Viseu: Homilia de D. António Luciano na Missa da Ceia do Senhor

Jesus senta-se à mesa com os Apóstolos para celebrar a Ceia Pascal, memória da Páscoa judaica e da libertação do povo de Israel da escravidão do Egito.

A Ceia do Senhor, convida-nos a entrar na celebração do Tríduo Pascal, marcados pelo amor fraterno, num gesto de serviço aos irmãos e de lava- pés aos pobres, partilhando o verdadeiro Pão da Vida, que sacia a nossa fome.

No mistério de Cristo, a natureza da Eucaristia está intimamente unida à natureza da Igreja: “A liturgia, pela qual, especialmente no sacrifício eucarístico, “se opera o fruto da nossa Redenção”, contribui em sumo grau para que os fiéis exprimam na vida e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja” (SC 2).

O Papa Francisco afirma: “A Eucaristia tem o lugar central na Igreja porque é a Eucaristia a “fazer a Igreja”. A Eucaristia constrói a Igreja e faz desta o Corpo de Cristo para a vida do mundo.

Jesus disse aos discípulos: “Dou-vos um mandamento novo para, que vos ameis uns aos outros como eu vos amei” (cf. Jo,15,17). Não há maior prova de amor do que dar a vida pelos amigos.

Jesus dá a vida amando a Igreja e servindo os irmãos. A caridade e a unidade expressas no serviço aos pobres são o distintivo da vida dos cristãos. Amar sem medida a Deus e ao próximo. Amar a todos, fazer-se “tudo para todos”, principalmente os que não são amados, os mais pobres, os doentes, os vulneráveis, os rejeitados e os excluídos da sociedade.

Jesus ama cada um de nós com um amor único e irrepetível e ensina-nos o verdadeiro caminho do amor, servindo o próximo e lavando os pés aos seus discípulos dá-nos o mais belo testemunho convidando-nos a tomar parte no banquete das Bodas do Cordeiro. A Liturgia da Palavra que escutámos ilumina o mistério da última Ceia do Senhor no contexto da Páscoa Judaica, da passagem da escravidão para o serviço libertador, a que Jesus dá um sentido novo e definitivo.

Jesus ao lavar os pés aos discípulos mostra o caminho novo do amor e do serviço e ensina a Igreja a fazer também o mesmo. Deixou-nos o exemplo para que façamos o mesmo nós também, aos nossos irmãos mais necessitados da sociedade.

A Igreja tem a missão de ensinar as pessoas a amar e a servir à maneira de Jesus Cristo, introduzindo-as na escola da Eucaristia para aprenderem com o mestre a dar a vida pelos seus irmãos.

A Igreja deve ser cada vez mais uma estalagem portadora do amor, de serviço, de escuta e de acolhimento à maneira do bom Samaritano, que cuida das feridas do homem caído à beira do caminho, nas mãos do salteador.

Aprendamos em cada dia a amar mais e melhor o nosso próximo e a sermos mestres no cuidado das suas feridas, ensinando os cristãos a servir as pessoas, a cuidar dos pobres, dos doentes e dos abandonados à imagem de Cristo, o bom Pastor e bom Samaritano da humanidade.

Os pobres precisam da nossa atenção e do nosso cuidado. Cuidemos deles com amor, compaixão e misericórdia, como nos ensinou Jesus. Diante do flagelo do aumento da pobreza no mundo, consequência de guerras, de violência, de injustiças, de terrorismo e de destruição de habitações e bens das pessoas, mostram cenários de morte, que causam dor e sofrimento a qualquer pessoa humana.

O gesto do lavar os pés por Jesus aos discípulos durante a última Ceia e narrado por São João no Evangelho, ensina-nos nesta Eucaristia Vespertina de quinta-Feira Santa, entender a grandeza do mandamento novo do amor e a recompensa que tem diante de Deus a disponibilidade para o serviço dos pobres. Jesus deu-nos o seu mandamento novo como testamento para servir os irmãos. Fazei vós o mesmo. Lavai os pés uns aos outros com humildade e servi com gratuidade os irmãos. Acolhei e servi os vossos irmãos e ajudai-os com caridade e simplicidade a libertarem-se do descarte e da marginalização que a própria sociedade lhes ofereceu.

Agradeço a Deus o dom do sacerdócio ministerial, rezemos por todos os sacerdotes, que nesta manhã de Quinta-Feira Santa, celebraram com alegria a Eucaristia do Jubileu da Ordenação Sacerdotal, dando graças a Jesus pelo dom recebido.

Estamos a viver um Ano dedicado à oração e em preparação para o Jubileu da Esperança 2025 em caminhada espiritual paro o Congresso Eucarístico Nacional, que se vai realizar em Braga de 31 de maio a 2 de junho próximo com o tema: “Partilhar o Pão, alimentar a Esperança. Reconheceram-no ao partir do pão (Lc 24,35).

