2020: Acontecimentos do ano vistos a partir do confinamento de uma família (c/vídeo)

«O trabalho conjunto movido pela fé, traz frutos», afirmam Ana e Emanuel Oliveira Soeiro, que desfiam memórias construídas com as filhas e dão tom de alegria e criatividade a meses marcados pela pandemia

Foto: Família Oliveira Soeiro, Natal 2019

Lisboa, 31 dez 2020 (Ecclesia) – O ano de 2020, marcado pela pandemia da Covid-19, que restringiu contactos e obrigou a novas rotinas, foi um tempo de crescimento para a família Oliveira Soeiro, que viveu unida os acontecimentos comuns aos portugueses.

Desafiados pela Agência ECCLESIA a olhar para o que foi o ano que agora termina, Ana e Emanuel Oliveira Soeiro, casados há 11 anos e com duas filhas Maria, com sete, e a Marta com cinco anos, testemunham que as tarefas realizadas em conjunto, mesmo num tempo de confinamento, deram lugar a maiores conversas e serão lugar de memórias.

“Os trabalhos manuais que fazemos em casa são trabalhos não só para ocupar o tempo, mas para crescer como família. Traz chatices, mas é um trabalho feito em conjunto que nos faz crescer”, explica Emanuel Oliveira Soeiro, freelancer a trabalhar na área da comunicação, ao descrever a cor e diversidade de objetos e trabalhos que pontuam a sua casa.

Pela casa estão espalhados, em fotografias e trabalhos, os muitos objetos criados pela família.

A quarentena gerou muito fruto em termos de trabalhos manuais. Foi uma forma de as cativar e de ir ao encontro das tarefas escolares. Uma vez por semana tentávamos tirar uma foto original, para trazer surpresa para que os dias fossem diferentes. Fomos preenchendo as paredes com os trabalhos e as miúdas gostam de ver” – Ana Oliveira Soeiro

Há um ano o casal decidiu rumar na passagem de ano a Nova Iorque, nos Estados Unidos da América, numa “celebração de 10 anos de matrimónio” como oportunidade para estarem “juntos” e “cimentar” a sua relação como família.

A 19 de março, confrontados com a declaração do estado de emergência que encerrou escolas e confinou em casa todas as famílias, Ana recorda, uma “situação inédita” e alguma “angústia”.

“A Maria tinha seis meses de escola primária, veio a saber ler felizmente, a Marta estava no jardim-de-infância. Pensar como íamos gerir os nossos trabalhos, foi uma mistura de emoções mas com o passar do tempo, soubemos lidar com tudo”, recorda da experiência inicial de passar mais de 50 dias no 3º andar do seu prédio em Lisboa.

O casal reconhece “preparação” das filhas para a situação que estavam a enfrentar – “a escola ajudou previamente, já sabiam que alguma coisa estava a acontecer” – e foi assim que, paulatinamente, e à medida de surgiam perguntas, os pais iam respondendo e, “à noite, rezando pelas pessoas que mais sofriam com a pandemia”.

A imagem do Papa Francisco, no dia 27 de março, a caminhar sozinho na Praça de São Pedro, no Vaticano, e a relembrar estarmos todos no mesmo barco, foi a chamada de atenção para “uma humanidade que estava próxima”.

“Felizmente tivemos, até ao momento, a sorte de não ter um caso muito próximo. A imagem do Papa trouxe uma mudança sobre o que é ser próximo. A humanidade, de uma forma nova, estava próxima. Isso foi uma imagem muito forte”, indica o pai da família.

Emanuel relembra também a imagem, no dia 25 de março, da consagração de Portugal e Espanha ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria, realizada no Santuário de Fátima.

“D. António Marto, muito emocionado… Estávamos todos a acompanhar a pandemia por números, e isso mexia muito, mas era mais o medo a tentar tomar conta de nós. As pessoas estavam a precisar de esperança, de perceber que há vida para além dos números, e que era importante ver a Igreja a apontar à esperança, apesar do sofrimento e da morte, apontava mais além”, recorda.

