Sínodo: Relator-geral afasta ideia de «batalha» entre fações

Regulamento dos trabalhos sublinha caráter «reservado» e «confidencial» das intervenções dos participantes

Foto: Ricardo Perna

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano

Cidade do Vaticano, 04 out 2023 (Ecclesia) – O relator-geral da XVI Assembleia Geral do Sínodo rejeitou hoje a ideia de uma “batalha” entre fações, apelando a um “trabalho comum de discernimento”.

“Temos um texto para partir: o ‘Instrumentum laboris’. É fruto do processo sinodal que envolveu todo o Povo de Deus. O processo não está concluído; agora está confiado ao nosso discernimento. Não deveria ser uma batalha entre as posições A e B”, disse o cardeal Jean-Claude Hollerich, arcebispo do Luxembrugo, perante as centenas de participantes reunidos no Auditório Paulo VI.

A Conferência Episcopal Portuguesa está representada no Sínodo pelo seu presidente e vice-presidente, D. José Ornelas e D. Virgílio Antunes, respetivamente.

Os participantes estão sentados, em mesas redondas, nas quais acompanham o desenrolar dos trabalhos, tanta nas reuniões gerais como nos trabalhos de grupo linguísticos (círculos menores), incluindo um de língua portuguesa.

O relator-geral destacou que esta nova disposição, “invulgar”, evita apresentar uma “ordem hierárquica” para promover “a partilha genuína e o discernimento autêntico”.

“As mesas redondas também nos lembram que nenhum de nós é uma estrela neste Sínodo”, acrescentou o cardeal Hollerich.

O relator-geral desta assembleia do Sínodo afirmou que os participantes têm a missão de “aprender a gramática da sinodalidade”.

“Ao trabalharmos para cumprir esta tarefa, devemos sempre ter em mente que um Sínodo não é um Parlamento! No Parlamento, os políticos discutem o texto A proposto pela maioria. A oposição propõe então o texto B”, observou, repetindo os alertas deixados pelo Papa na Missa de abertura, que decorreu esta manhã na praça de São Pedro.

A primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos decorre até 29 de outubro, com o tema ‘Para uma Igreja sinodal: comunhão, participação, missão’; Francisco decidiu que a mesma terá uma segunda etapa, em 2024.

Os trabalhos vão desenvolver-se em volta de cinco pontos, sobre as quatro partes do ‘Instumentum Laboris’, e o debate conclusivo.

No final de cada módulo, após o trabalho em grupo e a discussão em plenário, cada um dos grupos linguísticos será chamado a elaborar um Relatório do trabalho realizado, “expressando o que há de acordo, mas também eventuais divergências ou dúvidas sobre o qual continuar a reflexão”, adiantou o arcebispo luxemburguês.

“A minha sincera esperança é que durante o trabalho deste mês possamos desenvolver um roteiro para o ano seguinte, que depois confiaremos ao Santo Padre. Idealmente, este roteiro deveria indicar onde sentimos que o consenso foi alcançado entre nós e, sobretudo, dentro do Povo de Deus, estabelecendo possíveis passos a seguir em resposta à voz do Espírito. Mas também deveria indicar onde é necessária uma reflexão mais profunda e o que poderia ajudar esse processo de reflexão”, acrescentou o cardeal Hollerich.

Já o cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo, saudou os participantes, após o discurso de abertura do Papa, admitindo que a Igreja se encontra “numa encruzilhada”.

“O desafio urgente, em rigor, não é de natureza teológica ou eclesiológica, mas como é que, neste momento da história, a Igreja se pode tornar sinal e instrumento do amor de Deus por cada homem e mulher”, declarou.

Para o colaborador do Papa, “o discernimento solicitado a esta assembleia não é um ato isolado do processo sinodal, mas está intimamente ligado à consulta do Povo de Deus nas Igrejas particulares e aos sucessivos momentos de discernimento nas Conferências Episcopais”.

O secretário-geral destacou a presença de dezenas de “leigos e leigas, religiosos e religiosas, diáconos e sacerdotes”, com direito a voto, “que já não são exceções à regra, mas membros titulares da Assembleia”.

“Estes irmãos e irmãos recordam-nos, com a sua própria presença, a unidade do processo sinodal: por isso a sua participação é plena, como membros efetivos da assembleia”, precisou.

O relatório de síntese desta primeira sessão tem de ser aprovado por uma maioria de dois terços, em escrutínio secreto, visando regular “a próxima fase do processo sinodal”, em outubro de 2024.

O regulamento desta assembleia sinodal foi divulgado hoje, com determinações que visam “garantir a liberdade de expressão de cada um e de todos sobre os seus pensamentos” e “garantir a serenidade do discernimento comum”.

“Cada um dos participantes é obrigado a manter reserva e confidencialidade, tanto no que diz respeito às próprias intervenções como no que diz respeito às intervenções de outros participantes. Este dever permanece em vigor mesmo depois de terminada a Assembleia Sinodal”, refere o documento.

Os participantes estão proibidos de “gravar, filmar ou divulgar intervenções”.

O Papa nomeou nove presidentes-delegados da Assembleia, incluindo duas mulheres: a consagrada japonesa Momoko Nishimura, membro do Grupo de Trabalho Sinodal da Federação das Conferências Episcopais da Ásia (FABC), e a religiosa mexicana Maria de los Dolores Palencia.

Estes delegados – entre eles D. Lúcio Andrice Muandula, bispo de Xai-Xai (Moçambique) – presidem aos trabalhos da Assembleia Sinodal “em nome e por autoridade” do Papa.

O encontro tem 365 votantes – 54 mulheres – a quem se somam, sem direito a voto, 12 representantes de outras igrejas e comunidades cristãs (delegados fraternos), oito convidados especiais e colaboradores da Secretaria-Geral do Sínodo.

Outras 57 pessoas, entre elas 20 mulheres, vão participar como peritos, à imagem do que acontecia no passado, ou “facilitadores”, ou seja, “pessoas especializadas cuja missão é facilitar os trabalhos nas diferentes fases”, sem direito a voto.

Parceria Consistório e Sínodo/OC

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Agência ECCLESIA

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