Este tema é oportuno e cheio de desafios pastorais vividos na esperança da renovação do culto Eucarístico na nossa Diocese e na Igreja. Nesse sentido com a orientação do responsável do Apostolado da Oração e do Delegado aos Congressos Eucarísticos, iremos viver na nossa Diocese de Viseu um tempo forte de adoração, de Lausperene Pascal dinamizado em todos os Arciprestados para ser vivido em todas as comunidades paroquiais. O modo de prepararmos o 5º Congresso Eucarístico Nacional e o 53º Eucarístico Internacional em Quito de 8 a 15 de setembro de 2024 com o tema: “Fraternidade para curar o mundo” Todos vós sois irmãos (Mt 23,8).

O tema do “Partilhar o Pão” e da “Fraternidade para curar o mundo”, encontram em Jesus na Eucaristia a verdadeira fonte de graça e o remédio para curar as nossas enfermidades, matar a fome aos famintos e a sede aos sequiosos de justiça. Todos juntos, comungando do mesmo Pão, somos o povo sacerdotal, a viver a fé iluminado pela Santíssima Eucaristia, o Pão Vivo descido dos céus.

Nesta Quinta-Feira Santa fazemos memória agradecida ao Senhor, pelo dom do Sacerdócio de Cristo vivido pelos sacerdotes, ministros do culto e servidores do altar do Senhor, anunciando a sua morte, até que Ele venha.

Agradecemos a Jesus o dom da Instituição do Santíssimo Sacramento da Eucaristia na Ceia Pascal, que depois confiou aos Apóstolos e à Igreja com a missão de celebrar o “memorial da Sua Páscoa”.

São Paulo lembra-nos, que o Senhor Jesus na noite em que ia ser entregue tomou o pão e dando graças, partiu-o e deu-o aos seus discípulos dizendo: “Tomai e comei todos, isto é o meu Corpo que vai ser entregue por vós. Do mesmo modo depois da Ceia, tomou o cálix com vinho, abençoou-o e deu- o aos seus discípulos dizendo, tomai e bebei este é o cálix da Nova Aliança, que será entregue por vós, para remissão dos pecados. Fazei isto em memória de mim”.

Reunidos em redor da mesa Senhor, somos alimentados com o vosso Corpo e Sangue, concedei-nos por isso a graça de superar todas as formas de divisão, de ódio e de egoísmo unindo-nos em espírito fraterno, como verdadeiros filhos do Pai do Céu.

Alimentados pela Eucaristia procuremos juntos os caminhos da esperança, da fraternidade, da paz e perdão e para ajudarmos a curar as feridas do nosso mundo com a Santíssima Eucaristia.

Diante de Jesus presente na Santíssima Eucaristia, participemos no “Sagrado Banquete em que se recebe Cristo e se comemora a sua Paixão, em que a alma se enche de graça e nos é dado o penhor da futura glória”.

Saibamos pedir a Jesus o aumento das vocações de consagração, sacerdotais, para o diaconado permanente e para os ministérios laicais instituídos.

Peço um especial cuidado no arranjo das nossas Igrejas, no respeito por Jesus nos Sacrários, na celebração da Eucaristia Dominical, na vivência dos Sacramentos, no exercício da caridade, na promoção do apostolado e no culto centrado na Eucaristia, “cume e fonte” de toda a vida espiritual da Igreja.

Perante um mundo mergulhado em guerras e divisões sociais, com o avanço das tecnologias olhemos para o nosso país tão fragilizado à procura de comunhão e unidade e estabilidade política e social.

Que no Pão repartido encontremos a abundância de dons capazes de saciar todas as fomes e sedes da humanidade.

Não fiquemos indiferentes nem alheados dos verdadeiros problemas nacionais e internacionais, mas à luz do mistério da Eucaristia, lutemos contra a fome e a pobreza, partilhemos o pão com os famintos em espírito de fraternidade e de solidariedade com todos os que têm fome.

A missão de distribuir o pão pelos os pobres e famintos em cada dia, coloca Jesus ao lado dos mais necessitados da sociedade, confiando à Igreja o trabalho para erradicar a pobreza do mundo. Peçamos a Nossa Senhora, a Mulher Eucarística a graça de distribuir na Igreja o pão de cada dia e a Eucaristia, verdadeiro alimento espiritual, que sacia a fome das multidões famintas.

Rezemos mais diante de Jesus Eucaristia pela paz no mundo, pelos jovens, pelas famílias e pelos pobres e como Igreja celebremos com fé o Senhor da Vida, deixando-nos transformar por Ele no Santíssimo Sacramento do altar.

Divulguemos a Oração para a preparação do 5º Congresso Eucarístico Nacional e rezemos:

“Bendito sejais, Senhor,

que nos saciais com os vossos dons sagrados e em cada domingo nos convidais a participar na celebração da Ceia do vosso Filho.

Ele que, como outrora aos discípulos de Emaús, nos explica o sentido da Escritura

e nos reparte o pão da vida.

Despertai em nós um desejo vivo da Eucaristia, e tornai alegre, consciente, ativa e frutuosa

a nossa presença na assembleia cristã,

onde Vos queremos louvar, bendizer e adorar. Deus eterno, Pai, Filho e Espírito Santo.

Fazei com que a preparação e a celebração do Quinto Congresso Eucarístico Nacional alimentem a nossa esperança

E levem a uma autêntica renovação espiritual das comunidades cristãs. Ámen!

Viseu, 28 de março de 2024

+ António Luciano dos Santos Costa, Bispo de Viseu

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