Sociedade: Portugal vive dia de luto por Gonçalo Ribeiro Telles, um «jardineiro de Deus»

Arquiteto paisagista é homenageado pelo seu compromisso ecológico, político e cívico

Foto: Agência Ecclesia

Lisboa, 12 nov 2020 (Ecclesia) – Portugal vive hoje um dia de luto nacional em memória e homenagem ao Gonçalo Ribeiro Telles, falecido esta quarta-feira, aos 98 anos de idade, que se destacou como figura pioneira na arquitetura paisagista.

Ambientalista, militante político e cívico, foi homenageado pela Fundação Calouste Gulbenkian e pelo Centro Nacional de Cultura, em dezembro de 2011, numa cerimónia em que o ensaísta Eduardo Lourenço lhe chamou “jardineiro de Deus”.

Nascido a 25 de maio de 1922, em Lisboa, Gonçalo Ribeiro Telles cresceu entre a capital e Coruche, terra natal do seu pai, que lhe deu uma visão rural do mundo.

O seu primeiro envolvimento público foi com a Ação Católica e em 1957 foi presidente da Juventude Agrária Católica (JAC), enquanto estudante de Agronomia.

Numa entrevista à Agência ECCLESIA, em 2013, a propósito do Dia Mundial do Ambiente, alertou para a “destruição significativa e violenta” do sistema natural em Portugal.

O galardoado com o prémio Sir Geoffrey Jellicoe não gostava muito de utilizar o termo ambiente e preferia falar em “eco-humano”, onde se “cria a casa do homem”, através da criatividade deste.

A paisagem “ressente-se” quando é submetida à “ambição” e ao materialismo do ser humano e afirmou que a árvore é “um elemento fundamental”.

Ribeiro Telles considerava que a cidade “concilia tudo” o que é “próprio e necessário” para a vida do homem, mas deve colocar nesta conciliação “um objetivo estético”.

Para o arquiteto, existe uma “luta permanente” e “desvios” do ser humano para com a paisagem que o rodeia, o que o leva a combater, através das suas intervenções, esses “aspetos especulativos”.

A “obra do homem” quando é realizada com os objetivos essenciais implica, necessariamente, “uma estética, funcionamento e criatividade”, disse.

O arquiteto paisagista sublinhou que o jardim é obra do homem e tem “não apenas uma função ambiental e estética”, mas uma “função sagrada”.

Gonçalo Ribeiro Telles apelava a uma harmonia entre o “campo e a cidade” e acrescenta que muitas paisagens de Portugal ainda contêm essas características: “Vale do Douro, charnecas e montados, socalcos das beiras”.

Em nota publicada pela Presidência da República, Marcelo Rebelo de Sousa evoca uma “figura determinante na consolidação e alternativa na democracia portuguesa, pioneiro em Portugal das grandes questões que hoje, mais do que nunca, se mostram decisivas.

“Homem de grande serenidade e de grandes convicções, é com emoção e saudade que me despeço de Gonçalo Ribeiro Telles, amigo de longa data, a cuja Família envio sentidas condolências”, escreve o chefe de Estado.

As exéquias do falecido arquiteto paisagista são celebradas hoje no Mosteiro dos Jerónimos.

LFS/OC

 

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