado da Epístola e, do lado oposto, uma imagem de vestir invocando Nossa Senhora.

A Capela Dourada foi adaptada a casa mortuária do Hospital de Jesus Cristo, estrutura que funcionou no complexo desde 1836 até 1985. Posteriormente, foi alvo de reabilitação estrutural e das coberturas, até que nos anos 2020 e 2021 pode receber uma significativa campanha de conservação e restauro – promovida pela Santa Casa da Misericórdia de Santarém e financiada pelo Fundo Rainha D. Leonor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa em parceira com a União das Misericórdias Portuguesas-, a qual permitiu devolver, ao conjunto patrimonial, a dignidade e fruição que há muito reclamava.

Os trabalhos foram inaugurados no dia 31 de maio de 2021, e a Capela está acessível através da visita à Igreja de Jesus Cristo.

Fachada da Igreja de Jesus Cristo onde se observa, anexa lateralmente, a Capela Dourada.

 

Falcoaria Real de Salvaterra de Magos

A construção do edifício da Falcoaria Real de Salvaterra de Magos data do século XVIII. De arquitetura pombalina contou com orientações do arquiteto Carlos Mardel e apresenta influências das falcoarias holandesas de Setecentos, constituindo um exemplar único na Península Ibérica.

Considerada a mais nobre das artes cinegéticas, a falcoaria foi apanágio de imperadores, reis e príncipes de todo o mundo. A história da Real Falcoaria de Salvaterra está intimamente associada à história do Paço Real – Casa de Campo da Coroa – que, com o passar do tempo, transformou a nobre vila ribatejana num importante centro da vida social e artística da corte portuguesa. O período de maior ascensão da Falcoaria dá-se em 1752 com a chegada de uma dezena de falcoeiros holandeses de Valkenswaard, para ensinar esta arte.

A caça foi desde sempre um dos passatempos prediletos da Família Real Portuguesa, facto que se reflete no seu calendário cinegético que tinha uma duração aproximada de 8 a 9 meses por ano. Neste calendário, as “jornadas de caça” em Salvaterra assumiam particular importância, decorrendo nos meses de inverno, habitualmente entre novembro e fevereiro.

A proximidade com Lisboa e com o Rio Tejo, as excelentes coutadas de caça faziam com que em Salvaterra se reunissem as melhores condições para que a corte apreciasse em pleno uma das suas atividades favoritas: a caça. Motivos suficientes para que, no século XVIII, se construísse nesta vila a Falcoaria Real Portuguesa.

A saída da Família Real para o Brasil, devido às invasões francesas, foi considerada como ponto de partida para a sua degradação e decadência. Com a República, grande parte dos bens da Coroa foram vendidos em hasta pública, fazendo com que a Falcoaria perdesse as suas funções de origem.

O processo de recuperação e valorização da Falcoaria Real começou há mais de 60 anos, quando este edifício é classificado, em 1953, como Imóvel de Interesse público (Decreto n.º 39 175, DG, I Série, n.º 77, de 17-04-1953), obrigando a que a sua traça arquitetónica fosse mantida. Na década de 1980, a Câmara Municipal de Salvaterra de Magos consegue comprar o edifício ao seu último proprietário privado, o Conde Monte Real, e no ano de 2009 volta a abrir as suas portas, completamente recuperado.

Falcoeiros de Setecentos, que se fixaram em Salvaterra de magos, vindos de Valkenswaard – Holanda, para garantir o bom funcionamento desta falcoaria, utilizaram aves com características distintas, que lhes permitia a caça de diferentes espécies, possível através do alto e baixo-voo. São algumas dessas espécies, que hoje residem permanentemente na Falcoaria Real, outrora utilizadas pelos monarcas portugueses nas suas pomposas caçadas reais.

O visitante pode inteirar-se um pouco mais sobre o quotidiano destas aves em cativeiro, onde se reúnem as condições ideais para o seu bem-estar, respeitando o o seu lado selvagem.

A Falcoaria segue as tendências das mais modernas exposições, possui várias peças multimédia que permitem, através da interatividade dos visitantes a exploração de novos conteúdos. Possibilita o visionamento de filmes sobre a biologia das aves, explorar galerias de pinturas e fotografias, jogos virtuais onde o visitante assume o papel de falcão que procura as aves de presas.

