Terra Santa: Padre João Lourenço fala em cenário «desolador» para quem vive «do turismo ou das peregrinações»

Sacerdote franciscano, que esteve duas vezes em Israel este ano, diz que compromissos políticos «raramente são duradouros»

Foto: Lusa/EPA

Lisboa, 13 dez 2024 (Ecclesia) – O padre João Lourenço, professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa, salienta, a partir da sua experiência na Terra Santa, que “os compromissos políticos assumidos não são muito credíveis”, e lamenta efeitos da guerra no turismo religioso.

“A experiência diz-me que os compromissos políticos assumidos na zona não são muito credíveis, não são fiáveis e raramente são duradouros. E isto é catastrófico para a região no seu todo, mas depois para aquilo que nós designamos a Terra Santa, principalmente os santuários cristãos, as viagens, as peregrinações, é desolador”, disse o sacerdote biblista, em entrevista à Agência ECCLESIA.

O padre João Lourenço, da Província Portuguesa da Ordem Franciscana (OFM), esteve em Israel duas vezes neste ano de 2024, “parte de abril e o mês todo de maio, e metade de setembro e metade de outubro”, e relata duas “situações um bocadinho diferentes”, a segunda estadia “foi um bocadinho agravada pelo clima mais hostil e mais de guerra na parte norte”, uma vez que em abril/maio “os acontecimentos passavam-se na faixa de Gaza”.

“Andei sempre bem dentro do espaço de Jerusalém, cidade antiga, cidade nova e arredores. Fui a Belém, participei em inúmeras coisas, nunca fui controlado. Até o acesso a Israel, que, às vezes, é um bocadinho meticuloso nas fronteiras, desta vez foi muito espontâneo, muito aberto, quase acolhedor. Entre setembro e outubro, vim três vezes ao aeroporto, nunca houve nenhum controlo”, exemplificou.

Em Jerusalém, realça o sacerdote, encontrou um ambiente “bastante melancólico, tristonho nas populações”, algumas vivem com medo, mas destaca “a falta de perspetiva em termos de futuro”, porque as pessoas encontram-se num túnel, “mas no fim não há luz, porque ninguém sabe por onde é, como é que vai sair”.

Segundo o padre João Lourenço, “há uma realidade nova”, que tem surgido nos últimos tempos, que são “alguns atentados de rua”, não são propriamente de guerra, mas acontecem “em checkpoints, em pontos de controlo no acesso a Jerusalém ou a outras cidades”, junto de ajuntamentos, onde existem forças militares ou forças policiais, às vezes, nas vias de comunicação.

O entrevistado, que foi comissário da Terra Santa em Portugal durante muitos anos, explicou que “não há grupos” que visitem Israel, mas “há muita gente que vive desta indústria do turismo ou das peregrinações”.

“A cidade de Belém vive fechada sobre ela própria e muita gente vive do turismo, principalmente artesãos que fabricam, quer em madeira, quer em madrepérola, os objetos que são comprados por estes grupos e têm a sua fonte dos proveitos bloqueados”, desenvolveu.

Na cidade antiga de Jerusalém, por exemplo, o que se vê são os negócios mais correntes, “da fruta, da roupa, dos sapatos”, mas na “quantidade enorme de lojas com objetos de caráter religioso, destinados aos peregrinos, não há ninguém”.

No Santo Sepulcro, realça o sacerdote franciscano, as confissões religiosas aproveitaram para “apressarem e melhorarem” com obras, atualmente está transformado “numa espécie de estaleiro”.

O entrevistado do Programa ECCLESIA, emitido esta sexta-feira na RTP2, comenta as leituras que vão ser escutadas nas Missas do III Domingo do Advento, tempo de preparação para o Natal no calendário católico.

PR/CB/OC

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Agência ECCLESIA

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