Taizé: Construir a cidade da paz e da dignidade humana

Reflexão sobre as cidades da Bíblia pode ser referência para a vida dos cristãos nas cidades contemporâneas

António Marujo, jornalista do religionline.blogspot.pt em serviço especial para a Agência ECCLESIA (o autor escreve segundo a anterior nota ortográfica)

Taizé, França, 25 ago 2015 (Ecclesia) – As cidades da Bíblia podem ser símbolos dos actuais paradoxos dos centros urbanos?

Maurizio Tira, professor universitário de Planeamento Urbano na Universidade de Brescia (Itália), cita os exemplos da cidade construída por Caim depois de ter matado o seu irmão, e da cidade do Apocalipse, a “nova Jerusalém”, para dizer que a cidade pode ser lugar de protecção, identificação e beleza, mas também de isolamento, anonimato e pobreza.

Num dos debates, em Taizé (Borgonha, França), no encontro Por uma Nova Solidariedade, que marcou as celebrações dos aniversários da comunidade, o académico italiano referiu a dimensão simbólica da cidade bíblica como referência para a presença cristã nas cidades.

“Devemos perguntar se é possível construir a cidade da paz e a cidade que promove a dignidade humana”, diz, em declarações à ECCLESIA, em Taizé, o professor de Planeamento Urbano.

Maurizio Tira recorda que, actualmente, a maioria das pessoas vive em cidades, mesmo pequenas; apesar de as cidades ocuparem apenas dois por cento da área do planeta, 70 por cento do lixo produzido tem origem nas mesmas.

A cidade é ainda um sítio de grandes desigualdades: “O planeamento urbano não preveniu o crescimento da pobreza e das desigualdades”.

Causas do crescimento das cidades são, entre outras, as migrações, a exploração das zonas rurais, as oportunidades de trabalho, as razões culturais, os serviços públicos, a organização económica ou financeira.

Quando se olha uma fotografia nocturna de satélite de um país como a Itália, observa, vê-se a mancha das cidades, significando que ali há pessoas, mas também quer dizer que há “tráfego, poluição, emissões de CO2”.

Na Bíblia, Caim constrói uma cidade depois de matar Abel, o seu irmão e depois de Deus lhe garantir que o protegerá: “E ele edificou uma cidade, e chamou o nome da cidade conforme o nome de seu filho Enoque”, lê-se no livro de Génesis (4, 17).

Os planeadores descendem de Caim, ironiza Maurizio: a primeira cidade bíblica surge, assim, como alternativa à vida nómada; nela pode estar-se anónimo e protegido contra os inimigos e os animais selvagens.

A última cidade bíblica, a nova Jerusalém, no livro do Apocalipse (capítulo 21) é, num certo contraste, um lugar de grande beleza, um lugar de utopia, de ouro puro.

Na cidade, podemos viver juntos, mas não viver como irmãos e irmãs, nota ainda Maurizio Tira.

Na linha do que se lê nesse texto do Apocalipse, a cidade pode ser o lugar da harmonia e da fraternidade.

O professor italiano cita ainda a encíclica Laudato Si’, do Papa Francisco, que aponta alguns dos paradoxos das cidades, mas que toma também a cidade como parte da ecologia integral proposta no documento.

O encontro Por uma Nova Solidariedade, que decorreu na semana de 9 a 16 de Agosto, foi uma das celebrações aniversárias da comunidade de Taizé durante este ano.

Na próxima semana, decorre na aldeia da Borgonha um colóquio cobre o contributo teológico do irmão Roger, o fundador da comunidade.

Roger Schutz tinha 25 anos quando chegou a Taizé pela primeira vez em 1940, fez no dia 20 de Agosto 75 anos; este ano passam também os 100 anos do nascimento do irmão Roger (12 de Maio de 1915) e os dez anos da sua morte (a 16 de Agosto de 2005).

A comunidade reúne actualmente uma centena de monges católicos e de diversas origens protestantes, numa experiência pioneira no cristianismo.

AM/OC

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