Vaticano: Papa apela a «grande aliança espiritual e social», em mensagem para encontro internacional

Iniciativa dedicada à fraternidade humana reuniu vencedores do Nobel, jovens e artistas, promovendo abraço entre participantes da Ucrânia e da Rússia

Cidade do Vaticano, 10 jun 2023 (Ecclesia) – O Papa associou-se hoje, com uma mensagem, ao encontro internacional sobre a fraternidade humana, que decorreu na Praça de São Pedro, reunindo vencedores do Prémio Nobel, artistas e jovens de vários países, incluindo a Ucrânia e a Rússia.

“No nosso mundo dilacerado pela violência e a guerra, não bastam meros retoques e ajustamentos: só uma grande aliança espiritual e social, que nasça dos corações e se mova ao redor da fraternidade, pode fazer voltar ao centro das relações a sacralidade e a inviolabilidade da dignidade humana”, escreve Francisco.

A mensagem do Papa foi lida pelo vigário-geral para a Cidade do Vaticano, cardeal Mauro Gambetti, presidente da Fundação ‘Fratelli Tutti’.

“Embora não vos possa acolher pessoalmente, quero dar-vos as boas-vindas e agradecer cordialmente por terdes vindo. É com alegria que me uno a vós, para professar este desejo de fraternidade e paz em prol da vida do mundo”, refere Francisco, a convalescer de uma intervenção cirúrgica, no Hospital Agostino Gemelli, de Roma, desde a última quarta-feira.

O texto apresenta a fraternidade como “dinâmica fundamental” do ser humano, evocando o que o Papa escreveu na encíclica que dedicou este tema, ‘Fratelli Tutti’ (todos irmãos), em 2020.

“Ao regressar a casa, pensemos no gesto concreto de fraternidade que havemos de fazer: reconciliar-nos em família, com os amigos ou vizinhos, rezar por quem nos fez mal, identificar e socorrer quem passa necessidade, oferecer uma palavra de paz na escola, na universidade ou na vida social, ungir de proximidade alguém que se sinta só”, apela Francisco.

Nunca nos cansemos de gritar ‘não à guerra’, em nome de Deus ou em nome de todo o homem e mulher que aspiram à paz”.

O Papa mostra a convicção de que esta fraternidade pode mudar opções políticas e abrir caminho a uma “cultura de paz”.

“Quando os homens e as sociedades escolhem a fraternidade, muda também a política: a pessoa volta a prevalecer sobre o lucro, a casa onde todos moramos sobre o meio ambiente explorado em benefício próprio, o trabalho é pago com o justo salário, o acolhimento torna-se riqueza”, sustenta.

Entre presentes estavam José Ramos-Horta, presidente da República de Timor-Leste, Nobel da Paz em 1996; o ex-presidente polaco Lech Walesa, fundador e líder do sindicato Solidariedade, distinguido em 1983; Muhammad Yunus (Bangladesh), economista e Prémio Nobel da Paz 2006; Nadia Murad, ativista de direitos humanos dos Yazidi, distinguida em 2018, além de várias organizações ligadas às Nações Unidas.

O programa do Encontro Internacional sobre a Fraternidade Humana, intitulado ‘Not alone’ (#notalone), começou de manhã, com cinco grupos de trabalho, no Vaticano.

O segundo momento decorreu na Praça de São Pedro, com partilha de experiências, performances artísticas e debates, em ligação a oito locais no mundo: Brazzaville (República do Congo), Bangui (República Centro-Africana), Adis Abeba (Etiópia), Buenos Aires (Argentina), Nagasaki (Japão), Lima (Perú), Jerusalém (Israel) e o navio humanitário ‘Mare Jonio’, da organização não-governamental italiana Mediterranea Saving Humans, em Trapani, Itália.

Os participantes assinaram, simbolicamente, um ‘Apelo à Fraternidade Humana’, lido por Nadia Murad e Muhammad Yunus, apelando ao fim das armas nucleares e das minas antipessoais.

Queremos gritar ao mundo em nome da fraternidade: basta de guerra! São a paz, a justiça e a igualdade que guiam o destino de toda a humanidade. Não ao medo, à violência sexual e doméstica! Que os conflitos armados parem”.

Na conclusão do evento, os mais de 300 jovens deram vida ao “abraço da paz”, ao longo da Colunata de Bernini, dando as mãos, numa corrente que uniu um participante ucraniano e outro russo, “para expressar o desejo de paz de toda a humanidade”, segundo explicou o cardeal Gambetti.

Cada participante recebeu terra e sementes para plantar, como símbolo do compromisso de salvaguardar a fraternidade.

OC

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