Habituado a fazer comentários de transmissões litúrgicas para a Rádio Renascença e para a RTP, Emanuel acompanhou as celebrações de Páscoa, numa “Sé, em Lisboa, vazia”, que mais tarde percebeu estar cheia.

A Maria e a Marta acompanharam a celebração com as velas do Batismo acesas, e foi uma forma bonita de acompanhar a celebração. A Sé estava vazia, mas houve muitas casas onde a Sé se tornou presente”, explica.

Também nessa noite, após a celebração da vigília pascal, no regresso a casa, Emanuel recorda uma “Lisboa deserta, sem ninguém nas ruas”, com exceção das equipas que entregavam alimentos às pessoas em situação de sem-abrigo.

“Foi um sinal de Páscoa. Aquele Cristo que tínhamos estado a celebrar na Sé, vivo, continua a ir ao encontro das pessoas que estavam a sofrer”, conta.

Ana Oliveira Soeiro nota que a falta de participação litúrgica semanal causou espanto entre as filhas, habituadas e entusiasmadas com essa rotina, mas que procuraram suprimir, envolvendo as meninas nas “transmissões que o pai faz regularmente”.

Este foi um tempo oportuno para desenvolver a catequese em família, regista a mãe.

“Houve mais trabalho espiritual de casa, mais dúvidas que a Maria ia colocando. Neste tempo houve um crescimento espiritual e conseguimos, penso, concretizar o que Deus traz às nossas vidas. Foi mais desafiante e recompensou”.

As idades são “tenrinhas”, assinala Emanuel, e a ajuda da escola foi essencial para as rotinas.

“A escola foi incansável em propostas para os pais fazerem em casa e foi um esforço brutal que foi pedido aos professores e às escolas. Houve uma comunidade grande, à qual nos sentimos pertença, que foi importante. As quatro paredes nunca foram restritivas”, explica.

As festas de aniversário, quer da mãe como das filhas, “geralmente celebradas com mais de 60 ou 70 pessoas”, este ano juntaram “mais pessoas” mas de forma digital.

“Estava um pouco triste pela situação, mas no final do dia foi surpreendente porque me senti muito acolhida por todos”, sublinha Ana Oliveira Soeiro.

As meninas, habituadas a celebrar os aniversários na escola, com bolo, entre amigos e com família, “perguntaram se para o próximo ano se pode fazer uma festa”.

“Há uma lista interminável de tarefas a realizar pós pandemia”, brinca Emanuel Oliveira Soeiro.

As férias foram ocasião para sentir “alguma normalidade”, uma vez que a família conseguiu manter a tradição de passar alguns dias em Porto Santo, num ambiente calmo e tranquilo.

O retomar a escola foi aguardado com alguma “ansiedade”, em especial pela Maria, que “tinha saudades dos amigos”, mas foi um início “tranquilo” e com normas “interiorizadas”.

Ana, a trabalhar num seguradora, regista a possibilidade de a conciliação da vida familiar e do teletrabalho poderem acrescentar qualidade e sustentabilidade às famílias.

“Nunca tinha tido uma experiência de teletrabalho, mas a seguradora foi incansável a disponibilizar tudo o que era necessário para correr bem. Equacionando o futuro, faz mais sentido, é mais sustentável. Na gestão do trabalho e na nossa rotina, facilitou”, reconhece Ana Oliveira Soeiro.

Em novembro, a Igreja em Portugal foi a Roma buscar os símbolos da Jornada Mundial da Juventude, que se vai realizar em Lisboa, em 2023, adiada um ano devido à pandemia.

Apesar de crianças, a Marta e a Maria, questionam porque “sentem que é uma novidade” e daí virão surpresas em que, à sua medida, poderão participar.

Emanuel sublinha a marca de “preparação para um evento dirigido a tantas pessoas diferentes, de tantos pontos do mundo”, que neste momento unem esforços para realizar uma obra que não é portuguesa, “mas para que Deus se torne presente na vida de muito mais gente”.

“O trabalho conjunto movido pela fé, traz frutos”, regista.

A conversa com a família Oliveira Soeiro pode ser acompanhada neste último dia do ano, no programa Ecclesia, às 15h00, na RTP2.

LS

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