Durante a visita tem ainda a possibilidade de descobrir o mundo da Falcoaria desde o Neolítico até aos nossos dias, os motivos que conduziram ao aparecimento desta arte, bem como, a sua importância na Vila de Salvaterra de Magos, que desde sempre reuniu condições favoráveis para a realização de grandes caçadas.

Aguarde a hora de treino da sua ave favorita e assista à sua demonstração de voo em liberdade, onde as protagonistas mostram toda a sua perícia, na tentativa de capturar a “Falsa Presa” lançada pelos falcoeiros, responsáveis pela sua aprendizagem – adestramento.

(texto e fotos retirados do site www.falcoariareal.pt)

 

Salinas de Rio Maior

As Salinas encaixam-se num vale tifónico no sopé da Serra dos Candeeiros que, dada a sua natureza calcária, é possuidor de inúmeras falhas na rocha o que faz com que as águas da chuva não fiquem à superfície, formando cursos de água subterrâneos.

Uma dessas correntes atravessa uma extensa e profunda jazida de sal-gema que alimenta o poço que se encontra no centro das Salinas, e de onde se extrai água sete vezes mais salgada que a do mar.

Esta Jazida de sal-gema ocupa aproximadamente a área da Estremadura Portuguesa, entre Leiria e Torres Vedras, tendo-se formado há milhões de anos, depois do recuo do mar que outrora ocupou a região.

Rodeadas de arvoredo e terras de cultivo são consideradas uma maravilha da natureza, uma vez que o mar fica a 30 km.

O conjunto apresenta-se como uma minúscula aldeia de ruas de pedra e casas de madeira, junto à qual se destacam uns curiosos tanques de formas e dimensões irregulares, que a partir da Primavera se enchem de água salgada dando origem a alvas pirâmides de sal.

Classificadas como Imóvel de Interesse Público desde Dezembro de 1997, estas são as únicas Salinas interiores existentes em Portugal, e as únicas que se encontram em pleno funcionamento na Europa. A primeira referência à sua existência data de 1177, mas pensa-se que o aproveitamento do sal-gema já seria feito desde a Pré-história.

Embora inicialmente a água fosse retirada do poço através de duas picotas, o que exigia um esforço enorme dos salineiros, hoje em dia é retirada do poço através de uma moto-bomba e distribuída por oito tanques (concentradores), comunicantes entre si. Os concentradores têm capacidade para 1 milhão de litros de água. Aqui, esta sofre uma primeira evaporação. Depois de concentrada, volta à pia de distribuição que se encontra junto ao poço, sendo depois distribuída pelos talhos através das sete regueiras existentes.

O direito à água processa-se em função da proximidade do poço obedecendo a regras que nunca foram escritas e cujas origens se perdem no tempo.

A evaporação nos talhos dá-se entre três a seis dias, dependendo muito do calor que se fizer sentir. O sal é rapado com pás (antigamente com rodos de madeira) e posto na eira a secar durante 60 horas. Posteriormente é levado em carro-de-mão ou às costas, em sacas até à máquina que o transporta para a Cooperativa ou para os armazéns dos salineiros particulares.

O sal é moído, ou não, conforme a indústria a que se destina. Não levando qualquer tratamento químico, deve a sua pureza à acção do Sol e do Vento e ao trabalho do Salineiro.

Num passado recente, a maioria dos produtores de sal eram agricultores que se dedicavam sazonalmente – Maio e Setembro – à produção de sal, sendo os lucros obtidos divididos a meias entre o proprietário do talho e o marinheiro. Actualmente uma equipa contratada pela Cooperativa desenvolve a exploração e safra do sal da maioria das salinas.

Constituem assim um museu vivo onde os métodos de exploração pouco evoluíram ao longo dos seus 8 séculos de história, o que confere ao local a singularidade que o caracteriza. No entanto, as exigências da indústria moderna obrigam a um constante progresso e inovação das técnicas utilizadas pelos marinheiros. O desafio consiste na adaptação a uma economia competitiva e na conservação simultânea do tipicismo que distingue este património, que a todo o custo importa preservar.

Nesse sentido foi criada em 1979 a Cooperativa dos Produtores de Sal de Rio Maior, para responder às necessidades de aumento de produção e melhorias na sua comercialização. Este Sal puramente biológico é exportado para a Alemanha dada a sua elevada qualidade que se deve à referida ausência de quaisquer aditivos ou tratamentos químicos.

(texto retirado do site www.turismoriomaior.pt)

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