Ucrânia: Vaticano explica razões que levam Papa a condenar guerra sem referência explícita a Putin

Jornal «Osservatore Romano» destaca importância de «não fechar a porta» a qualquer das partes, em resposta a críticos

Foto: Vatican Media

Cidade do Vaticano, 14 mar 2022 (Ecclesia) – O Vaticano respondeu hoje a críticas de alguns setores católicos que questionaram o Papa por condenar a guerra na Ucrânia sem uma referência explícita a Putin, presidente da Rússia.

“Francisco foi objeto de algumas críticas por parte dos que esperavam que, nas suas declarações públicas, ele mencionasse explicitamente Vladimir Putin e a Rússia, como se as palavras do pastor da Igreja universal tivessem de refletir os ditames de um programa noticioso de TV”, refere o editorial desta segunda-feira do jornal da Santa Sé, ‘L’Osservatore Romano’.

“Como isso não aconteceu, a voz do Papa não recebeu muita atenção, pois seus apelos não correspondiam ao clichê desejado de pontífice ‘capelão’ do Ocidente, pronto para alistar Deus e abençoar a guerra em seu nome”, acrescenta o texto.

Em 2006, por decisão de Bento XVI, o Papa deixou de usar o título de “Patriarca do Ocidente”.

O jornal do Vaticano cita as várias intervenções de Francisco, desde o início da invasão russa, a 24 de fevereiro, que o Papa considerou, este domingo, como uma “agressão armada inaceitável”.

A nota sublinha que Francisco foi pessoalmente à Embaixada da Federação Russa junto da Santa Sé, para apresentar “a sua preocupação com a guerra”, e no ângelus de 6 de março rejeitou a “hipocrisia do governo russo”, descartando que estivesse em causa uma “operação militar especial”.

O editorial dos media do Vaticano realça que, na história recente, “os pontífices nunca chamaram o agressor pelo nome, não por covardia ou excesso de prudência diplomática, mas para não fechar a porta, para deixar uma fresta aberta à possibilidade de deter o mal e salvar vidas humanas”.

“Se ele puder fazer algo a nível político e diplomático, será possível precisamente porque os líderes russos sabem que ele não é um mediador tendencioso, um agente camuflado do Ocidente, com o qual entraram numa rota de colisão apocalíptica”, pode ler-se.

O Papa, destaca a Santa Sé, “está sempre com os inocentes que sofrem como Jesus sofreu na cruz”.

“Cada palavra que diz, cada tentativa que faz, tem como objetivo salvar vidas humanas, não ceder à lógica do mal, combater o mal com o bem. No coração da Europa, nesta guerra suja que sentimos estar tão perto de nós, assim como nas periferias do mundo, onde nos últimos anos foram travadas guerras esquecidas e ainda estão a ser travadas, com a sua contagem diária de mortos, feridos e deslocados, semelhante à que estamos a ver agora na Ucrânia”, conclui o texto.

OC

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