Vaticano: Papa pede Sínodo sem «ideologias nem polarizações»

Francisco destaca importância da escuta e do silêncio, para promover um «discernimento» comunitário

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 30 set 2023 (Ecclesia) – O Papa presidiu hoje no Vaticano à vigília ecuménica de oração ‘Together’ (juntos), pela próximo Sínodo dos Bispos, apelando a uma assembleia sem “ideologias” nem “polarizações”.

“Pedimos que o Sínodo seja um kairós [tempo oportuno] de fraternidade, um lugar onde o Espírito Santo purifique a Igreja de bisbilhotices, ideologias e polarizações”, disse Francisco, na homilia da cerimónia, que decorreu na Praça de São Pedro.

“Peçamos ao Espírito o dom da escuta para os participantes na o Sínodo: escutar Deus, até ouvir com Ele o clamor do povo; escutar as pessoas, até insuflar nelas a vontade à qual Deus nos chama”, acrescentou, citando o discurso que fez por ocasião da vigília de oração em preparação para o Sínodo sobre a Família, a 4 de outubro de 2014.

Perante responsáveis de várias comunidades cristãs e milhares de jovens, o Papa destacou a importância de estar “juntos”, unidos pela mesma fé, agradecendo a presença de todos e o empenho da comunidade ecuménica de Taizé na organização do encontro de oração.

“Obrigado pela vossa presença. Obrigado à Comunidade de Taizé por esta iniciativa”, declarou.

Francisco deixou uma mensagem particular aos jovens: “Obrigado por terem vindo rezar por nós e connosco, em Roma, perante a Assembleia Geral Ordinária dos o Sínodo dos Bispos, na véspera do retiro espiritual que o precede”.

“Caminhemos juntos, não só os católicos, mas todos os cristãos, todo o Povo dos batizados, todo o Povo de Deus”, apelou.

Foto: Ricardo Perna

A vigília de oração ecuménica decorreu na presença do patriarca ecuménico de Constantinopla (Igreja Ortodoxa), Bartolomeu, do arcebispo de Cantuária (Igreja Anglicana), Justin Welby, Anne Burghardt, primeira mulher a assumir o cargo de secretária-geral da Federação Luterana Mundial e outros responsáveis de Igrejas e comunidades cristãs.

A oração comunitária na Praça de São Pedro incluiu momentos de escuta da Palavra de Deus, louvor e intercessão, cânticos de Taizé e momentos de silêncio.

“O silêncio é importante, poderoso: pode expressar uma dor indescritível diante dos infortúnios, mas também, nos momentos de alegria, uma alegria que transcende as palavras. Por esta razão, gostaria de refletir brevemente convosco sobre a sua importância na vida do crente, na vida da Igreja e no caminho da unidade dos cristãos”, precisou o Papa.

A reflexão apontou várias dimensões do silêncio, num “mundo cheio de ruído”, para ouvir a voz de Deus e tornar possível “a comunicação fraterna”.

“Ser sinodal significa acolher-nos assim, na consciência de que todos temos algo para testemunhar e aprender”, sustentou Francisco, apontando à necessidade do “discernimento”.

O Papa falou ainda do papel do silêncio no “caminho da unidade dos cristãos”, como fundamento da oração.

“A unidade dos cristãos cresce no silêncio diante da cruz, tal como as sementes que receberemos e que representam os diversos dons concedidos pelo Espírito Santo às diversas tradições”, observou.

Ao caminharmos para o importante aniversário do grande Concílio de Niceia [325], pedimos que saibamos adorar unidos e em silêncio, como os Magos, o mistério de Deus feito homem, certos de que quanto mais próximos estamos de Cristo, mais unidos estaremos um com o outro”.

No momento das intercessões, Elijah Brown (Aliança Mundial Baptista) rezou por “todos os que sofrem com a violência e a guerra na Ucrânia, Afeganistão, Mianmar, Paquistão, Haiti, Nicarágua, Congo, Síria, Sudão, Etiópia e em muitos outros lugares do mundo”.

Os doze representantes das Igrejas cristãs presentes na celebração receberam sementes, como sinal das “sementes de união e sinodalidade”, para as plantar em casa.

A cerimónia desenvolveu-se em torno de quatro dons: “gratidão pelo dom da unidade e pelo caminho sinodal, pelo dom do outro, pelo dom da paz e pelo dom da Criação”.

O programa evoca ainda o ‘Tempo da Criação’, iniciativa de oração e ação ecuménica que decorre até 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis, com uma decoração especial da Praça de São Pedro.

No início da tarde de sábado, a Basílica de São João de Latrão, em Roma, acolheu uma oração de louvor e adoração, seguida de uma peregrinação a pé até ao Vaticano.

Os participantes estiveram reunidos em vários ateliês, para “ouvir refugiados, falar sobre suas experiências, aprender com outras crenças e religiões, visitar o trabalho das missões da cidade com pessoas marginalizadas, reconhecer Cristo na diversidade das tradições, participar em mesas redondas ecuménicas, prestar mais atenção à Criação”.

Cerca de 4 mil jovens de 50 países, incluindo Portugal, e das várias tradições cristãs permanecem em Roma, até domingo à tarde, sendo alojados pelas paróquias locais.

A primeira sessão XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, sobre o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão’, vai decorrer de 4 a 29 de outubro de 2023.

Parceria Consistório e Sínodo/OC

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