Vaticano: Papa faz elogio da «inquietação» e diz que a fé é «uma história de partidas e recomeços»

Homilia em Dia de Reis alerta para «falsos ídolos» do prestígio e do poder

Foto: Lusa/EPA

Cidade do Vaticano, 06 jan 2023 (Ecclesia) – O Papa presidiu hoje no Vaticano à Missa da solenidade da Epifania, conhecida popularmente como “Dia de Reis”, em Portugal, deixando um elogio à “inquietação” e à “peregrinação” do coração humano.

“A primeira coisa que vemos nos Magos é esta: a inquietação de quem se interroga. Habitados por uma profunda nostalgia do infinito, perscrutam o céu e deixam-se maravilhar pelo fulgor duma estrela, representando assim a tensão para o transcendente que anima o caminho das civilizações e a busca incessante do nosso coração”, declarou, na homilia da celebração a que presidiu na Basílica de São Pedro.

“A fé é um caminho, uma peregrinação, uma história de partidas e recomeços”, acrescentou.

Francisco evocou o exemplo dos três Magos que, segundo os Evangelhos, partiram do Oriente em peregrinação, ao encontro de Jesus, recém-nascido, citando a homilia de Bento XVI, na celebração deste dia, em 2013.

“O peregrinar exterior [dos Magos], disse Bento XVI, era expressão deste estar interiormente a caminho, da peregrinação interior do seu coração. Na realidade, os Magos não se detêm a olhar o céu e contemplar a luz da estrela, mas aventuram-se numa viagem arriscada que não prevê, à partida, estradas seguras nem mapas definidos”, assinalou.

O Papa sustentou que é “a inquietação que se interroga” é o ponto de partida para a vida da fé.

“A aventura fascinante destes sábios do Oriente ensina-nos que a fé não nasce dos nossos méritos nem de raciocínios teóricos, mas é dom de Deus. A sua graça ajuda-nos a despertar da apatia e a dar espaço às perguntas importantes da vida”, apontou.

O caminho da fé tem início quando, com a graça de Deus, damos espaço à inquietação que nos mantém acordados; quando nos deixamos interrogar, quando não nos contentamos com a tranquilidade dos nossos hábitos”.

Francisco sublinhou que o ser humano tem “perguntas irreprimíveis” sobre a felicidade, o amor, convidando todos a “habitar os espaços incómodos da vida” e a rejeitar o que denominou como “tranquilizantes da alma”.

“Desde os produtos do consumismo até às seduções do prazer, desde os debates elevados a espetáculo até à idolatria do bem-estar… tudo parece dizer-nos: não penses demais, deixa correr, goza a vida”, alertou.

Ao falar da “maravilha da adoração”, como os Magos diante do Menino Jesus, o Papa lançou uma nova advertência contra os “falsos ídolos” do “prestígio e do poder” e as “lógicas sedutoras, mas vazias, do mal”.

A homilia realçou a necessidade de assumir o “risco do caminho”, porque a “fé não cresce, se permanecer estática”, sustentando que “não basta qualquer ideia sobre Deus nem qualquer oração que acalme a consciência”.

Não podemos encerrar a fé em qualquer devoção pessoal, nem fechá-la dentro das paredes das igrejas, mas é preciso trazê-la para fora, vivê-la em caminho constante rumo a Deus e aos irmãos”.

A Epifania, palavra de origem grega que significa ‘brilho’ ou ‘manifestação’, celebra-se sempre a 6 de janeiro nos países em que é feriado civil; nos outros países, assinala-se no segundo domingo depois do Natal, como acontece em Portugal, este ano a 8 de janeiro.

“Irmãos, irmãs, não deixemos que se apague em nós a inquietação que se interroga; não interrompamos o nosso caminho cedendo à apatia ou à comodidade; e, encontrando o Senhor, rendamo-nos à maravilha da adoração”, apelou Francisco.

O Papa proferiu a homilia e  o cardeal filipino, D. Luis Antonio Tagle, prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, celebrou no altar, devido às limitações físicas de Francisco, que se sentou numa cadeira colocada lateralmente.

A Missa foi concelebrada por 50 cardeais, 40 bispos e 250 sacerdotes, segundo dados divulgados pelo Vaticano.

Já ao meio-dia de Roma, na recitação do ângelus, perante milhares de peregrinos reunidos na Praça de São Pedro, Francisco convidou os católicos a imitar o exemplo dos Magos, que souberam “discernir” os sinais de Deus.

“Humanamente todos somos inclinados a buscar a grandeza, mas é um dom saber encontrá-la verdadeiramente: saber encontrar a grandeza na pequenez que Deus tanto ama. Porque se encontra o Senhor assim: na humildade, no silêncio, na adoração, nos pequenos e nos pobres”, precisou.

Numa referência à tradição popular dos presentes dos Reis, o Papa falou em três dons espirituais: “O chamamento, o discernimento e a surpresa”.

“Que Nossa Senhora nos ajude a recordar e guardar os dons recebidos”, concluiu.

Francisco saudou ainda os membros da Infância Missionária, no seu dia.

OC

Notícia atualizada às 11h20

Na Missa deste dia, depois do Evangelho, anunciam-se as festas móveis do calendário litúrgico, segundo a fórmula indicada pelo Missal Romano: “Sabei, irmãos caríssimos, que, pela misericórdia de Deus, assim como nos alegramos com o Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, também vos anunciamos a alegria da Ressurreição de Jesus, nosso Salvador”.

Em particular, é anunciada a data da Páscoa deste ano (9 de abril) e as datas litúrgicas que lhe estão associadas, como as Cinzas, no início da Quaresma (22 de fevereiro), e o Pentecostes (28 de maio), além do primeiro domingo do Advento (3 de dezembro), tempo de preparação para o Natal.

 

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