Sociedade: Viver «ao lado dos pobres, com os pobres e como os pobres» é a estratégia para acabar com o ciclo da pobreza (c/ vídeo)

Irmãs da Companhia de Santa Teresa de Jesus são «vizinhas entre vizinhos» e, mais do que «dar coisas», apostam no desenvolvimento comunitário

Lisboa, 17 nov 2023 (Ecclesia) – Júlia Barroso é uma das irmãs da Companhia de Santa Teresa de Jesus que vivem inserida num bairro social, em Lisboa, onde apostam num “trabalho lento” de desenvolvimento comunitário como “saída do ciclo da pobreza”.

“Um grupo de irmãs teresianas sentiram o chamamento para viverem ao lado dos pobres, com os pobres e, dentro do possível, como os pobres”, disse a irmã Júlia Barroso,  recordando a presença da congregação no Bairro Fonsecas e Calçada, em Lisboa, onde estão à 19 anos.

Para a religiosa, ajudar quem vive em situação de pobreza não deve consistir só em “dar coisas”, mas “trabalhar no desenvolvimento comunitário”, como acontece nos bairros onde são “vizinhas entre vizinhos”.

“A nossa atitude foi de estar e aprender com as pessoas e deixar que surgissem os pedidos e as próprias ideias, para surgirem projetos. E assim aconteceu”, afirmou.

Quando chegaram ao bairro, na freguesia de Alvalade e paróquia de São Tomás de Aquino, os habitantes quiseram expulsá-las, porque estavam a “ocupar uma casa”, mas depois “começaram a perceber a importância da presença” das irmãs.

Foto Agência ECCLESIA/PR, Bairro Fonsecas e Calçada

Júlia Barroso recorda que os vários grupos que estavam presentes no bairro atuavam, de início, “cada um por si” e surgiu a necessidade de os reunir e levar as instituições “não a dar respostas para responder a problemas”, num assistencialismo, mas promover a “consciência de criar autonomia”, tendo por objetivo a desnecessária presença de instituições no terreno.

“Moradores e instituições juntam-se para discutir e apresentar problemáticas e tentar juntos encontrar soluções. Foi um trabalho lento, não se consegue logo”, afirmou a religiosa, referindo que foi esse encontro entre habitantes e instituições que esteve na origem de Grupo Comunitário que atua no melhoramento do bairro.

A religiosa teresiana recorda que, com o envolvimento dos  moradores, foram realizadas ações de limpeza, de pintura, através de voluntariado, criando “um movimento” junto dos moradores dos vários prédios para cuidar de todos os espaços.

Para a irmã Júlia Barroso, o “grande desafio” é quebrar o ciclo da pobreza, que depende muito da formação e do combate ao abandono precoce escolar, o que motivou à criação do “projeto mais acariciado” no bairro onde habitam, o “Espaço Aberto”.

O “Espaço Aberto” acolhe 30 crianças diariamente, após o período escolar, para “fazer os seus trabalhos, estudar e desenvolver outras competências, ao nível das artes, da cultura”.

“É a esperança de uma saída da pobreza. Porque se nota muito a repetição do ciclo vicioso: os filhos repetem o dos pais e dos avós. A educação e a formação é que vai fazer sair do ciclo da pobreza”, sublinhou.

Através do Grupo Comunitário, as irmãs criaram também a “Feira Franca”, que vai ter a sua sexta edição no dia 16 de dezembro, onde os moradores vendem os seus produtos para subsidiar atividades comunitárias.

As irmãs da Companhia de Santa Teresa de Jesus habitam no Bairro Fonsecas e Calçada há 19 anos, já acompanharam o desenvolvimento do Bairro do Rego e estão a iniciar a sua presença num Bairro na região das Olaias, todos em Lisboa.

A entrevista à irmã Júlia Barroso é emitida esta sexta-feira no programa Ecclesia, na RTP2, pelas 15h00, no contexto do Dia Mundial dos Pobres, que se assinala este domingo.

PR

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