Uma revolução para lá da «cosmética»

Lisboa, 22 abr 2014 (Ecclesia) – A jornalista argentina Elisabetta Piqué, autora do livro ‘Francisco – Vida e Revolução’, afirmou hoje que as mudanças levadas a cabo pelo primeiro Papa sul-americano no primeiro ano de pontificado são mais do que uma operação de “cosmética”.

“Ele está a desmantelar um Vaticano que era uma espécie de corte imperial, fechado em si próprio, eurocêntrico. É um Papa que fala ao mundo”, disse à Agência ECCLESIA.

A jornalista e correspondente no Vaticano, que conhece Jorge Mario Bergolgio há mais de uma década, recolheu testemunhos e documentação inédita numa obra em que procura projetar as mudanças que o Papa argentino irá promover.

“É o primeiro Papa que se atreve, que tem a coragem de chamar-se Francisco, como o santo de Assis, filho de um mercador rico que se despoja de tudo” e simboliza “uma Igreja que tem de estar ao lado dos excluídos”, refere a autora.

Para Elisabetta Piqué, a popularidade explica-se pela sua “autenticidade” e a “coerência absoluta” entre o que faz agora e toda a sua vida, com um perfil “muito discreto”.

“É a voz dos excluídos”, sustenta.

A jornalista recorda que o ainda padre Jorge promovia acampamentos para os alunos do Colégio de que era reitor e para as crianças dos bairros em volta, relatando que foi assim que viu o mar pela primeira vez.

“Claro que ele não tirava férias nem participava nesses acampamentos que tinha ajudado a organizar”, sublinha.

Para a especialista, as “surpresas” do atual pontificado ainda não acabaram, admitindo que algumas pessoas se possam sentir “deslocadas” face às reformas que estão a ser levadas a cabo.

“Francisco chama a uma nova atitude, a uma vida simples, austera, mas é possível que alguns não o entendam”, afirma.

O contraste entre o atual Papa e a imagem generalizada de um Vaticano como um “ninho de víboras” levou o “imaginário coletivo” a projetar ameaças à própria vida de Francisco, que a jornalista desvaloriza.

“Desde o primeiro dia que a minha padeira, a senhora dos jornais dizem-se: ‘Ah, vão matá-lo’. É verdade que, para lá deste imaginário coletivo, ele tem um discurso que incomoda, fala contra as máfias, contra o tráfico de pessoas”, observa Elisabetta Piqué, para quem o Papa vai “continuar a expor-se”, porque acredita que é essa a sua maneira de viver a sua missão.

Francisco telefonou-lhe menos de 24 horas após a eleição pontifícia, a 13 de março de 2013, um exemplo do que a autora apresenta como o “escândalo da normalidade” de um homem de Igreja que privilegia o contacto direto.

“Muitos perguntam-me qual é a estratégia mediática do Papa, mas não há nenhuma, é ele próprio. Consegue comunicar, mesmo com as crianças, porque fala de forma simples”, conclui.

OC

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