Sociedade: «Neste momento, o horizonte é a próxima frase do Twitter» – Américo Pereira

Professor de Filosofia da Universidade Católica Portuguesa comenta momento social e político

Lisboa, 31 jan 2017 (Ecclesia) – O professor de filosofia Américo Pereira afirmou que “não há respostas fáceis para as questões da humanidade”, numa análise ao atual momento social e político que tem como horizonte “a próxima frase do Twitter”.

“Não é possível construir-se o mundo num sentido cosmológico, que tenha sentido, vivendo de twitting ou então daquilo que o Facebook tem de negativo que é ser bastante mais face, que é imediato no mau sentido”, referiu o docente da Universidade Católica Portuguesa à Agência ECCLESIA.

O professor universitário explica que o problema não está no imediatismo mas “na falta de sabor” do imediato e exemplificou que há diferença entre comer fast food de pé, “como os animais numa manjedoura”, e saborear com o devido tempo e aproveitando bem “com as papilas todas da língua” a comida que pode ser a mesma.

“A vida tem de ser vivida com uma intensidade de sabor e de saber, que hoje em dia dificilmente conseguimos fazer”, acrescenta Américo Pereira, ressaltando que mesmo assim que é possível.

Segundo o entrevistado, o que se tem para viver é “este momento” sendo “fundamental” a forma como se vive embora haja o problema de uma certa modernidade que “optou por retirar o horizonte de finalidade às pessoas”.

O professor universitário assinala que as pessoas estão sempre a mudar e “um dos grandes problemas” que a humanidade “sempre se confrontou” foi não assumir a “realidade única do presente”, proposta por algumas correntes filosóficas muito antigas e em termos cristãos por Santo Agostinho.

A história é composta de mudança e “isso é bom” embora não se esteja a ser “educados para viver a mudança”, como também não há educação para as pessoas serem “resilientes que é muito diferente de ser resistentes”.

“Nós somos educados a ser resistentes e não propriamente resilientes”, frisa Américo Pereira para a troca de uma “capacidade elástica” e deu como exemplo a Ponte 25 de Abril que resiste a um tremor de terra, até determinada escala, porque não resiste mas adapta-se e “tem hipóteses de não cair”.

Para o filósofo “já foi perigoso” que as pessoas queiram trocar a liberdade por uma segurança que garanta a sua zona de conforto e “grande parte da história humana” está plena dessas cedências.

Neste contexto, explica que as pessoas “não estão”, propriamente, a “alienar liberdades que nunca tiveram verdadeiramente”, mas a ter consciência do medo em que “sempre viveram, que foi fomentado” e que agora “põem na praça pública”.

O docente indica que existem duas possibilidades, as pessoas partem “para a ação” ou ficam “cada vez mais passivas”.

Américo Pereira assinala que “sempre” existiram poderes com a intensão de reduzir a capacidade ética das pessoas, afinal, “os medíocres sempre triunfaram a partir da redução dos outros”.

Com a sua “extraordinária magnanimidade”, o Papa Francisco está no campo oposto sendo o “Papa da misericórdia” é um exemplo “notável” em termos de Igreja.

HM/CB

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