Francisco assina prefácio de livro sobre «mulheres crucificadas», no qual recorda encontro de 2016 com vítimas de tráfico e exploração sexual
Cidade do Vaticano, 29 jul 2019 (Ecclesia) – O Papa Francisco denunciou a escravatura a que são sujeitas mulheres de todo o mundo, vítimas de tráfico e exploração sexual, no prefácio que assina para o livro “Mulheres crucificadas”, divulgado hoje na Itália.
“Libertar estas pobres escravas é um gesto de misericórdia e um dever para todos os seres humanos de boa vontade. O seu grito de dor não pode deixar indiferente nem os indivíduos nem as instituições”, refere o texto.
A obra ‘Mulheres crucificadas. A vergonha do tráfico relatada desde a rua’ é assinada pelo padre Aldo Buonaiuto, da Comunidade Papa João XXIII, fundada por Oreste Benzi.
Foi esta a comunidade que o Papa visitou numa das ‘Sextas-feiras da Misericórdia’, durante o último Jubileu, a 12 de agosto de 2016.
“Qualquer forma de prostituição é uma redução à escravatura, um ato criminoso, um vício repugnante que confunde o fazer amor com o descarregar os próprios instintos, torturando uma mulher indefesa”, escreve Francisco.
É uma ferida na consciência coletiva, um desvio ao imaginário corrente. É patológica a mentalidade segundo a qual uma mulher é explorada como se fosse uma mercadoria, que se usa e depois se deita fora. É uma doença da humanidade, uma maneira errada de pensar da sociedade”.
Evocando a passagem pela casa de acolhimento da Comunidade Papa João XXIII, na região metropolitana de Roma, Francisco confessa: “Não pensei que lá dentro iria encontrar mulheres tão humilhadas, debilitadas, exaustas. Realmente mulheres crucificadas”.
Com o Papa estiveram jovens libertadas do tráfico da prostituição, oriundas da Roménia, Albânia, Nigéria, Tunísia, Itália ou Ucrânia.
“Respirei toda a dor, a injustiça e o efeito da subjugação. Uma oportunidade para reviver as feridas de Cristo. Depois de ter escutado as narrações comoventes e tão humanas destas pobres mulheres, algumas delas com o filho nos braços, senti um forte desejo, quase exigência, de lhes pedir perdão pelas autênticas torturas que tiveram de suportar por causa dos clientes, muitos dos quais se definiam cristãos”, escreve Francisco.
O Papa convida todos a pelo acolhimento das vítimas do tráfico da prostituição forçada e da violência.
“Uma pessoa nunca pode ser posta à venda”, sustenta, recordando o trabalho de quem ajuda as vítimas, sujeitos “aos perigos e às retaliações da criminalidade, que fez destas jovens uma inesgotável fonte de lucros ilícitos e vergonhosos”.
“Libertar estas pobres escravas é um gesto de misericórdia e um dever para todos os seres humanos de boa vontade. O seu grito de dor não pode deixar indiferente nem os indivíduos nem as instituições. Ninguém pode voltar as costas ou lavar as mãos do sangue inocente que é derramado nas estradas do mundo”, conclui o Papa.
OC